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A capital dos talentos e doutores

por Alberto Mawakdiye

Tido como o município brasileiro com uma das culturas empresariais mais próximas à do Vale do Silício, nos Estados Unidos – em que as ideias de negócios na área de alta tecnologia brotam com facilidade –, a paulista São Carlos, localizada a 230 quilômetros da capital, está virando mais do que um mero exemplo. Para Pindamonhangaba (SP), ela se tornou um modelo a ser copiado, já que a cidade pretende montar um parque tecnológico nos moldes do Parque Eco Tecnológico Damha, considerado de última geração e que nem mesmo foi ainda inteiramente implantado em São Carlos.

Antes de conhecer o empreendimento desenvolvido em São Carlos, uma comitiva formada por representantes da industrializada cidade do vale do Paraíba visitou os parques tecnológicos de São José dos Campos e Ribeirão Preto, municípios também do interior de São Paulo e igualmente avançados nessa área. “Provavelmente o modelo a ser adotado em Pindamonhangaba será mesmo o de São Carlos”, comentou depois da visita o assessor de Desenvolvimento Econômico da prefeitura, Gutemberg Pereira Ramos. “Nosso interesse se justifica por se tratar de um empreendimento financiado pela iniciativa privada, que é o que precisamos.”

Araraquara, cidade vizinha de São Carlos, foi ainda mais longe. A prefeitura do município assinou em março, com o Instituto Inova – entidade são-carlense que congrega 41 empresas de alta tecnologia e é responsável pela implantação e gestão do Parque Damha –, um convênio que deu a essa associação o direito de gerenciar a incubadora de empresas da cidade. Transferida para um novo prédio cedido pela prefeitura, a incubadora terá capacidade para abrigar 16 empreendimentos, em vez dos atuais 12, tendo a mudança consumido investimentos municipais da ordem de R$ 500 mil.

“O Instituto Inova vai ajudar essas empresas a crescer e se desenvolver com sustentabilidade”, disse, durante a celebração do convênio, o prefeito de Araraquara, Marcelo Barbieri. “É uma entidade que sabe como transformar conhecimento em negócios. Queremos que ela traga esse know-how para nossa cidade”, completou Barbieri, garantindo que o imprescindível potencial para inovação as empresas da incubadora já têm e que seu faturamento cresceu de R$ 913 mil em 2008 para R$ 2 milhões em 2010, em boa parte devido aos novos produtos desenvolvidos nas áreas de máquinas e equipamentos, biotecnologia e informática.

Precondições

Pindamonhangaba e Araraquara são apenas dois exemplos de cidades que avançaram com olhos gulosos sobre a expertise de São Carlos na área de inovação e negócios. Prefeituras do Brasil inteiro tentam entender como São Carlos chegou aonde chegou, para, se possível, importar a experiência, bem-sucedida em vários aspectos.

Hoje, algo em torno de 250 empresas do parque industrial de São Carlos – ou mais de um terço do total – são estritamente de base tecnológica e têm as atividades amparadas em pesquisa e desenvolvimento. A indústria da cidade lembra uma cornucópia a lançar continuamente novos produtos em áreas como tecnologia da informação, materiais especiais, design industrial e equipamentos médico-hospitalares, por exemplo. A média anual de registros de patentes é de 14,5 para cada grupo de 100 mil habitantes – mais que o triplo da registrada no país, que é de apenas 3,2.

Além disso, o município não descansa sobre os louros, e já está, de modo discreto, tornando-se também um centro de excelência nos segmentos de energia limpa e aviação. O projeto Cidade da Energia, em implantação em uma área de 2,6 mil hectares a um custo inicial de R$ 24 milhões, pretende criar, em parceria com o governo federal, o maior centro de eventos e negócios em energias renováveis do país.

“A Cidade da Energia vai atrair muitas empresas do setor para São Carlos e aumentar a demanda por mão de obra especializada”, afirma o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia, Marcos Martinelli. Realmente, pelo menos uma empresa já confirmou presença, a Blue Sol, importante fabricante de painéis fotovoltaicos de Ribeirão Preto, que irá se instalar no Parque Damha em 2013 – um investimento superior a R$ 30 milhões.

