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As diversas faces da velhice
Em 1963, quando o SESC nucleou o primeiro grupo de convivência de idosos em nosso país, a imagem social da pessoa idosa refletia uma realidade brasileira bem diversa. O Brasil era entendido como uma nação jovem, já que o número de idosos na população se encontrava abaixo dos 5% do total de brasileiros. Em poucas décadas, esse percentual dobrou. Mas os estereótipos prevalentes naquela época não decorriam tão somente da baixa presença estatística dos mais velhos. As pessoas já adentradas nos anos, eram percebidas apenas como portadores de um passado, enquanto que seu presente significava um vazio existencial. A ação do SESC, de fato, promoveu uma revolução no conceito de atendimento ao idoso. Até os anos 60, havia apenas ações assistenciais por parte do Estado ou de instituições filantrópicas direcionadas aos velhos pobres e doentes. Aos demais nada era oferecido, além do “descanso da aposentadoria” no recolhimento doméstico. Com os grupos de convivência propostos pelo SESC, abriu-se a possibilidade da formação de amizades e do exercício de atividades de lazer não só recreativo, mas também de desenvolvimento cultural. Nos anos que se seguiram, a conjugação de vários fatores sociais, econômicos e culturais propiciou a eclosão de uma nova imagem da velhice. O aumento acelerado do percentual de idosos na população tornou-os mais visíveis socialmente, sua presença mais constante nos espaços públicos. Mas sobretudo o desejo da participação colocou o idoso como sujeito social. Movimentos de Terceira Idade foram surgindo com a colaboração dos aliados sinceros da gerontologia, profissionais devotados que tomaram a causa para si. Progressivamente conselhos municipais e estaduais foram sendo formados. O Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos e o Estatuto do Idoso, conquistas mais recentes representam senão o ápice de um processo de apropriação de espaço político, ao menos a representação da força social desses novos agentes. Nos dias atuais, muitos idosos já adotaram os valores e os comportamentos de uma sociedade de consumo. Há mesmo o florescimento crescente de toda uma indústria de produtos voltada para essa faixa etária. Em seu artigo “A Velhice e seus Destinos”, presente nesta edição, Márcia Dourado aponta que essa Terceira Idade, hoje entendida como busca do prazer e de realizações pessoais, adota diferentes rótulos. O termo “velho” se aplica aos pobres. O termo idoso é “respeitoso”. De Terceira Idade a Melhoridade, surgem uma série de autodenominações eufemísticas que afastam o lado sombrio, constituído pelas perdas da velhice. Tais perdas são sobretudo físicas. Vivemos em um mundo que valoriza o padrão estético da juventude e que não apenas cultua o corpo jovem mas também o estilo de vida dessa geração. Como bem assinala a autora, rugas e flacidez acabam se constituindo em fraqueza moral em uma sociedade que enaltece a beleza física e obriga a todos a perseguí-la. No caminho que leva ao envelhecimento, vão surgindo inúmeras ciladas que ameaçam os idosos, armadilhas produzidas pelo consumismo exacerbado, pela criação de necessidades que obedecem aos propósitos do lucro fácil e desenfreado. Para se contrapor a essa onda de alienação, típica de nossos tempos, é preciso promover ações que propiciem o debate esclarecedor do sentido da velhice e do envelhecimento, do papel do idoso em uma sociedade desprovida de memória histórica. Completados 60 anos de existência, o SESC mantém o compromisso social de propor ações e criar condições para o bem-estar e crescimento cultural de sua clientela. O Trabalho Social com Idosos, criado há 43 anos no SESC São Paulo – projeto pioneiro no Brasil – alinha-se a essa política de ação, tendo como objetivo central a conscientização do idoso sobre sua condição e reais potencialidades de transformação de si mesmo e de todos aqueles que puderem desfrutar de suas experiências de vida.