Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Vítimas da guerra

Brasileiros participam do esforço de reconstrução de Angola

JULIANA BORGES


Criança angolana: futuro incerto / Foto: Juliana Borges

O samba veio do semba. A capoeira veio de Angola, assim como a galinha à cabidela, a umbanda, o terreiro, os penteados afro. Ao longo de vários séculos, angolanos de diferentes etnias foram capturados pelas tropas portuguesas na África e enviados para a América como escravos. É difícil estimar quantos chegaram aqui até o fim do tráfico negreiro, em 1850. O que os historiadores sabem é que nenhum outro lugar recrutou tanta mão-de-obra para as fazendas de cana-de-açúcar brasileiras como as bases lusitanas em Luanda. Trazendo seus hábitos, suas culturas, suas palavras e crenças, os escravos angolanos cristalizaram a influência negra na nossa sociedade. Mas o Brasil, que também é um pouco de Angola, não conhece Angola. Os mais bem informados sabem que a nação viveu muito tempo em guerra, tem largas reservas de petróleo e muitas minas terrestres - herança dos conflitos e responsáveis, mesmo após o cessar-fogo, por um grande número de mortes e mutilações. Entretanto, a maioria nem sabe onde fica o país, que lá também se fala português e que as ligações entre os dois povos são bem mais fortes do que apenas a língua imposta por um colonizador comum.

Do outro lado do Atlântico, a situação é bem diferente. No país de cerca de 12 milhões de habitantes, em que 68% da população vive abaixo da linha de pobreza e que ocupa a 160ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 177 nações avaliadas, todas as noites milhares de antenas parabólicas sintonizam a Globo Internacional para assistir aos programas que, de longe, fazem mais sucesso em Angola: as novelas brasileiras.

"A gente praticamente só vê novela. Na minha casa tem parabólica e eu acompanho todos os dias", confirma Antonio Manuel Caculamba, nascido na província de Malanje, mas que hoje mora na capital, Luanda. "Você se lembra de Xica da Silva? Tenho um primo que vendeu a casa do pai só para ir ao Brasil ver a atriz principal [Thais Araújo]. Ficou três anos por lá e acabou conhecendo a moça."

Há quase duas décadas, a emissora estatal angolana compra novelas e seriados da Globo para exibir no país. E os nomes dos personagens são usados para batizar pessoas e também locais públicos. O caso mais emblemático é Roque Santeiro, em Luanda, o maior mercado a céu aberto da África, assim chamado em homenagem à novela que tanto sucesso fez no Brasil no final da década de 1980.

O exemplo acima mostra não apenas a enorme penetração dessa rede de televisão, que envia seus sinais àquele país desde 1999, mas também um fenômeno mais abrangente: a grande influência brasileira naquela sociedade. Mas as novelas não são as únicas a alcançar sucesso por lá: música, roupas, sapatos, o modo de falar e outros componentes do estilo made in Brazil estão fazendo a cabeça dos angolanos.

Os brasileiros, por sua vez, estão começando a perceber quão lucrativa pode ser a simpatia que despertam em seu "parente distante". Todas as semanas, dezenas deles desembarcam na capital para tentar ganhar a vida como engenheiros, técnicos de informática, garçons, pedreiros ou até para criar suas próprias empresas. "Com o fim da guerra civil (ver texto abaixo), em 2002, surgiram muitas oportunidades. O fato de sermos filhos do mesmo colonizador e termos uma boa acolhida nos ajuda na hora de fazer negócio", garante Ronaldo Chaer, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Angola.

Oportunidades

A falta de mão-de-obra especializada é um problema antigo em todos os setores da economia angolana. Vem desde os tempos de colônia, quando o acesso à educação básica era negado à maioria negra, e 85% da população era analfabeta. Depois da independência, pouca coisa mudou, pois a guerra civil praticamente ininterrupta não permitiu que as pessoas estudassem. Hoje, cerca de um terço das crianças em idade escolar - 1 milhão de jovens - está fora da escola, 58% dos angolanos oficialmente não sabem ler e quase 90% são analfabetos funcionais, que mal conseguem escrever o próprio nome.

