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Clima: catástrofe ou catastrofismo?

Geraldo Luís Saraiva Lino / Foto: Bruno Leite
Geraldo Luís Saraiva Lino / Foto: Bruno Leite

O geólogo Geraldo Luís Saraiva Lino, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é coeditor dos boletins eletrônicos “Resenha Estratégica” e “Alerta Científico e Ambiental” e membro do conselho editorial da Capax Dei. Fundador e diretor do movimento Solidariedade Ibero-Americana, é autor do livro A Fraude do Aquecimento Global e coautor das obras Máfia Verde 2: Ambientalismo, Novo Colonialismo e A Hora das Hidrovias – Estradas para o Futuro do Brasil.
Colaborador do jornal “Tribuna da Imprensa”, do Rio de Janeiro, fez mais de 150 palestras sobre temas ambientais, econômicos e políticos nacionais e internacionais.
A palestra de Geraldo Lino, com o tema “Catastrofismo Climático”, foi proferida em reunião do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Fecomercio, Sesc e Senac de São Paulo no dia 13 de junho de 2013.
Os gráficos e fotos mencionados na palestra de Geraldo Lino podem ser vistos na edição impressa da revista.

O objetivo desta palestra é mostrar como um fenômeno global foi convertido numa falsa emergência mundial. Mas antes de entrar no assunto, gostaria de expor brevemente minha experiência na questão ambiental. Integrei, no final dos anos 1980, uma das primeiras equipes de estudos ambientais no Brasil, trabalhando na época em estudos de impacto de projetos hidrelétricos na Amazônia, inclusive no inventário da bacia do rio Xingu, que incluía a hoje famosa usina hidrelétrica de Belo Monte, que se chamava Cararau. Já naquela época começou a ficar claro que havia algo mais por trás do movimento ambientalista internacional, além de uma mera preocupação ecológica. Investigar os bastidores dessa prática acabou se tornando quase uma obsessão, me desencantei com o processo e comecei a denunciar suas motivações reais. Uma das razões que me levou a isso foi me deparar em 1992 com a oposição maciça que se montou contra um extraordinário projeto de infraestrutura, o da hidrovia Paraguai-Paraná. Montou-se uma coalizão de ONGs brasileiras e internacionais, denominada Rios Vivos e capitaneada pelo Fundo Mundial para a Natureza, o famoso WWF [World Wide Fund for Nature], que investiu contra o projeto hidrelétrico com o argumento de que o desenvolvimento proporcionado por ele secaria o Pantanal.

Para encurtar a história, isso acabou se tornando uma atividade regular e com base nisso fundamos a editora Capax Dei e o Movimento de Solidariedade Ibero-Americana, uma espécie de ONG contra a corrente. A motivação era promover a integração da América do Sul, principalmente com projetos de infraestrutura, mas nos deparamos com um movimento ambientalista internacional e indigenista instrumentalizado.

Quero deixar claro o seguinte: não sou favorável à depredação ambiental e muito menos ao descaso com as comunidades indígenas, mas sim à maneira como esses temas estão sendo instrumentalizados de forma muito clara contra certos esforços de desenvolvimento de países como o Brasil, e a questão climática está na linha de frente desse processo. A pauta que proponho para nossa discussão, em primeiro lugar, é baixar a temperatura da questão referente às mudanças climáticas. A maneira como o assunto é colocado, exposto como uma catástrofe iminente, faz dele o número um na agenda política internacional, mas está muito longe de ser isso. Em segundo lugar, demonstrar que o catastrofismo climático não tem fundamento científico, desorienta e está promovendo uma lavagem cerebral, especialmente entre os jovens. É economicamente contraproducente e desvia as atenções dos problemas e das emergências reais.

Vejamos alguns fatos fundamentais sobre as mudanças climáticas. O mais importante deles é saber que, apesar de todo o sensacionalismo com que o assunto é tratado, o clima está sempre em mudança, pois esse é o estado natural do clima. Em toda a história geológica da Terra nunca houve nem haverá um clima estático. A própria expressão mudança climática é redundante, quase um pleonasmo. Hoje ela mais parece um palavrão, uma expressão alarmante. O clima, portanto, está sempre mudando. O problema é que a escala de mudanças é lenta, embora às vezes possa se tornar rápida, principalmente em relação à finitude e à limitação da vida humana. Esse é um dos motivos pelos quais o discurso alarmista conseguiu fincar raízes tão profundas.

Ciclos naturais

O clima está sempre mudando. Um registro das temperaturas na Ásia Central mostra que, nos últimos dois mil anos, houve vários períodos que foram tão quentes ou mais que o atual, outros, mais frios. Não há um padrão, a temperatura e todos os parâmetros climáticos estão sempre mudando, são ciclos que ocorrem há milhões de anos. No mar dos Sargaços, no Atlântico Norte, houve um período muito frio entre os séculos 17 e 19, denominado Pequena Idade do Gelo. Ocorreu também um período quente medieval mil anos atrás, quando os viquingues chegaram à América do Norte e descobriram a Groenlândia, cujo nome significa “terra verde”. Tivemos o período quente romano, bem como o minuano, mais quentes que o momento atual.

Matéria publicada em “O Estado de S. Paulo”, em 30 de junho de 1964, dizia exatamente isto: “A Terra caminha para a nova era glacial”. Hoje temos o sinal trocado. Há centenas de milhões de anos têm ocorrido temperaturas mais altas que as atuais, níveis do mar mais altos e mais baixos, níveis de dióxido de carbono [CO2] na atmosfera muito maiores e um pouquinho menores que os de hoje. Vivemos atualmente num dos dois períodos geológicos com menores concentrações de CO2.

Para os geólogos, a unidade de tempo padrão é de um milhão de anos. Falamos em milhões de anos como se estivéssemos nos referindo a meia hora. Para nós é muito fácil fazer essa avaliação de longo prazo, ao contrário do que ocorre com a maioria das pessoas. Um milhão de anos são quatro ordens de grandeza acima da duração da vida humana, mas a única forma de avaliar as mudanças do clima é em escala geológica. Não existe outra, com um mínimo de segurança, para tentar formular alguns prognósticos, não para fazer negócios. Fazer negócios é outra coisa, inclui toda essa indústria que chamo de “aquecimentícia”, que foi implantada na esteira do catastrofismo. Isso não tem nada a ver com ciência.

