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Quebra cabeça visual

Arte africana vai além de recortes e

estereótipos e traduz complexidade do continente

 

Fevereiro 2018 (Matéria Gráfica_Revista E)


Imagine 30 milhões de quilômetros quadrados. Um território três vezes maior do que os Estados Unidos (não se esqueça de incluir o Alasca) e mais de 750 milhões de habitantes que se identificam com valores e costumes diferentes e portanto, expressam-se de modos diferentes. E a produção criativa está nesse leque.
O desafio é abarcar em um só bloco a diversidade de experiências sociais e estéticas das regiões que formam o continente africano. O primeiro passo é não homogeneizar. “Assim, pensar em temas, estética, suporte, abordagem específicos no que se refere à produção moderna na África considerando essa complexidade seria o equivalente a pensar em bloco a arte contemporânea europeia, asiática, o que me parece inviável, mesmo com o recorte cronológico mais restrito”, alerta Sandra Mara Salles, doutoranda em História da Arte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de projetos do Museu Afro Brasil, em São Paulo.

Entre lugares

As características físicas do local em que se vive influenciam, uma vez que são parte da vivência do artista. O antropólogo britânico Frank Willett escreve no livro Arte Africana (Edições Sesc São Paulo /Imprensa Oficial, 2017) que não é coincidência a relação entre a distribuição de esculturas em madeira com a de florestas e bosques. Expandindo fronteiras, há ligações entre a África e as Américas.  “Sabemos que as palafitas, os sistemas de avarandados africanos, inspiraram a construção de algumas casas brasileiras”, exemplifica Renato Araújo da Silva, especialista em arte africana da Obafemi Awolowo University e A.G. Leventis Natural History Museum, na Nigéria. As construções em argila, segundo o pesquisador, correspondem às técnicas de “pau a pique e de tijolos em adobe, em que se misturam terra, água e fibras vegetais como a palha”, vistas ainda hoje na construção civil no Nordeste. 

A criação atual esbarra na movimentação dos realizadores, que vivem entre a Europa, os Estados Unidos e a África, onde desenvolvem seus projetos, e os artistas da diáspora, “que vivem e trabalham no estrangeiro, dialogando ou não com as questões estéticas, políticas, sociais específicas do continente onde nasceram”, explica Sandra, ressaltando os fluxos que dissolvem os limites geográficos. Somam-se museus que têm incluído obras de artistas africanos em suas coleções.

Considera-se, então, não só o espaço ocupado como o que ainda falta ocupar: “A invisibilidade se deve ao imaginário que se tem sobre a África, que varia entre uma visão negativa e um investimento afetivo do qual o continente é objeto. Varia de acordo com o histórico de contato e de relações estabelecidas entre os países e que muitas vezes funciona como repertório estético”, acrescenta Sandra Mara Salles.

Livro sobre arte Africana ganha primeira edição brasileira

Frank Willett (1925-2006) foi um antropólogo britânico, insatisfeito com o modo pelo qual os estudos sobre Arte Africana eram conduzidos. Começou a lecionar em 1966 e, desde a publicação da obra, em 1971, seus textos continuam a dar fôlego a análises modernas.

A íntegra do pensamento de Willet está em Arte Africana (Edições Sesc São Paulo e Imprensa Oficial, 2017), com um prefácio à nova edição, guia ilustrado com pesquisas recentes, notas e bibliografia.
Leia um trecho: www.sescsp.org.br/online/edicoes-sesc

 

 

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