Além das dificuldades decorrentes dos conflitos armados, há ainda um outro fator histórico que contribuiu para a falta de pessoal qualificado no mercado: a expulsão, em 1975, de quase todos os brancos descendentes de portugueses que viviam em Angola no período colonial. Após a partida deles, os negros se viram numa situação um tanto paradoxal: finalmente, tinham o país só para si, mas não havia sobrado gente formada para administrá-lo. Filho de intelectuais do período colonial, José Marcelino foi um dos poucos brancos que ficaram em Angola depois de 1975. "Na época da independência, o país inteiro não tinha sequer 50 quadros com formação superior, cerca de 500 técnicos de nível médio e 2 mil com apenas o fundamental completo", ele relembra.

Por essas razões, a procura por profissionais qualificados - desde o mais humilde, como um mestre-de-obras, até os mais especializados, como engenheiros - é tão grande. E, nessa "corrida" por mão-de-obra, o brasileiro leva vantagem em relação a outros estrangeiros devido à proximidade cultural.

O principal motivo que faz um trabalhador deixar o Brasil para ganhar a vida do outro lado do Atlântico é o bolso: "Ganho seis vezes mais em Angola", garante o carioca Alexandre Alves, que coordena um canteiro de obras de uma construtora de médio porte em Luanda. Insatisfeitos com a vida no país africano, a maioria dos brasileiros prefere se isolar a conviver com tantos problemas. Muitos costumam passar o tempo livre apenas com compatriotas, freqüentando lugares de estrangeiros, e há aqueles que nem trocam os dólares que recebem pela moeda local, o kuanza. Alves é um exemplo disso. Fora o bom salário, não há nada mais que o faça ficar na África. Todo mês, ele manda uma quantia para sua mãe no Brasil e faz um pé-de-meia com o que sobra, para investir quando voltar à sua terra natal. "Minha idéia é construir algumas casas para alugar e viver de rendas", ele diz. Em sua opinião, "Luanda é uma cidade muito pobre, que só tem miséria".

Quem anda por suas ruas centrais confirma as impressões de Alves. De fato, a vida ali não é fácil: a taxa de desemprego é de 70%, mais da metade da população sofre com falta de água, e o salário médio mensal de um trabalhador braçal é de US$ 50. Por causa da guerra, milhões de angolanos deixaram suas terras no interior para buscar segurança e oportunidades na capital, um objetivo que nem sempre se concretizou. Hoje, encerrados os conflitos, eles não querem mais voltar para suas antigas casas, e o resultado é que cerca de um terço dos habitantes se aglomera em prédios velhos e em musseques (favelas), ou nas ruas em que milhares de candongas (lotações) buzinam para abrir caminho no trânsito congestionado. Nas calçadas esburacadas, mulheres equilibram bacias sobre a cabeça com sapatos, mandioca, bolacha, pão, roupas e o que mais for possível carregar. Elas brigam por espaço com os vendedores ambulantes, que espalham suas mercadorias pelo chão, com lavadores de carro, caçambas de lixo e muitos pedestres.

Segundo a embaixada do Brasil em Angola, há 3,5 mil brasileiros que, como Alves, trabalham em situação legal no país e, provavelmente, o dobro atuando de forma irregular, com visto de turista. "O número de brasileiros que viviam aqui durante a guerra foi diminuindo ano a ano. Agora, o fluxo inverteu-se. As empresas estão vindo participar da reconstrução e, com elas, chegam os trabalhadores", explica Afonso Nery, consultor da embaixada.