Dos últimos 600 milhões de anos, 90% transcorreram sob condições mais quentes que as atuais. Em compensação, no período quaternário, os últimos 2,5 milhões de anos que incluem o período de existência da humanidade, 90% deles se passaram sob condições glaciais. Não conhecemos condições glaciais, porque a civilização surgiu nos últimos 12 mil anos, um período quente, e não existe registro de civilizações anteriores. Então o ser humano sempre teve mais problemas com o frio do que com o calor. Na história da humanidade, somos a primeira geração alarmada por causa de alguns décimos de graus centígrados a mais nos termômetros, em 150 anos.

Há medidas indiretas sobre as concentrações de dióxido de carbono em períodos que se referem a 600 milhões de anos atrás. Observe-se, primeiro, que não existe uma correlação clara entre temperatura e nível de CO2. Segundo, as concentrações de CO2 já foram muito maiores que as atuais. Se alguém está preocupado com os 400 ppm [partes por milhão], é bom saber que já tivemos 7 mil, 6 mil, 5 mil. Isso não é novidade para o planeta. Nos últimos 800 mil anos entramos na era do gelo, porque 90% desse período se passou sob condições glaciais. Condições que representam uma temperatura média 8ºC menor que a atual. Pode parecer pouco, mas é muita coisa. Significa, entre outras coisas, uma boa parte do hemisfério norte coberta por uma placa de gelo de até quatro quilômetros de espessura, que vem até o paralelo 40º norte, a latitude de Nova York. Provavelmente tivemos oito períodos glaciais, nesses 800 mil anos, que duraram mais ou menos 90 mil anos, separados por oito períodos interglaciais mais quentes, que duraram entre 10 e 12 mil anos. Estamos em um desses períodos, que começou há 11,7 mil anos, portanto, se a duração média dos outros servir para alguma indicação, estamos nos aproximando do final de nosso período interglacial. Posso garantir que não vai ser injetando CO2 na atmosfera que vamos retardar ou impedir a volta do gelo.

Não quero trocar um catastrofismo por outro, mas não é difícil imaginar o mundo de hoje debaixo de uma era glacial. Os principais países produtores de grãos do planeta, Canadá, Estados Unidos, França, Ucrânia, Rússia, teriam boa parte do seu território debaixo de capas de gelo de alguns quilômetros de espessura. Países como o Brasil e a Argentina sofreriam com outro problema, a seca, porque num período glacial a atmosfera fica muito árida, já que a água está concentrada em forma de gelo. Haveria um sério problema alimentar para uma população de aproximadamente 10 bilhões de pessoas.

Os cientistas de uma base russa na Antártica perfuraram o gelo até chegar ao substrato rochoso, a mais ou menos 3,5 quilômetros de profundidade, e estudaram as bolhas de ar que ficaram aprisionadas quando a neve caía. Observe-se que os últimos quatro períodos glaciais, bem mais frios que hoje, e os períodos interglaciais anteriores foram todos mais quentes que o atual. Nos últimos 12 mil anos do Holoceno, que é o período de existência da civilização, as temperaturas já chegaram a ser 3 a 4ºC superiores às atuais e os níveis do mar atingiram três metros acima dos de hoje. Ou seja, não há novidade nenhuma em relação a esses fenômenos.

Sem fundamento

A conclusão a que podemos chegar é que, quando se comparam os padrões de temperatura e níveis do mar ocorridos desde a Revolução Industrial, no século 18, não se observa nenhuma anomalia em relação aos padrões anteriores, verificados no passado histórico e geológico. Ora, se não existe anomalia, como comprovar a ação humana na variação desses parâmetros? Essa é a pergunta que ninguém responde, ou melhor, responde com subterfúgios. Permitam-me ser enfático, mas é um desafio que faço: apresentem as evidências que demonstram tais anomalias.

Uma das coisas que sempre deixo bem clara é que catastrofismo climático não tem fundamento científico, não se baseia em evidências, ou seja, não segue os procedimentos consagrados pela prática científica dos últimos três séculos de revolução científica. Ele se baseia exclusivamente em projeções de modelos climáticos rodados em supercomputadores. Não existem evidências físicas que comprovem a influência humana no clima em escala global. O homem influencia o clima, sim, mas em escala urbana. Isso é conhecido há quase um século, é o chamado efeito das ilhas de calor. Em escala global, a tecnologia humana está muito longe ainda de interferir no clima. Aliás, é muito bom que aprendamos a influenciar, pelo menos em parte, o clima nos próximos séculos, pois nossos descendentes vão precisar disso.

O método científico consagrado exige correspondência entre conjeturas e evidências. Se uma hipótese, seja qual for, não se sustentar por evidências observadas no mundo real, comprovadas por outros cientistas, permanecerá como uma hipótese, ou seja, sem comprovação. Isso é o que acontece com o aquecimento global antropogênico, supostamente causado pelo homem. A hipótese é que as emissões de carbono, provenientes das atividades humanas – principalmente a queima de combustíveis fósseis, a partir da Revolução Industrial –, estariam influenciando a dinâmica climática global. Evidência: para que isso acontecesse, teríamos de observar anomalias nas taxas de variação de parâmetros que são influenciados pelo clima, por exemplo, a temperatura, evidentemente, e o nível do mar.

A ciência não é uma atividade democrática. Democracia funciona em assembleias de condomínio, em processo político, mas não em ciência. Ciência precisa de evidências. Conta-se que os nazistas, para desacreditar Albert Einstein, reuniram um grupo de cientistas para produzir um livreto chamado Cem Cientistas contra Einstein, refutando a teoria da relatividade. Quando o físico alemão foi informado da existência desse livreto, sua resposta passou para a história: “Cem? Se eu estivesse errado, bastaria um”. É exatamente isso. Ciência não pode ser resultado de uma assembleia.

Muitas distorções conceituais, portanto, têm acompanhado a questão das mudanças climáticas. Os críticos do catastrofismo climático são chamados depreciativamente de céticos, expressão que quase virou palavrão. Acontece que todo cientista que se preza tem de ser um cético permanente quanto ao conhecimento, porque este não é um processo acabado, mas em construção permanente, sempre em aberto. A turma do aquecimento global até já mudou o discurso, e agora os céticos passaram a ser negacionistas, para fazer uma ilação com os negadores do holocausto da Segunda Guerra Mundial.

