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Histórico, modelos, resultados e melhores práticas dos programas intergeracionais
SALLY NEWMAN
Background
Os programas intergeracionais (PIs) abrangem um campo de pesquisa que teve seu início nos EUA nos últimos 25 anos do século 20. Neste trabalho, compartilharei ideias sobre histórico, fundamentos lógicos, modelos e o que aprendemos nesses programas. Por fim, fecharei com uma afirmação breve sobre o status desses programas em outras áreas do mundo. Programas intergeracionais são modelos de planejamento social que fornecem atividades importantes e contínuas, e intercâmbio de recursos e aprendizado entre as gerações mais idosas e mais jovens. Foram concebidos para engajar as pessoas mais idosas e mais jovens, sem ligação biológica, em interações que estimulem o vínculo entre as gerações, promovam intercâmbio cultural e forneçam suporte positivo para ajudar a manter o bem-estar e a segurança das gerações mais jovens e mais idosas (NEWMAN, 1997b; VENTURA-MERKEL et al., 1989).
Qual foi o catalisador para o desenvolvimento desses modelos?
Entrelaçar as gerações juntas em uma estrutura de sociedade beneficia todos e melhora o ritmo natural de nossas famílias e comunidades. Infelizmente, nos EUA, durante a última metade do século 20 e no século 21, temos testemunhado mudanças dramáticas em fatores econômicos, sociais e demográficos que mudaram o ritmo de muitas famílias e comunidades. Alguns desses fatores têm impacto direto no status e na estrutura dessas famílias, e influência significativa nos membros familiares mais jovens e mais idosos (DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO, ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO ESTATÍSTICA DOS EUA, 2002).
Os fatores econômicos têm causado uma redução nas oportunidades de emprego em muitas comunidades, resultando na necessidade de famílias jovens, com um ou dois pais trabalhadores, procurarem trabalho em novas comunidades. Os fatores sociais, tais como um aumento dramático no número de divórcios, têm resultado no surgimento de grandes quantidades de famílias com pai/mãe solteiro(a), os quais se mudam para áreas geográficas distantes dos outros membros da família. Por fim, tem havido uma mudança nas demografias de nossa população mais idosa, com um número reportado de 15-20% da população acima dos 60 anos de idade (WARD, 1997).
As mudanças geográficas e estruturais têm tido um impacto significativo nos membros familiares em extremos opostos da vida. Para nossas crianças, tem acontecido uma perda da interação regular e contínua com os avós, os quais normalmente dão suporte no processo de aprendizagem e crescimento. Para nossa população mais idosa, uma desconexão geográfica dos membros familiares mais jovens resulta em uma mudança em seus papéis tradicionais como educadores e transmissores de cultura e valores. Tem havido uma ruptura no ritmo da família e da comunidade.
Em todas as partes dos EUA, muitas novas comunidades têm se desenvolvido, nas quais a população consiste em famílias jovens, ao passo que outras comunidades servem de lar para a população mais idosa. Novas comunidades têm sido criadas para aposentados que se mudaram para ambientes mais confortáveis, durante todo o ano. Estávamos nos tornando um país em que muitas comunidades foram segregadas pela idade: de modo predominante, algumas famílias jovens e outras com um grande número de pessoas mais idosas. Diante desse cenário, profissionais de serviços sociais começaram a fazer o seguinte questionamento: “Como podemos reconectar as gerações e revitalizar as comunidades em que elos geracionais poderiam se tornar parte do ritmo de vida?”
Surgimento dos programas intergeracionais
O conceito de “Programas Intergeracionais” (PIs) começou a emergir nos anos de 1970. Tinham como base a evidência histórica de que existe uma sinergia entre os mais jovens e os mais idosos, o que frequentemente promove o desenvolvimento de relações positivas especiais entre essas duas gerações. Essa sinergia é possível por causa das necessidades e habilidades recíprocas dessas gerações, que melhoram seu aprendizado e crescimento mútuo, e capacitam esses grupos a compartilhar ideias que trabalham juntas em prol de metas comuns.
Definição
Programas intergeracionais são modelos de planejamento social que fornecem atividades importantes, contínuas e mutuamente benéficas, bem como intercâmbio de recursos e aprendizado entre as gerações mais idosas e mais jovens.
Durante as próximas três décadas e agora no século 21, em comunidades em todas as partes dos EUA, inúmeros programas intergeracionais têm sido desenvolvidos, os quais envolvem a participação de crianças, jovens, adultos jovens e idosos em uma variedade de locais (NEWMAN, 1997a).
Há dois desafios principais quanto a esses programas. Primeiro: podemos criar, para essas pessoas mais idosas e mais jovens, não conectadas biologicamente, as oportunidades para desenvolver laços e relacionamentos similares àqueles dentro de uma família, laços que promovam crescimento, aprendizado e amizade entre essas gerações? Segundo: podemos desenvolver modelos de planejamento social para nossas comunidades que se destinem às necessidades e utilizem as habilidades do jovem e do idoso e ajudem a desenvolver um novo ritmo intergeracional em nossas comunidades?