Na opinião do economista Abdu Ferraz, exilado político de Angola que vive há dez anos no Brasil, o que melhor ilustra o distanciamento desses brasileiros da sociedade angolana é o fato de eles raramente levarem suas famílias para lá. "Se houvesse um compromisso real, eles não iriam ajudar a reconstruir um lugar que seus filhos não vão poder habitar", critica. Na opinião de Nery, os trabalhadores não se fixam por um período maior por ser essa uma característica inerente aos brasileiros. "Não somos um povo emigrante. Vamos ao exterior em busca de algum objetivo e, depois, voltamos", diz ele.

Laços estreitos

A influência brasileira em Angola é mais antiga do que o próprio país. "No final do século 19, os jornais nativistas angolanos já bebiam um pouco nas publicações brasileiras", informa o professor Carlos Serrano, diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (USP). Ele, que é angolano descendente de portugueses e deixou seu país aos 20 anos, logo depois da independência, tem o Brasil em suas lembranças da juventude. "Lembro-me de ouvir música brasileira no rádio, principalmente baião", conta. Serrano diz ainda que, durante o período de luta pela libertação colonial, o Brasil enviava outras contribuições importantes aos angolanos: literatura clandestina de esquerda e revistas mais "intelectualizadas", como "O Cruzeiro".

Depois da emancipação política, os laços entre os dois países estreitaram-se ainda mais. O Brasil foi a primeira nação no mundo a reconhecer a independência angolana, decretada em 11 de novembro de 1975. Parcerias entre os dois governos garantiram a ida de professores de universidades públicas para lecionar e treinar docentes no país africano nas décadas de 1980 e 1990. No Acordo de Paz de Lusaka, assinado em 1994, uma das inúmeras tentativas de colocar um fim à guerra, o Brasil enviou tropas para fazer parte da força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).

Porém, o conflito também trazia dificuldades à penetração estrangeira, e a atuação de empresas brasileiras era limitada, se comparada à dos dias de hoje. Insatisfeito com o apoio do Brasil ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que assumiu o poder após a independência, o exército rebelde da Unita, o grupo político adversário, que não reconhecia a legitimidade do governo, divulgou, em 1999, uma nota à imprensa informando que "os interesses brasileiros em Angola" tornavam-se, a partir daquela data, alvos a ser destruídos.

Perspectivas

Em 2002, com a assinatura do cessar-fogo, o cenário mudou drasticamente. A despeito de tanta pobreza, desigualdade social, destruição, campos minados e falta de infra-estrutura decorrentes de muitos anos de conflitos armados, as ricas jazidas de diamante e reservas de petróleo, estas últimas exploradas por multinacionais desde os tempos coloniais, fizeram com que, em pouco tempo, Angola se tornasse objeto de cobiça por parte de grandes investidores mundiais. O "ouro negro", que sempre moveu a economia do país - atualmente, ele responde por 45% do PIB nacional, 75% das receitas do governo e 90% das exportações -, está gerando capital para financiar outros setores, como a construção civil, o agronegócio e o saneamento.

Diante dessas perspectivas, em novembro de 2003 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para Luanda para se encontrar com o chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, quando prometeu ampliar o comércio entre as duas nações. Em maio de 2005, foi a vez de José Eduardo retribuir a visita. Na ocasião, os dois governos assinaram um memorando que garante a Angola crédito para o financiamento da importação de bens e serviços brasileiros. O montante previsto para este ano é de US$ 180 milhões e, para 2007, US$ 150 milhões.

O setor empresarial também está apostando no mercado angolano. A atuação da Braspetro, braço internacional da Petrobras, que está em Luanda desde 1979, e a da Construtora Norberto Odebrecht, que já completou 20 anos no país, são dois exemplos. A estatal do petróleo, que produz 9 mil barris por dia e está prospectando novos campos offshore, quer aumentar ainda mais sua presença em Angola. "A Braspetro tem três regiões no mundo em que pretende crescer. O oeste da África é uma delas. Por isso, nossa intenção é elevar a participação em Angola, por meio tanto de licitações promovidas pela estatal Sonangol quanto de parcerias empresariais", informa Hércules Ferreira da Silva, gerente-geral da companhia em Luanda. Em sua opinião, esse crescimento não só beneficia a Petrobras como outras empresas nacionais de menor porte ligadas ao petróleo e à prestação de serviços. "Somos como uma locomotiva puxando vários vagões."