Oito décimos

O último relatório do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática], de 2007, mostrou a evolução média da temperatura global de 1850 ao ano 2000, de mais ou menos 0,8 °C. Toda essa celeuma por causa de um aumento de 0,8 °C em 150 anos! Já passamos boa parte dos 12 mil anos com temperaturas mais altas que as atuais e a taxa de variação é muito mais importante do que os níveis do mar. Mais ou menos 12,9 mil anos atrás, quando a Terra estava saindo do último período glacial, ocorreu um súbito resfriamento, que os climatologistas chamam de Dryas Recente. Durou 1,3 mil anos e devolveu à Terra as condições glaciais anteriormente prevalecentes, 8 °C mais baixas que as anteriores. Essa queda ocorreu em mais ou menos 40 anos. Os cientistas até hoje estão em dúvida sobre o que causou esse resfriamento. Existem várias hipóteses, nenhuma delas conclusiva. O que se sabe é que durou 1,3 mil anos, ao fim dos quais a temperatura voltou a subir 8 °C em mais ou menos 60 anos.

Estamos preocupados com o nível do mar? Ele subiu 20 centímetros em 150 anos. Há 22 mil anos, quando o último período glacial atingiu o auge, o nível do mar estava 130 metros abaixo do atual. Isso é fácil de entender, porque grande parte da água estava congelada nos continentes. Ela começou a subir desde então, sendo que sua maior elevação ocorreu entre 18 mil e 6 mil anos atrás, ou seja, num período de 12 mil anos em que subiu 120 metros. Isso dá a média de um metro por século, com períodos mais rápidos e mais lentos, causando impacto visual de uma geração para a outra. Não é outro o motivo para que todos os povos que viviam às margens continentais tivessem lendas sobre o dilúvio universal. E não é porque choveu 40 dias e 40 noites, mas porque eles viam o mar subir de uma geração para outra e atribuíam isso a chuvas intensas.

Oscilações naturais

Comparemos a hipótese do aquecimento global antropogênico com o mundo real. Vimos que o cenário do IPCC desde o século 19 mostra uma média de aumento de temperatura de 0,8 °C, o que dá 0,53 °C por século, enquanto o nível do mar aumentou 14 centímetros por século. Tanto no advento daquele período frio chamado Dryas Recente como no seu final, as variações foram de mais ou menos 8 ºC em meio século. Isso dá uma alteração média de 16 ºC por século, e o nível do mar naquele período de 18 mil a 100 mil anos atrás tem uma variação de um metro por século: sete vezes maior que a observada do século 19 para cá. Ou seja, estamos falando de oscilações naturais que superam as variações observadas desde o século 19, em uma ordem de grandeza. A única conclusão possível é que, dentro desse quadro de oscilações naturais, não existe maneira científica de verificar uma impressão digital da ação humana. Faltam evidências físicas, observando o mundo real.

Outro motivo pelo qual sou um dos críticos do catastrofismo é quase uma questão pessoal: a lavagem cerebral que esse processo está fazendo principalmente nos jovens. Há um livro publicado pela Melhoramentos, chamado O Efeito Estufa, coleção SOS Planeta Terra. Todos os títulos são catastrofistas. O autor, Michael Bright, é produtor de programas científicos da BBC de Londres. Tenho pena dos espectadores de programas que ele faz. Na folha de rosto aparece uma fotografia de um arranha-céu, que deve ser de Nova York ou de Londres, coberto pela água até a altura do 30º andar. Passei uma tarde lendo esse livro e anotando as sandices: contei 45. Uma das barbaridades: “A elevação em alguns graus na temperatura da Terra poderia fazer muita diferença. Nas regiões Ártica e Ántártica a calota polar poderia começar a derreter”. Muito bem, esse é um dos alarmismos que cercam esse fenômeno. Primeiro, no Ártico não há calota polar, mas uma banquisa de gelo flutuante. Quando esse gelo derrete, não provoca a menor alteração no nível do mar. Qualquer um pode fazer essa experiência em casa, colocando um cubinho de gelo num copo com água até a borda e esperando o gelo derreter para ver se vai derramar; é óbvio que não. Na Antártica é diferente, há uma calota de gelo, só que se trata de um continente que tem uma temperatura média de -37 ºC. Para começar a derreter, precisaria de um aumento de temperatura de 37ºC, porque o ponto de fusão do gelo é 0 ºC. Na verdade, começa a derreter um pouco antes, mas, vamos lá, 35 ºC para arredondar. Não conheço fenômeno algum capaz de produzir um aumento da temperatura atmosférica de 35 ºC que não seja um cataclismo cósmico. Se isso acontecer, convenhamos, não vai sobrar muita gente para reclamar do aquecimento global ou da elevação do nível do mar.

Esta afirmação é uma das minhas favoritas: “Fora de controle. O excesso de CO2 na atmosfera pode deixar a Terra superaquecida e torná-la igual a Vênus”. E diz que a temperatura da atmosfera de Vênus de 480ºC dá para derreter chumbo. Ele sugere, então, que jogando gás carbônico na atmosfera podemos chegar a esse nível de temperatura. Qualquer pessoa que passou pelo ensino médio sabe que a temperatura da atmosfera de Vênus tem esse nível, não por causa do efeito estufa, mas pela pressão atmosférica, igual a 95 atmosferas.

Outro livro de ciências, este do 5º ano, diz: “Uma das consequências do aquecimento global é o derretimento de grandes geleiras, que pode levar ao aumento do nível dos mares. Por conta disso, a ilha de Marajó, no Estado do Pará, poderá perder até 30% do seu território, por exemplo”. São números absolutamente “chutados”. Se a calota de gelo na Antártica derreter por algum motivo, o nível do mar não vai subir três metros, como disse Al Gore, naquele documentário ridículo [Uma Verdade Inconveniente]. Vai subir 70 metros, só que para derreter a calota de gelo da Antártica precisaremos de um cataclismo cósmico ou de algo que tire a Antártica do lugar. Não vai ser o CO2 produzido pelo homem que irá derreter aquilo.