Na área de aviação, um condomínio de 4,6 milhões de metros quadrados foi criado dentro do centro de manutenção da companhia aérea TAM – que mantém hangares e oficinas na cidade –, capaz de abrigar cerca de 20 empresas. Duas já aportaram no local: a americana Goodrich, fornecedora de sistemas e serviços para o mercado de aeronaves, segurança e defesa, e a alemã Krauss Aviation Technologies, companhia especializada em manutenção de trens de pouso.

Infelizmente para a maioria dos municípios brasileiros, porém, transplantar o modelo de negócios são-carlense na área de tecnologia talvez não seja tarefa muito simples, uma vez que ele se desenvolveu dentro de condições acessíveis a pouquíssimas cidades do país. A chave do sucesso nesse segmento está em São Carlos ter sabido articular, de maneira engenhosa, produção acadêmica e mercado, aproveitando-se do fato de poder contar, dentro de seu território, com nada menos que dois campi da Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), duas universidades privadas e dois laboratórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Tamanha densidade acadêmica, com fortes raízes nas ciências exatas, permite ao município – cuja população universitária é de mais de 25 mil estudantes – desfrutar da proeza de ser a cidade com o maior número per capita de doutores do país. Segundo um levantamento feito em 2010 pelo Departamento de Estatística da UFSCar, há um doutor para cada 180 habitantes – a média nacional é de um para cada 5.423 habitantes. Somando os profissionais com título de mestre, a proporção na cidade vai a um para cada 30 pessoas.

“Vários dos graduados passaram ainda por intercâmbios com instituições do exterior quando estudantes, especialmente os daquelas áreas mais relacionadas diretamente à ciência e à tecnologia, como ciências exatas, biológicas e médicas”, cita Paulo Cezar Vieira, responsável pela Secretaria Geral de Relações Internacionais da UFSCar. “Há muito intercâmbio de professores também.”

E – o mais incrível em se tratando do Brasil, país onde a universidade costuma ser pouco devotada à ciência aplicada – a grande maioria das mais de duas centenas de empresas de base tecnológica da cidade foi criada por alunos, professores e pesquisadores das universidades locais. Uma infinidade de negócios é comandada por engenheiros, físicos e matemáticos – muitos deles com doutorado e mestrado no currículo –, que ainda mantêm uma relação umbilical com o circuito acadêmico.

“O que diferencia São Carlos de outras cidades que também são polos universitários é que o município sabe como reter seus talentos”, explica José Octavio Armani Paschoal, ex-professor de engenharia da USP e presidente do Instituto Inova, que nasceu como um pequeno cluster de empresas de base tecnológica. “Muitos jovens de fora vêm estudar em nossas universidades. A diferença é que eles acabam ficando depois de formados e abrindo seus negócios por aqui mesmo.”

De acordo com Paschoal, a virada histórica de São Carlos – até então apenas uma cidade de animada vida estudantil, com alguma indústria convencional e uma agropecuária não muito moderna – deu-se em 1984, quando prefeitura e dirigentes universitários decidiram criar em São Carlos o ParqTec, a primeira incubadora de empresas de base tecnológica da América Latina. Ele lembra que o começo não foi fácil. O empreendimento atraiu não mais que quatro recém-graduados sem capital, que montaram suas firmas apoiados principalmente nas receitas do Imposto sobre Serviços (ISS) que a prefeitura repassava à instituição e em alguns poucos convênios. Os diretores trabalhavam em tempo integral e muitas vezes sem remuneração. O dinheiro dava apenas para pagar as contas de luz e telefone, o serviço de limpeza e o contador.

O físico Jarbas Castro, fundador da Opto Eletrônica, que participou dos tempos heroicos do ParqTec, recorda que a empresa não deu lucro por um bom tempo, só tendo decolado quando ele conseguiu vender a tecnologia de laser de leitura de código de barras para a Itautec, em 1986, e pôde, com os lucros, começar a investir mais em pesquisas para outros produtos. Hoje, já “desincubada” e com 400 funcionários, a companhia produz modernos microscópios para clínicas e hospitais e participa do projeto de desenvolvimento de lentes para os satélites do Programa Espacial Brasileiro, que tem a China como parceira. Já pôs os pés inclusive fora do país, mantendo equipes na cidade australiana de Adelaide, para promover os produtos da Opto nos mercados europeu e asiático, e em Sacramento, na Califórnia, para penetrar nos Estados Unidos.