Já a Odebrecht, um dos maiores e mais influentes grupos empresariais instalados em Angola - com terminais exclusivos nos aeroportos internacionais do Rio de Janeiro e de Luanda, para seus funcionários fazerem o check-in no vôo comercial entre as duas cidades -, aposta na diversificação. Além de atuar na área de construção civil, erguendo obras como a hidrelétrica de Capanda, uma das maiores da África austral, ela também trabalha em projetos de saneamento básico e de distribuição de água. A Odebrecht tem, ainda, participação acionária em duas empresas de diamantes, a SDM, com 50%, e a Catoca, com 16,5%. "Juntas, as duas respondem por 57% de toda a produção de diamantes no país", informa Genésio Lemos Couto, gerente da companhia em Angola. Recentemente, a empreiteira elaborou um projeto de construção de um shopping center, o primeiro de Luanda, com 110 lojas e oito salas de cinema, avaliado em US$ 35 milhões.

Mas são as pequenas e médias empresas que mais atraem mão-de-obra brasileira. Os setores de alimentos, agronegócio, infra-estrutura, construção civil, vestuário, informática e comunicação são, segundo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Angola, os de maior crescimento. "É por isso que queremos mostrar aos empresários as ótimas oportunidades do mercado angolano. Os brasileiros têm pouco conhecimento das condições oferecidas e, também, medo de investir, por causa da guerra e de um possível calote. Poucos sabem que o nível de inadimplência com o Brasil é zero", afirma Chaer. Segundo ele, nossa atuação comercial em Angola ainda é tímida diante do potencial existente. "Estamos mais integrados culturalmente do que comercialmente", garante.

Resistência

A presença brasileira em Angola, apesar de ser apreciada pela maioria do povo, começa a provocar descontentamento em alguns setores. Professores, intelectuais e pessoas com melhor formação sabem que esse caminho não é o mais adequado para o país, que adotar um estilo importado nunca funciona e que o ideal é absorver as influências externas e criar seu próprio universo. Um dos maiores críticos à "invasão brasileira" na África é Abdu Ferraz, que a vê como um perigo. "Trata-se de um imperialismo mais selvagem do que o norte-americano, porque exporta uma mentalidade racista, que nega a presença do negro em sua formação", diz. Para Ferraz, que é ativista do movimento negro e atualmente luta para inserir a cultura e a história africanas no currículo escolar do Brasil, os grupos empresariais brasileiros fizeram Angola retroceder 50 anos. "Aqui, na terra deles, todos têm ações de responsabilidade social. Lá, eles lucram e não oferecem nada em troca", critica. Em sua opinião, as corporações norte-americanas não oferecem bolsas de estudo por serem boazinhas, mas porque isso é uma ferramenta de marketing. "É por essa razão que digo que falta inteligência capitalista às empresas brasileiras. Se, pelo menos, elas agissem como as norte-americanas, eu já acharia ótimo."

O gerente da Odebrecht não concorda com Ferraz e cita como exemplo os vários projetos sociais da empresa, como a reforma de escolas em sua área de atuação, programas de treinamento de mão-de-obra local e campanhas de combate à Aids. "Estamos intensificando a capacitação de angolanos para substituir os estrangeiros", diz Couto.

Já para o professor Serrano, o motivo da migração de brasileiros para o seu país mudou. "Na época do socialismo, os estrangeiros iam para lá por adesão ideológica. Agora, a questão é puramente comercial", afirma.

Independentemente das causas, o fato é que Angola admira o Brasil como a um irmão mais velho. E esse sentimento, além de representar uma ótima oportunidade de fazer negócios, pode servir para nos aproximar de nossas raízes africanas, levando assim a uma relação social e cultural mais ampla com o país que tanto influenciou nossa formação. 