Outra preciosidade que saiu no “Globinho”, suplemento infantil de “O Globo”: “Groenlândia em alerta. Imagens de satélite mostram que a ilha do norte do planeta perdeu 97% de sua camada de gelo”. Essas imagens saíram em jornais do mundo inteiro, na primeira página, em 25 de julho de 2012. E os dados eram fornecidos pela Nasa, associada sempre ao suprassumo do conhecimento humano. Publicaram duas fotografias da Groenlândia, uma com gelo, de 8 de julho, e a outra, com a cor vermelha, que sugere calor, de quatro dias depois. Dá a impressão de que a Groenlândia ficou sem gelo da noite para o dia. Procurei então os jornais da Dinamarca e da própria Groenlândia para ver o que diziam sobre isso. Um deles, do dia 26 de julho, com as mesmas fotos, afirma o seguinte: “Sem motivo para preocupação ainda”. E o subtítulo acrescenta: “O novo gráfico da Nasa para cobertura de gelo, que está derretendo neste verão, não é tão dramática como parece”. Qualquer editor de jornal podia ter feito essa pesquisa. A reportagem inclui uma entrevista com uma geóloga local, dizendo que isso acontece todos os anos.

Na verdade, o catastrofismo climático está ficando meio desmoralizado. Costumo dizer que a bucha do balão já apagou, agora estão soprando de baixo para cima para ver se o mantêm no ar por mais algum tempo, porque há muito dinheiro envolvido nisso.

Custo alto

Outro motivo pelo qual o catastrofismo climático é contraproducente são os custos em que a economia mundial está incorrendo. O principal deles é a alta desnecessária das tarifas de energia, por causa de taxas verdes e de cotas de limitação de emissão de carbono. As cotas de emissão de carbono, que a União Europeia implementou para justificar seu mercado de carbono, só têm uma justificativa: encarecer as atividades e viabilizar o mercado de crédito de carbono. Sou muito crítico em relação a isso. As tecnologias de captura e sequestro de carbono, chamadas CCS, que estão querendo impor em uma série de atividades, principalmente agora na exploração do pré-sal, têm uma única utilidade: favorecer as empresas que fornecem equipamentos e serviços. Outra coisa: tirar carbono da atmosfera e injetar em camada geológica profunda é uma idiotice, porque o CO2 abaixo de mil metros de profundidade se torna hiperfluido e sai por qualquer frestinha na rocha. Significa enterrar dinheiro, literalmente, menos para quem estiver oferecendo os serviços.

As alternativas energéticas aos combustíveis fósseis, como a eólica e a solar, que são sempre decantadas, além de ineficientes só se justificam com subsídios pesadíssimos, que estão cobrando um ônus altíssimo, principalmente dos europeus. A indústria europeia está desesperada com os custos da energia, ainda mais agora que os Estados Unidos apareceram com a alternativa do gás de folhelho. O custo dos subsídios da União Europeia, segundo Benny Peiser, diretor da Fundação de Políticas de Aquecimento Global, uma ONG inglesa, chegou a € 600 bilhões nos últimos oito anos – subsídios pagos a investidores verdes, principalmente proprietários de terras e famílias muito ricas que colocam painéis solares em suas fazendas ou telhados. Esse dinheiro está sendo pago pelas famílias comuns e empresas de pequeno e médio porte aos membros privilegiados da sociedade europeia. Mas não são só esses representantes europeus que entraram nessa para ganhar algo a mais. Na Espanha, por exemplo, o governo convenceu muitos agricultores a deixar de produzir ou de criar gado para ocupar suas terras com painéis fotovoltaicos, para gerar eletricidade e jogar na rede, à custa de subsídios pesados. Agora, com a crise, o governo está retirando os subsídios e deixando na mão os investidores verdes, ex-produtores agropecuários.

Este é o mais sério problema do catastrofismo climático: ele desvia as atenções dos fatos e emergências reais. Não são só recursos econômicos, são recursos humanos, talentos e a criatividade de milhões de pessoas que estão sendo desperdiçados com uma questão inexistente, quando deveriam enfocar os problemas reais da humanidade. Vejamos alguns deles. O maior problema ambiental do planeta chama-se deficiência de saneamento básico. Menos da metade da humanidade em pleno século 21 tem acesso a esse serviço. Não é necessário uma tecnologia extragaláctica para construir uma rede de saneamento, basta decisão política. No Rio de Janeiro, onde haverá uma Olimpíada daqui a três anos, metade da cidade não tem esgoto tratado. Na Barra da Tijuca, zona nobre da cidade, o esgoto é lançado in natura no oceano Atlântico, na ponta de um interceptor de dois quilômetros de comprimento. Quando ocorre uma combinação desfavorável de maré e vento, aquela porcaria vem parar na praia. A Baía de Guanabara é uma cloaca a céu aberto, apesar de mais de US$ 1 bilhão que já foram gastos em programas de despoluição.

Vamos falar de sustentabilidade, mas sustentabilidade real, nas grandes cidades brasileiras. Primeiro, é preciso tratar de nossa rede de transporte urbano, que é baseada, infelizmente, em modal rodoviário. A solução para os congestionamentos semipermanentes são metrô e trem, mas trem decente. A Fundação Dom Cabral mostrou quanto custam os engarrafamentos em São Paulo e no Rio. São R$ 35 milhões por ano para São Paulo e R$ 16 milhões para o Rio. Com um terço disso dá para fazer uns três quilômetros de metrô por ano nas duas cidades. O metrô da Cidade do México começou a ser construído com o do Rio e o de São Paulo, mas já está inaugurando a 12ª linha e tem 210 quilômetros de extensão.

Outra questão é o lixo. No estado do Rio, 90% dele ainda é lançado em lixões, a forma mais primitiva que existe. Outro problema ambiental sério: a ocupação irregular de áreas de risco, várzeas de rios e encostas. Não precisamos de alta tecnologia para resolver esses problemas, basta um mínimo de planejamento e vontade. Mas estamos preocupados com o clima de 2050, desperdiçando trilhões e trilhões em todas as moedas do mundo com uma questão inexistente, enquanto os problemas reais vão ficando em segundo plano. A prefeitura do Rio de Janeiro tem uma subsecretaria de mudanças climáticas, isso é ridículo. É para dar emprego para meia dúzia de correligionários políticos.

No Ministério do Meio Ambiente existe o Fundo Clima, estabelecido com recursos de impostos a empresas de energia que usam carvão, para financiar projetos de redução de emissões de carbono. A dotação dos primeiros dois anos foi de R$ 600 milhões, a expectativa é de que no ano que vem chegue a R$ 1 bilhão. Listei dois dos projetos que foram contemplados com recursos desse fundo. Um deles: “Ações para a redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas através da conservação e utilização socioambientalmente sustentável das caatingas e da melhoria da eficiência energética na utilização da lenha”. Exatamente isso, lenha, um dos combustíveis mais primitivos conhecidos pelo homem. Então queremos combater o aquecimento global melhorando a eficiência do uso da lenha. Mais um: “Variações nas taxas de recrutamento e potencial reprodutivo de invertebrados do intermaré de costões rochosos, em resposta a alterações bruscas do nível do mar, guiadas por tempestades e impacto das ondas”. É uma proposta de trabalho científico, só que não devia estar contemplada num fundo de mudanças climáticas. Para isso caberia buscar verbas no CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], jamais em um fundo estabelecido para adequar a sociedade às mudanças climáticas.

