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Editorial

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Quarenta anos de trabalho Social com Idosos

O presente ano é muito especial para o SESC de São Paulo, pois há quatro décadas criava-se, em nossa entidade, o primeiro grupo de convivência de idosos do Brasil. Iniciativa pioneira, ela ocorreu numa época em que a velhice ainda não se apresentava como uma questão social capaz de suscitar grande interesse, seja da mídia, seja dos poderes públicos. Aos idosos de então, relativamente poucos, restava uma existência isolada junto à família - se tivessem a sorte de possuí-la - ou o recolhimento numa clínica ou asilo, distante da perspectiva de uma vida social mais plena.

Segundo dados da ONU contidos no documento “World Population Ageing 1950-2050”, nos anos 60 a expectativa média de vida do brasileiro situava-se em torno dos 56 anos de idade. Havia 4.450.000 maiores de 60 anos de idade, cerca de 5,5% da população geral. O Brasil era, de fato, um país de jovens. No entanto, neste início de milênio, a realidade do envelhecimento em nosso país mudou radicalmente. A expectativa média de vida saltou para 68 anos, num conjunto de 15 milhões de idosos, que perfazem 8,5% dos brasileiros.

Com o objetivo de promover a socialização através da formação de novas amizades, ao longo dos anos 60 e 70, foram criados diversos núcleos de Terceira Idade nos centros do SESC da Capital e do Interior. O sentimento de pertencer a um determinado grupo etário é importante em todos os momentos do ciclo vital. Assim como os adolescentes necessitam “encontrar sua turma”, também para os idosos é gratificante o convívio com pessoas que atravessam experiências típicas de sua geração.

No final dos anos 70, a criação das Escolas Abertas para a Terceira Idade do SESC respondeu à necessidade da atualização de conhecimentos, tão premente em um mundo caracterizado por rápidas transformações. Cursos, palestras, seminários, além das oficinas de música, teatro, dança e pintura, entre muitas outras, compõe uma variada programação cultural.

Já nos anos 80, os programas de preparação para a aposentadoria, também pioneiramente desenvolvidos pelo SESC/SP, inauguraram uma importante ação preventiva face aos males de uma velhice desprovida de projetos de vida. Inúmeras organizações consultam nossos técnicos para o planejamento e execução de atividades junto a seus empregados próximos da aposentadoria. 

Hoje, ao comemorarmos o 40º aniversário desse trabalho, contabilizamos aproximadamente 55.000 idosos matriculados em atividades distribuídas por 50 cidades do Estado de São Paulo. Trata-se de um esforço coroado de êxito, graças à sensibilidade do empresariado do comércio e serviços, que sustenta uma política de desenvolvimento cultural destinada ao público de nossa instituição.

Tais oportunidades de convívio e de aprendizado formaram entre as pessoas da Terceira Idade freqüentadoras de nosso programa, importantes lideranças que decisivamente influenciaram a fundação dos Conselhos Municipais e Estaduais do Idoso. Essa mobilização atingiu seu auge com a recente instalação do Conselho Nacional do Idoso, do qual fazemos parte e que constitui antiga aspiração de todos aqueles que lutam por melhores condições de vida para esse contingente populacional cada vez mais numeroso.

Dentre as várias atividades comemorativas dos 40 anos de Trabalho Social com Idosos, destacamos o Encontro Nacional de Idosos programado para o mês de setembro deste ano. Na ocasião, especialistas, representantes de governo e delegados dos muitos grupos de idosos que se espalham pelo Brasil, estarão debatendo políticas públicas e privadas voltadas para o setor.

Outro destaque deste ano festivo é a realização prevista para outubro de um seminário Internacional que lançará oficialmente o programa SESC Gerações. Há muitos anos o SESC/SP realiza cotidianamente atividades intergeracionais que visam atenuar os efeitos empobrecedores decorrentes do distanciamento entre as faixas etárias, fenômeno característico da vida moderna. Há muitos anos vimos desenvolvendo atividades intergeracionais e nossa experiência tem demonstrando que não só a aproximação é possível como também fecundos processos de co-educação de gerações. Consideramos ainda que o programa SESC Gerações vem culminar um processo de inclusão social do idoso que teve início com os grupos de convivência nos idos dos anos 60.

Nesta edição apresentamos a entrevista que nossa equipe realizou com José Mindlin, um apaixonado pelos livros e possuidor da maior biblioteca particular do Brasil. Aos quase 90 anos de idade, ele nos revela a modéstia dos sábios. Suas reflexões sobre política, economia, cultura, envelhecimento, religião entre tantos outros temas abordados, nos fornecem importantes lições de vida. José Mindlin é um exemplo vigoroso de como conservar a lucidez tanto para as coisas simples da vida como para a análise da complexa sociedade em que vivemos.

Danilo Santos de Miranda - Diretor Regional do SESC de São Paulo.