Em pequenas e grandes cidades, bem como em áreas suburbanas e rurais, locais comunitários que tradicionalmente atendiam somente populações mais jovens ou mais idosas começaram a oferecer programas que envolvem ambas as populações. Os participantes mais jovens são crianças de aproximadamente 3 anos de idade até jovens adultos de aproximadamente 21 anos de idade com necessidades e conhecimentos diversos. Os adultos mais idosos, normalmente acima de 60 anos de idade, são igualmente diversos e podem ser bem funcionais e independentes ou menos funcionais e dependentes. Os participantes do programa intergeracional representam a população socioeconômica, étnica e racial da comunidade.
Os locais nos quais podemos encontrar os programas intergeracionais são variados e têm se adaptado aos seus ambientes para atender às necessidades tanto dos participantes jovens como dos idosos. Em todos esses cenários, é importante que os coordenadores estejam cientes das necessidades, características e habilidades tanto dos participantes mais idosos do programa como dos mais jovens.
Locais e participantes intergeracionais
Crianças/jovens
• Escolas
• Bibliotecas
• Creches
• Clubes – esportivos, sociais, etc.
• Igrejas, sinagogas
• Faculdades, universidades
• Hospitais
• Clubes masculinos e femininos
Pessoas idosas
• Casas de repouso
• Residências
• Sistemas de cuidados de longo prazo com a saúde
• Clubes étnicos/sociais
• Clubes de lazer
• Centros comunitários
• Bibliotecas
Os programas intergeracionais se desenvolveram e o foco geral deles mudou. No início, atender às necessidades dos participantes era fundamental. No entanto, os novos programas começaram a responder à nossa sociedade em mudança ao abordarem assuntos que afetam as populações mais vulneráveis das comunidades. Atualmente, as metas gerais dos PIs são realizar mudanças na comunidade ao focar em questões sociais que tenham impacto em jovens e idosos da comunidade. Em todas as partes dos EUA, questões sociais variadas são evidentes, impactando famílias individuais e afetando a qualidade de vida de todos os membros da comunidade.
Questões socias abordadas pelos PIs
• Evasão escolar
• Falta de moradia
• Alfabetização
• Tecnologia
• Fraco desempenho escolar
• Meio ambiente
• Drogas
• Imigração
• Pobreza
• Solidão
• Abuso infantil
• Isolamento
A existência dessas questões sociais motiva o desenvolvimento de PIs que sejam feitos para promover crescimento social e aprendizado dos idosos e jovens, promover relacionamentos intergeracionais significativos e melhorar a qualidade de vida na comunidade. Líderes em sistemas comunitários e educacionais, tais como programadores, administradores, corpo docente e planejadores de políticas sociais, criam e implementam programas que dão oportunidades para que o jovem e o idoso participem de experiências compartilhadas que os habilitam a aperfeiçoar algumas condições que contribuem para essas questões sociais.
Quatro modelos gerais de programa abrangem o contínuo dos PIs. Os modelos são interativos e focados em interações, ajuda mútua e crescimento dos participantes (MCCREA e SMITH, 1997). As pessoas idosas ajudam o jovem e este ajuda os mais idosos, e as gerações ajudam umas às outras e a comunidade.
Modelos de programa
• Adultos mais idosos crianças, jovens, adultos jovens, famílias como: cuidadores, mentores, tutores, instrutores, defensores, amigos, confidentes
• Crianças, jovens, adultos jovens outros adultos como: visitas amigáveis, mentores, defensores, tutores
• Crianças, jovens, adultos jovens mutuamente em residências compartilhadas, salas de aula, experiências de aprendizagem, creches e casas de repouso
• Adultos mais idosos e crianças, jovens, adultos jovens outros como: planejadores, parceiros, consultores, defensores, líderes
Resultados
Como o fenômeno do programa intergeracional se expandiu para incluir milhares de participantes pelo país, estratégias de avaliação são desenvolvidas para verificar se esse modelo está tendo algum efeito em seus participantes. Números crescentes de modelos de programa incluem avaliações ou projetos de pesquisa de geração que reportam resultados de suas iniciativas. Normalmente, esses resultados são incluídos nos pedidos de financiamento para manutenção ou repercussão do programa. A figura a seguir destaca algumas descobertas típicas que indicam o impacto total do programa nos participantes dos programas intergeracionais (KUEHNE, 2003).