Enquanto isso, mesmo na área de meteorologia e clima temos prioridades não atendidas. A maior de todas é que o Brasil, apesar de ocupar metade do território da América do Sul, não possui um satélite meteorológico próprio. A China e a Índia já têm, não me consta que a Índia seja um país mais rico e próspero que o Brasil. Nós dependemos de um satélite europeu e de um americano, ficamos com a rebarba do tempo de cobertura deles. Quando chega a temporada de furacões nos Estados Unidos, pegamos a rebarba da rebarba. Por essas e outras, o furacão Catarina, que ocorreu anos atrás, nos pegou de surpresa, só foi visto em cima da hora. Também temos poucos radares meteorológicos e os que temos não estão acoplados ao sistema de Defesa Civil, estão voltados para funções aeronáuticas. E poucas cidades têm radares para antecipar a chegada de chuvas intensas. A rede de estações meteorológicas do Brasil é inferior à recomendada pela Organização Meteorológica Mundial [OMM] para um território do tamanho do brasileiro. Temos dados desde o final do século 19, mas grande parte deles nem sequer foi digitalizada, o que dificulta muito o trabalho sério de pesquisa sobre climas passados do país.

Outra emergência: mais de 1,5 bilhão de habitantes do planeta não têm acesso à eletricidade, uma comodidade que já existe em operação comercial há mais de cem anos. Todo mundo sabe que a disponibilidade de eletricidade per capita é um dos principais indicadores de bem-estar em uma sociedade. A América Latina, a Ásia e a África vão ter de multiplicar pelo menos por três ou quatro seus índices de consumo de energia elétrica, se quiserem atingir níveis minimamente decentes de bem-estar, e isso não vai ocorrer com energia eólica nem solar. Esse é o grande x da questão energética: mais de 80% da energia primária gerada no planeta vem de gás natural, petróleo, carvão mineral e turfa, principalmente carvão mineral, e não de substitutos tecnológica e economicamente viáveis no curto prazo. Ou seja, a humanidade não vai poder, pelo menos nas próximas duas ou três décadas, dispensar os combustíveis fósseis. Qualquer proposta de limitar o uso deles hoje significa limitar o bem-estar da humanidade aos níveis atuais, extremamente desiguais e injustos. Mais ou menos dois terços da eletricidade gerada no planeta vêm de termelétricas a carvão mineral, petróleo e gás natural. O resto é dividido quase ao meio entre usinas hidrelétricas e nucleares, que também estão na alça de mira dos ambientalistas. Sobra pouco mais de 1% para as fontes eólicas, solares, geotérmicas, de biomassa etc.

E se vier o frio?

Com essa história de aquecimento, estamos jogando todos os ovos na mesma cesta. E se vier um resfriamento, como muitos cientistas, principalmente russos, estão prognosticando? Aliás, não são só os russos. Existe uma correspondência muito grande entre o clima, principalmente do hemisfério sul, e um fenômeno chamado Oscilação Decadal do Pacífico [ODP], que é uma variação cíclica da temperatura das águas do oceano Pacífico. Ele ocupa 35% da superfície terrestre e tem um impacto enorme no clima principalmente do hemisfério sul. Então observou-se o seguinte: a cada 25 ou 30 anos, a temperatura do oceano Pacífico aumenta ou diminui mais ou menos 1,5 ºC. Não se sabe o que causa esse fenômeno, apenas que ele existe, e observou-se uma coincidência muito grande entre os ciclos da ODP, o ciclo frio e o ciclo quente. Será mera coincidência? Não quer dizer necessariamente que um influencia o outro, mas ambos podem responder a uma mesma causa que ainda é desconhecida. O fato é que isso dá uma indicação de que há uma correspondência entre os ciclos de temperatura da superfície do oceano Pacífico e as temperaturas da atmosfera.

No Brasil, na última vez em que aconteceu um ciclo frio da ODP, entre 1947 e 1976, tivemos 10% a 39% menos chuva em várias regiões do país, problemas de abastecimento de água e de geração hidrelétrica. Isso na década de 1950, quando nossa base hidrelétrica era muito inferior à de hoje. Tivemos aumento de frequência de geadas intensas, a tal ponto que praticamente erradicaram o café no norte do Paraná. Imagine se isso voltar a acontecer, como muitos cientistas prognosticam, até a década de 2030. Estamos entrando numa fase fria da ODP, coincidindo com uma fase de fraca atividade solar. Essa combinação costuma dar temperaturas muito baixas. Aliás, o hemisfério norte vem de um ciclo de cinco ou seis invernos cada um mais frio que o anterior. Podemos estar correndo o risco de nos preocupar com o bicho-papão errado.

A quem interessa todo esse catastrofismo? Quero deixar claro que isso não é teoria conspiratória, mas uma combinação de interesses. Para início de conversa, tivemos uma convergência de grupos elitistas, principalmente no hemisfério norte, que são institutos de pesquisa privados e ONGs, órfãos do socialismo real depois que o Muro de Berlim foi demolido. Trocaram a causa do socialismo real pela do meio ambiente. Cada qual por seus interesses, começaram a promover a agenda de limites ao crescimento. Muitos devem lembrar o escarcéu que o Clube de Roma criou, na década de 1970, com um famoso relatório, fraudulentíssimo, do limite do crescimento, que era baseado em projeções de modelos de computador. O ambientalismo virou um meio de vida para grandes ONGs ecológicas, tipo Greenpeace, WWF, ISA [Instituto Socioambiental] etc. Algumas têm orçamentos de centenas de milhões de dólares, juntas somam bilhões de dólares, que são fornecidos por fundações privadas, governos, empresas, contribuintes individuais etc. O setor empresarial muitas vezes embarca nisso, primeiro porque ninguém quer contrariar a tendência da moda, a menos que queira cometer suicídio, e muitas vezes financia algumas dessas ONGs na expectativa de parecer mais simpático. Ledo engano, elas não tornam ninguém mais simpático, porque têm uma agenda própria que independe do financiador. Ganham projeção e publicidade, faturam em cima do catastrofismo.