História de conflitos

Desde abril de 2002, quando o governo e os rebeldes assinaram um acordo de cessar-fogo, Angola vive dias de paz, após mais de quatro décadas em guerra. Os conflitos começaram ainda no período colonial, em 1961, quando os angolanos decidiram pegar em armas para expulsar os portugueses. No início, três grupos políticos - o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), liderado pelo médico e poeta Agostinho Neto, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), sob a liderança de Holden Roberto, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), criada por Jonas Savimbi - lutavam por um objetivo comum, apesar das diferenças ideológicas e tribais.

Porém, depois da independência, em 1975, quando cerca de 300 mil brancos tiveram de abandonar suas terras e fugiram de Angola com a roupa do corpo, iniciou-se uma sangrenta guerra civil pelo poder. Com a saída de cena da FNLA, que acabou se dissolvendo no final da década de 1970, ocorreu uma polarização de forças - afinal, eram tempos de Guerra Fria. Com apoio militar e financeiro do bloco soviético e fartas receitas obtidas com a exploração do petróleo, o MPLA assumiu o poder, colocou seu líder Agostinho Neto na presidência e instaurou um regime socialista no país. A Unita, por sua vez, tentava derrubar o governo financiada pela África do Sul, Estados Unidos e pelo dinheiro obtido com as jazidas de diamantes do interior.

Os anos seguidos de guerra acabaram com a agricultura, criaram extensos campos minados por todo o país, destruíram estradas, enfim, travaram o desenvolvimento e fizeram a população sofrer. Ao longo desse período, diversos acordos de paz foram assinados, todos sem sucesso.

Em 1992, Angola realizou suas primeiras eleições presidenciais, que tiveram conseqüências desastrosas. Inconformada com a derrota para o MPLA, a Unita acusou o governo de fraude e não aceitou o resultado do pleito. Os conflitos foram retomados com força total e duraram até fevereiro de 2002, quando Jonas Savimbi foi morto em combate e as tropas rebeldes se renderam.

Os resultados de tanta violência foram 1 milhão de angolanos mortos, 80 mil pessoas mutiladas, um dos territórios mais minados do mundo, além de uma população condenada, em sua maioria, a viver abaixo da linha de pobreza.


O Brasil não é aqui

Entre beliches de madeira, prateleiras abarrotadas com roupas amassadas e velhas, objetos pessoais, mosquiteiros, sapatos e pôsteres de mulheres nuas, 54 jovens com idades entre 5 e 20 anos vão dormir pensando no seu futuro incerto. Uns ficaram órfãos em decorrência dos combates, outros se perderam da família, alguns ainda têm pais cuja sanidade mental foi abalada por tanta brutalidade. Todos eles, de alguma forma, são vítimas da guerra. Moram em um antigo galpão cedido pela prefeitura da cidade de Huambo, capital da província de mesmo nome, hoje transformado por uma organização não-governamental num centro para menores carentes. Além deles, mais de 200 jovens com problemas familiares também freqüentam o local, que oferece comida, atividades de lazer, alguns cursos e muito carinho. Juntos, eles formam uma grande família. Repartem seus pertences, os mais velhos ajudam os mais novos, brincam, trabalham, perambulam à toa pelas ruas, partilham dos mesmos sonhos e medos. Quando a noite chega, eles não estão sozinhos. Pendurados nas paredes desbotadas dos quartos, seus maiores ídolos velam pelo sono dos meninos: Roberto Carlos, Ronaldinho, Ronaldo, Robinho e Romário. Eles também já foram pobres um dia. Zidane, Figo, Beckham e outros craques internacionais também estão nas paredes, mas os verde-e-amarelos são os preferidos, de longe. Ser jogador de futebol é o sonho distante de vários desses jovens, mas o que muitos queriam mesmo era ter nascido brasileiros, viver num mundo menos cruel, no Brasil que eles amam de tanto assistir na televisão - não o país real, mas aquele visto nas novelas.

 

 

Comentários

Assinaturas