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Carta ao leitor

O tema da reforma agrária tem ocupado grandes espaços nos jornais e longos minutos nas reportagens televisivas. O enfoque, entretanto, restringe-se às invasões de fazendas e ao movimento dos sem-terra, com seu rosário de disputas, reações e animosidades.

Quando se procura tratar mais profundamente da questão, os argumentos que prevalecem são sempre de cunho social. A reforma agrária é apresentada basicamente como um instrumento para retirar da marginalidade uma parcela significativa da população. Pouco se fala sobre o impacto econômico da redistribuição das áreas agricultáveis.

Essa é uma questão de grande importância, pois os desafios não se resumem à luta pela obtenção de terras. Dentro de uma economia de competição cada vez mais acirrada, existem outras agruras, talvez até maiores, que dizem respeito à viabilidade do trabalho agrícola ao longo dos anos.

Por isso, o exame da questão não pode se restringir a casos específicos, ocorridos em regiões em que se fez ou se pretende fazer a reforma agrária. Os assentamentos não são ilhas encravadas no país. A partir do momento em que os trabalhadores rurais conseguem alguns hectares e iniciam suas lavouras, passam a integrar um contexto mais amplo, que participa do mercado: a agricultura familiar.

Os estabelecimentos que se enquadram nessa denominação - aqueles em que a mão-de-obra da própria família prevalece sobre a assalariada - formam um conjunto importantíssimo da economia rural no mundo inteiro. É reconhecido, por exemplo, o papel fundamental que esse tipo de agricultura desempenhou - e ainda desempenha - em potências econômicas como os EUA, Japão e países da Europa.

É essa a modalidade de produção agrícola, pouco estudada no Brasil, que foi escolhida como matéria de capa desta edição. Ao lançar um olhar cuidadoso sobre ela, "Problemas Brasileiros" espera enriquecer o debate sobre a questão agrária, de extrema importância para a definição dos rumos do país.