As pesquisas envolvendo o aquecimento global antropogênico movimentaram, só nos Estados Unidos, US$ 70 bilhões entre 1990 e 2010. É muito mais fácil conseguir verba para uma pesquisa climatológica ou de qualquer coisa que permita vinculá-la à influência humana no clima. O mercado de crédito de carbono, que em 2011 movimentou US$ 170 bilhões, já está implodindo. Costumo dizer que os créditos de carbono têm o mesmo valor econômico da água de chuva engarrafada. Se virar moda consumir água da chuva engarrafada, milhares, se não milhões de pessoas talentosas, criativas, honestas e bem intencionadas no mundo inteiro vão dedicar seus esforços a atender a essa demanda. Se alguém gosta de beber água da chuva engarrafada, tudo bem, mas não diga que ela tem um grande valor terapêutico ou econômico. É a mesma coisa com o crédito de carbono, beneficia quem atua no mercado. Não justifiquem dizendo que é para viabilizar tecnologias alternativas para salvar a humanidade das mudanças climáticas.

A mídia tem motivos próprios, é movida pelo sensacionalismo. É muito mais midiático dizer que o homem está ameaçando o clima global do que afirmar que o clima global está ameaçando o homem com seus ciclos naturais. E políticos, por sua vez, buscam votos e impostos verdes. Ninguém gosta de pagar tributos, mas se eles tiverem uma causa nobre, como salvar a humanidade, ficam muito mais palatáveis. Foi nessa que os europeus entraram, e agora estão meio arrependidos.

A ciência climática precisa voltar a ser orientada pela boa e velha ciência baseada em evidências, se pretendermos que possa orientar políticas públicas de alcance global. A palavra-chave para enfrentar as mudanças climáticas, sejam elas para cima ou para baixo, a humanidade vem afirmando sempre: é resiliência, adaptar-se a elas. Hoje precisamos ter sementes geneticamente modificadas para enfrentar frio e seca intensos. Isso é o que as Embrapas do mundo inteiro deveriam estar pesquisando com certa prioridade. Não estou falando em período glacial, basta uma queda de temperatura como aquela do último período frio da ODP para criar problemas muito sérios para a agricultura mundial, inclusive em países como o Brasil, ainda mais agora que temos a expansão de fronteira agrícola mais destacada do mundo.

Então devemos nos preocupar em aumentar nossa resiliência. Hoje, por incrível que pareça, somos bem mais vulneráveis a um período muito frio do que talvez fôssemos meio milênio atrás. Todo mundo se lembra do desastre que foi a erupção daquele “vulcãozinho”, de nome impronunciável [Eyjafjallajokull], na Islândia, em 2010, que paralisou o transporte aéreo no hemisfério norte durante dez dias. E no inverno desse mesmo ano ocorreu a paralisação do Eurotúnel por causa das nevascas. A rede ferroviária europeia, que salvou a Europa na erupção do vulcão islandês, teve um problema no último inverno: sofreu várias paralisações por causa de nevascas que não aconteciam havia décadas. Ironicamente, nossa civilização tecnológica é extremamente vulnerável ao frio intenso, mas estamos muito mais preocupados com o aquecimento global. Precisamos também melhorar nosso conhecimento da dinâmica climática, o que exige um estudo detalhado dos climas do passado, sobretudo com doses planetárias de bom senso. E é principalmente isso que está faltando nessa discussão toda.

Debate

CLÁUDIO CONTADOR – Participei de um evento em que conheci Geraldo Lino defendendo suas ideias. O ambiente não era muito propício, pois havia muitos advogados. Advogados adoram confronto e na área de seguros existe a responsabilidade civil. Então, quando se fala em qualquer tipo de dano ambiental, procura-se logo quem o causou, e muitas vezes foi a própria natureza, mas alguém sempre busca o culpado antropogênico. Durante aquela palestra, eu estava próximo a alguns executivos e um deles disse: “Este ano, minha empresa está gastando R$ 150 milhões em ações de sustentabilidade e apoio a ONGs”. Perguntei o que estavam fazendo, e ele informou que entre os vários itens da pauta havia um para o aproveitamento de papel. Isso é sustentabilidade? Ou seja, o discurso de sustentabilidade, de salvar a Terra, está precisando de racionalidade.

GERALDO – A maioria esmagadora das pessoas engajadas na causa ambiental faz isso de boa-fé, acredita mesmo que está ajudando a salvar o planeta, mas muitas vezes está sendo enganada. Sustentabilidade é rótulo, nada mais que isso. Desenvolvimento não precisa de rótulo. Se ele não for sustentado, não é desenvolvimento, é depredação de uma base de recursos naturais e humanos. O desenvolvimento real dispensa o rótulo de sustentável, é redundância, é pleonasmo, mas é bonito.

NEY FIGUEIREDO – Minha área é ciência política. O senhor me deu um susto, porque fui um dos divulgadores do filme de Al Gore, Uma Verdade Inconveniente. Hoje vivemos numa sociedade em que é impossível controlar a mente das pessoas. Vejam o exemplo da Primavera Árabe, que aconteceu na Tunísia, no Egito e recentemente testemunhei o que ocorreu na Venezuela, uma eleição em que o candidato da oposição não podia usar a televisão, não podia ir à rua porque apanhava, havia uma série de restrições físicas, havia um mito a ser combatido, havia o controle total dos meios de comunicação e somente com a internet foi possível mostrar ao povo a situação do país. Na verdade, se aquela eleição não tivesse sido fraudada, teria resultado numa vitória de [Henrique] Capriles. Estou colocando isso porque uma tese como a sua, que mexe com tudo o que a gente pensava sobre o assunto até este momento, deveria ter guarida maior nos grandes meios de comunicação, na internet. Confesso que não a conhecia, o que é sinal de que não houve espaço para ela. Então pergunto: como o mundo científico internacional vê sua tese? Por que a grande mídia e mesmo a internet não lhe deram espaço? Existe um grande complô mundial para tomar conta de nossas mentes e nos levar a crer numa farsa?