Resultados dos participantes
Pessoas idosas
• Aumento da autoestima e da satisfação com a vida
• Redução da solidão e do isolamento
• Melhoria da saúde física e mental
• Aperfeiçoamento das habilidades e funções cognitivas
• Melhoria da sociabilização
• Melhoria da compreensão e do respeito com crianças e jovens
• Criação de amizades intergeracionais
• Entendimento das necessidades da comunidade
Crianças e jovens
• Melhoria da alfabetização
• Melhoria das habilidades acadêmicas e sociais
• Redução da taxa de evasão escolar
• Aumento da autoestima e da autoconfiança
• Aumento das habilidades de liderança
• Melhoria da compreensão e do respeito com as pessoas mais idosas
• Criação de amizades intergeracionais
Fontes de financiamento
Nos EUA, o financiamento para os programas intergeracionais tem sido inconsistente, variado e, com frequência, uma função das prioridades de partidos políticos no poder. Procura-se o apoio público dos departamentos federais e estaduais como serviços de cuidados do idoso, educação, saúde e bem-estar, bem como desenvolvimento comunitário. Isso financia iniciativas nacionais, regionais e estaduais campeãs. Organização sem fins lucrativos e não governamentais (ONGs) incluem fundações, organizações comunitárias, grupos religiosos e clubes. Esse recurso está frequentemente disponível para programas regionais ou locais. O apoio privado para PIs é, normalmente, de nível local e está disponível para programas menores, geograficamente limitados. Os financiadores incluem corporações, pequenos negócios e contribuintes individuais.
Embora o fenômeno do programa intergeracional tenha sido parte da estrutura social dos EUA por cerca de 40 anos, seu futuro como uma iniciativa de financiamento nacional consistente continua incerto.
Melhores práticas
Após cerca de 40 anos de desenvolvimento de PIs, podemos identificar algumas das melhores práticas que contribuem para o sucesso de muitos desses modelos de planejamento social. À medida que o número de programas demonstrando as melhores práticas aumenta, da mesma forma aumentará o número que pode ser copiado em comunidades pelos EUA (LARKIN e ROSEBROOK, 2002).
• Funcionários e voluntários são bem treinados
• Funcionários, tanto os profissionais como os voluntários, têm sensibilidade quanto às necessidades e expectativas dos jovens e idosos
• Tempo adequado a fim de aprender as estratégias para o desenvolvimento do programa
• Há reconhecimento consistente e significativo
• Programa tem status
• Procedimentos de avaliação são contínuos
• Tanto os participantes mais idosos como os mais jovens se beneficiam
• Programa atende às necessidades definidas pela comunidade
• Metas e objetivos são claramente definidos
• Há colaboração entre agências e sistemas envolvidos no desenvolvimento do programa
• Funções e responsabilidades dos funcionários e voluntários são declaradas
• Administração e funcionários são comprometidos com o PI
Embora o modelo formal de planejamento social conhecido como PIs tenha tido sua origem nos EUA, há uma jornada intergeracional ocorrendo em outras partes do mundo. Na Europa, os modelos intergeracionais são dinâmicos e estão sendo desenvolvidos em mais de 20 países. Nos dias de hoje, Inglaterra, Espanha e Alemanha estão envolvidas em redes nacionais do sistema, reconhecidas pelo governo. Na Ásia, Japão e Cingapura estão comprometidos com múltiplas iniciativas intergeracionais nas quais as universidades assumem funções de parceria com agências comunitárias e governamentais. Na África, iniciativas nascentes são evidentes na África do Sul, em Botsuana e na Nigéria e focam em esforços intergeracionais que se destinam à pandemia de HIV/Aids. Por fim, Austrália e Nova Zelândia reportam PIs que refletem parcerias com universidades e sistemas escolares públicos. A demonstração de interesse no Brasil, pelo Sesc, em convocar uma conferência nacional é uma direção motivadora para um país sul-americano cuja nova liderança pode se tornar um modelo para o continente (HATTON-YEO e SCHLIMBACH, 2007; SÁNCHEZ, 2007; THANG et al., 2003; HOFFMAN, 2004; ODUARAN, 2003).
Conclusão
Os programas intergeracionais são um fenômeno social global cujo momento chegou. Esse fenômeno é apoiado por líderes em todas as partes do mundo e será representado como um tema no Congresso da União Europeia de 2012, sobre envelhecimento ativo e solidariedade intergeracional. O congresso reunirá representantes de 25 países, os quais discutirão um processo para desenvolvimento de uma sociedade para todas as idades.
Em direção a uma sociedade para todas as idades
“Solidariedade entre gerações em todos os níveis – em famílias, comunidades e nações – é fundamental para que se consiga uma sociedade para todas as idades” (NAÇÕES UNIDAS, 2002).
Quando a sabedoria e experiência de um idoso se juntam à criatividade e vitalidade do jovem, podemos criar nações que adotem a solidariedade intergeracional e deem oportunidades para todas as gerações a fim de que desenvolvam seu máximo potencial social, físico e intelectual.
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