GERALDO – O filme do Al Gore é uma das maiores patranhas que já se fez neste planeta. Tive de ver por razões profissionais e contei 35 barbaridades científicas. Não sou cientista profissional, mas tenho formação científica. O filme só pode ser exibido nas escolas inglesas com a orientação de professores, que devem dizer aos alunos antes da exibição que aquilo não representa o estado da arte da ciência e que é um filme de visões políticas, não científicas. Isso graças à ação do pai de dois alunos da escola secundária britânica que processou o ministério da educação, com dados de um desses cientistas, destacando as barbaridades da película. Começa mostrando o furacão Katrina, que não tem absolutamente nada a ver com o aquecimento global, como qualquer furacão. Aliás, a temporada de furacões atual está menos intensa do que a da segunda metade da década de 1940. Essa é a vantagem de olhar os registros históricos.
A crítica ao catastrofismo está amplamente disseminada, principalmente na internet. Posso lhe indicar alguns sites, inclusive organizados por cientistas, com atualização praticamente diária, mostrando evidências de que o homem não tem nada a ver com o clima e que essas oscilações todas são naturais, ocorrem há milhares e milhões de anos. O movimento ambientalista foi lançado no início da década de 1960 com finalidade política muito clara. Não tem nada de conspiração, a ideia era limitar a expansão da industrialização. Isso começou nos Estados Unidos, no Instituto Aspen, com uma série de discussões sobre o avanço exagerado da industrialização que começava a ameaçar os limites naturais do planeta já naquela época. Foi nesses dias que surgiu a ONG ambiental número um do planeta, o Fundo Mundial para a Natureza, o WWF, que já processou a mim e meus colegas, um processo que foi parar no STJ [Superior Tribunal de Justiça], em Brasília, levou nove anos, mas ganhamos nas três instâncias e provamos categoricamente que o que dizíamos deles era fundamentado em informações de domínio público. Custou caro, tivemos de fazer tradução de documentos holandeses, espanhóis, ingleses e americanos, mas calamos a boca do pessoal, nunca mais nos perturbaram.
No meio científico a crítica é muito grande. Em 2012 tive o privilégio de ser um dos 19 signatários de uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff, que tinha como título: “Mudanças Climáticas: Hora de se Recobrar o Bom Senso”. Eu tive a satisfação de ser um dos 19 signatários, o único não cientista, todos cientistas de primeira linha. A repercussão foi muito maior do que esperávamos, e tivemos uma resposta oficial de um diretor do Ibama, que copiou trechos de relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática] e nos respondeu, ou seja, não respondeu, apenas se desincumbiu da tarefa que lhe deram.
Grande parte da comunidade científica e quase todos os geólogos que conhecem mudanças climáticas ao longo de milhões de anos se opõem a esse cenário. O problema é que a maioria não se arrisca a contrapor o cenário oficial, porque é uma das maneiras mais rápidas de começar a ter problemas. É muito difícil ir contra um tsunami, muitas vezes temos de esperar que ele atinja o seu limite natural e entre em refluxo. O que os críticos fazem é chamar a atenção, bater bumbo. Quando o tsunami “aquecimentista” refluir, vamos dizer que isso já estava sendo dito e não é só por nós, está na literatura científica.

MARISA AMATO – Gostaria de saber se já existe alguma coisa cientificamente comprovada sobre o que pode influenciar o clima global ou pesquisas nesse sentido.

GERALDO – A dinâmica climática é um dos processos naturais mais complexos conhecidos pelo homem. A verdade é que a ciência ainda está muito longe de entender minimamente seu funcionamento. O clima em escala global é influenciado por uma interação de fatores astrofísicos, atmosféricos, geológicos, geomorfológicos, oceanográficos, biológicos, num grau de interação extremamente complexo e que a ciência apenas está começando a vislumbrar. Existe uma influência astronômica e astrofísica muito grande, que vem sendo subestimada até agora. O próprio IPCC no último relatório diz que essa influência é insignificante. Não é. Todos os ciclos glaciais têm condicionamento astronômico. Não se sabe ainda exatamente como funciona, não é um mecanismo de relógio, mas a influência determinante é uma combinação de fatores astronômicos com a atual distribuição das massas continentais e oceânicas. O problema é que essa discussão toda deixou de ser científica há muito tempo. Existe a tese oficial de que o CO2 é o principal agente que influencia o clima e acabou a discussão.
O homem influencia o clima, é claro que sim, nas cidades o efeito das ilhas de calor é conhecido há décadas, mas todo mundo sabe que a temperatura das cidades é quatro a cinco graus mais alta que a do campo no entorno. O homem pode influenciar o clima em escala regional, por exemplo, se mudar a vegetação de um espaço florestado para uma área agrícola, criando um microclima regional. Mas na escala global estamos muito longe disso e será muito bom que venhamos a adquirir essa capacidade, porque nossos tetranetos ou pentanetos seguramente vão precisar disso.

EDUARDO SILVA – Você mencionou a questão do transporte. Em São Paulo, quando acabamos com os bondes, era para ter algo que desse receita imediata, mas não foi para o povo, foi para alguns. Hoje me atrasei quase uma hora, está tudo parado. O que está fazendo falta para nós, sob o ponto de vista até de toda a humanidade, é um pouco de bom senso.

GERALDO – O transporte urbano é um dos maiores problemas de cidades como Rio e São Paulo, se não o maior. Precisamos de bom senso, é claro, e de vontade política. Não é necessário choque climático para isso, basta o choque nos engarrafamentos. As lideranças da sociedade precisam pressionar os políticos para embutir a contabilidade do custo dos engarrafamentos no planejamento público. Esse custo indireto é pago por todo mundo e é muito alto.

NEY PRADO – Um amigo fez a seguinte ponderação sobre esse tráfego de difícil circulação: a Petrobras é a grande interessada nisso, porque ela afere 52% ou 53% sobre o preço do combustível e hoje ele está sendo importado a preço muito menor, melhorando o caixa da estatal. Não sei se isso é verdadeiro.

GERALDO – Desconheço também, mas não duvidaria muito. No Rio, um dos obstáculos para a expansão do metrô é o lobby das empresas de ônibus, a famosa Fetranspor [Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro]. Isso é imediatismo, não há visão de longo prazo.

ZEVI GHIVELDER – Quando houve o escândalo de Watergate, o informante que se intitulava Garganta Profunda deu apenas um conselho aos dois repórteres do “Washington Post”: “Follow the money”. Nada mais do que isso. Então pergunto: onde está o dinheiro dessa lavagem cerebral a que se referiu?

GERALDO – Vem de várias origens, entre elas o mercado de crédito de carbono e os subsídios de centenas de bilhões de euros da União Europeia. Os donos das empresas, os controladores e gestores públicos muitas vezes estão olhando para a receita do curto prazo, da gestão deles. O CEO [Chief Executive Officer – diretor executivo] está preocupado em melhorar o rendimento da linha final de seu balanço, porque implicará em bônus maiores para ele. Com todo mundo olhando para seu bolso, vamos perdendo a visão de conjunto e a sociedade como um todo paga o custo. Quando vários segmentos começam a fazer lobby por seus interesses particulares, todos perdem. Será preciso um choque, não sei qual será, mas deverá acontecer para que as pessoas comecem a acordar. É uma questão de bom senso, o artigo mais raro no mundo de hoje.

PAULO LUDMER – A Europa precisava se livrar da dependência do petróleo nos anos 1980, com o esmaecimento das jazidas do mar do Norte, e achar rapidamente o caminho estratégico das energias renováveis, que disseminou pelo mundo. Ninguém queria investir em refinarias no Oriente Médio, em logística, em portos nem depender da União Soviética e de seus gasodutos. Então só quero fazer um esclarecimento: estrategicamente havia interesse de substituir os motores a combustão por outras técnicas.

JOSEF BARAT – Essa coisa de ir atrás do dinheiro é uma boa forma de identificar interesses, mas penso que não se trata só de dinheiro, há muita coisa misturada aí. A humanidade sempre teve uma atração muito grande pelo apocalipse, o fim do mundo, o fim do capitalismo. Agora é o fim do planeta como lugar habitável. Isso mobiliza em termos até ideológicos, quase religiosos, uma boa parcela da população. Se agregarmos isso à burocracia da ONU, que é infernal, essa mistura de fatores pode ter fortalecido muito o movimento. Desconfio das ideologias que se preocupam com o bem-estar da humanidade, porque frequentemente elas se esquecem das coisas mais concretas que afligem o homem. Como você lembrou, não há manifestações de ambientalistas com relação à ocupação irregular de encostas, favelização crescente de áreas de risco, poluição de rios em áreas urbanas, falta de saneamento. A pobreza é a maior poluidora do ambiente. Mas é uma questão difícil de ser colocada, porque a mídia também escapa muitas vezes da questão concreta para discorrer sobre a felicidade geral que o mundo deveria ter.

GERALDO – Falando de problemas reais, quando foi que alguém viu pela última vez uma grande ONG ambientalista, ou a mídia, fazer campanhas ruidosas em favor do saneamento ou da eletrificação da América Latina, da Ásia e da África? Não me lembro. Estou nessa luta há mais de 20 anos, não me lembro de ter visto o Greenpeace, o WWF ou o Instituto Socioambiental fazendo campanha em prol do saneamento básico, que é de longe, a meu ver e na opinião de muitos especialistas, o maior problema ambiental do planeta. A deficiência de saneamento afeta a todos diretamente e é responsável pela morte de milhões de crianças no mundo inteiro.
Alguém comentou sobre a Europa e me lembrei do carro elétrico. O problema desse tipo de veículo é que só transfere a poluição de um lugar para outro, do automóvel para a usina geradora, e ainda por cima sabemos que a tecnologia da bateria avançou muito pouco em cem anos. A eletricidade que vai alimentar a bateria do carro tem de ser gerada em algum lugar e por termelétricas. Então o carro elétrico só será uma solução se a tecnologia de células de combustível estiver avançada.
Existem soluções a longo prazo, as tecnologias energéticas do futuro já estão começando a ser pesquisadas e deveriam ser muito mais estudadas. Hoje parece coisa de ficção científica uma fusão nuclear, não aqueles reatores gigantescos que a União Europeia está fazendo, mas abordagens diferentes e muito mais promissoras. Como a famosa fusão a frio, que causou sensação na década de 1980 e depois ficou desacreditada. Foi uma coisa curiosíssima porque os ambientalistas, que deviam ter saudado aquilo como a grande maravilha do final do século 20, ao contrário, fizeram uma forte campanha contra. Um ambientalista americano famoso, Paul Ralph Ehrlich, disse que se fosse verdade seria como entregar uma metralhadora na mão de uma criança mentalmente retardada. E isso foi dito por um professor da Universidade de Stanford, que até hoje é um dos sumos sacerdotes do radicalismo ambientalista.
A exploração da energia do vácuo quântico hoje parece ficção científica, mas entrem na internet, centenas de inventores comuns estão pesquisando e criando dispositivos para explorar essas coisas. Não conseguem comercializar, porque realmente na questão das patentes o lobby da indústria de combustíveis fósseis é pesado. Os ambientalistas costumam dizer o contrário, que a indústria dos combustíveis fósseis financia os céticos. A Exxon-Mobil, maior empresa petrolífera do mundo, em 20 anos doou algo como US$ 20 milhões para financiar pesquisadores críticos à questão do aquecimento global. Parece muito para nós, mas é fichinha perto do orçamento das grandes ONGs, tipo WWF, Greenpeace. O orçamento do Greenpeace internacional no ano passado foi de US$ 350 milhões. Uma entidade, qualquer que seja, com recursos dessa magnitude tem um potencial de influência, inclusive política e midiática, tremendo.

LUIZ GORNSTEIN – Como anda o ensino de clima no país? Onde ficam os centros de excelência e como está esse ensino no Brasil?

GERALDO – Temos uma rede de centros acadêmicos muito boa, de alta qualidade. O Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], em São Paulo, está desenvolvendo pesquisa de ponta, tem pesquisadores de nível internacional. O problema é que mais uma vez entra em ação a famosa mainstream, a corrente principal, que na ciência é tão exigente quanto na moda, na política ou nas artes. No Rio de Janeiro temos o Coppe [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia], um centro de geração de tecnologia de ponta da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Ele foi aparelhado desde o início por seu atual diretor, Luiz Pingelli Rosa, que é uma das mentes mais brilhantes e capacitadas do Brasil. Equipou o Coppe para calcular emissões de carbono e formar profissionais nessa área. No Inpe acontece em grande medida a mesma coisa.
O cientista tem de mostrar serviço, tem de publicar, mas existe um controle muito grande nas principais revistas internacionais em relação a artigos críticos. É muito difícil um climatologista de primeira linha publicar um artigo crítico numa “Science”, “Nature”. A proporção de trabalhos publicados nas revistas de primeira linha é muito maior dos que favorecem a tese do aquecimento global. É claro, porque os conselhos editoriais das revistas muitas vezes bloqueiam, não por falta de qualidade, mas por motivos políticos mesmo.