“O importante é que podemos agora nos dar ao luxo de planejar no longo prazo. Desenvolvemos produtos que queremos lançar daqui a dez anos”, diz Castro. Para dar conta dessa estratégia, a empresa tem em sua folha de pagamento 15 doutores e 20 mestres, a maioria ainda com estreitas ligações com a universidade. Segundo Castro, cursos de mestrado e doutorado são considerados hora trabalhada na companhia. Ele mesmo ainda dá palestras semanais sobre empreendedorismo tecnológico no Instituto de Física da USP de São Carlos, onde já lecionou formalmente.

Upgrade

Trajetórias como a da Opto são comuns na história do ParqTec e fizeram a incubadora não apenas deslanchar, mas também servir de modelo para a criação de outros projetos similares, que hoje formam uma lista bastante alentada. São eles o Centro de Desenvolvimento das Indústrias Nascentes (Cedin), vinculado à prefeitura e ao Instituto Inova, o Centro Empresarial de Alta Tecnologia (Ceat), o Centro de Ciência, Inovação e Tecnologia em Saúde de São Carlos (Citesc), o São Carlos Science Park, ligado ao ParqTec, e o mais recente Parque Eco Tecnológico Damha.

Considerado o primeiro distrito empresarial de terceira geração do país, o Parque Damha constitui uma espécie de upgrade nos padrões de incubação são-carlenses. O empreendimento congregará empresas de tecnologia, conjuntos residenciais e amplos espaços comerciais e de lazer, como um shopping center e até um campo de golfe. Projetado pelo grupo Encalso/Damha, ocupa uma área de 3,6 milhões de metros quadrados de uma fazenda desativada que pertencia à hoje falida Companhia Brasileira de Tratores (CBT).

Dentre as empresas que já compraram ou reservaram boa parte dos 143 lotes do Parque Damha, um número significativo é constituído por firmas locais, voltadas para áreas como equipamentos de saúde, tecnologia da informação, novos materiais com nanotecnologia, biotecnologia e energias renováveis. Pelo menos uma estrangeira, a americana Symetrix Corporation, anunciou que irá montar ali semicondutores.

A escolha das empresas está a cargo do Instituto Inova, que hoje, além de responder pela gestão de parques e incubadoras, faz a ponte entre estes e as instituições federais de fomento, assim como com o governo paulista: São Carlos foi uma das cinco cidades escolhidas recentemente pelo governo estadual para receber apoio financeiro e logístico na construção de parques tecnológicos.

Os critérios de seleção do Inova são rigorosos e incluem diferenciais de sustentabilidade, como a utilização ao menos parcial de energia solar, reaproveitamento da água e reciclagem do lixo – além, é claro, da obrigatória atividade em algum setor de alta tecnologia, se possível com vistas a suprir demandas ainda mal atendidas. Esse é outro fator, aliás, que explica o poderio tecnológico-empresarial de São Carlos. As empresas e os institutos de pesquisa estão permanentemente “plugados” nas necessidades latentes do mercado nas mais diversas áreas de tecnologia, procurando atendê-las antes que o país tenha de recorrer à importação.

A USP destinou, por exemplo, R$ 900 mil à construção do prédio do Centro de Robótica de São Carlos, para dar melhor andamento às pesquisas que já realiza no setor. E um trabalho recente concluído na UFSCar analisou a eficácia de inibidores da bactéria Bacillus anthracis, causadora da doença antraz e que se acredita constar dos arsenais bioterroristas de alguns grupos espalhados pelo planeta.

Alguns insights das empresas rondam a prestidigitação. Fundada em 2002, a AGX Tecnologia iniciou seus projetos para a área de agricultura e meio ambiente quando ainda não era muito claro se o agronegócio, principalmente, começaria a demandar sistemas para aerofotogrametria e aerofotografia para mapeamento e análises agrícolas e ambientais. A aposta, porém, foi certeira – e quando a demanda se consolidou, a AGX estava plenamente capacitada a atendê-la. Foi a primeira empresa no Brasil a desenvolver veículos aéreos não tripulados, em conjunto com o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP e a Embrapa. Hoje, a AGX Tecnologia concorre diretamente nessa área com a gigante americana Boeing e as israelenses IAI e Elbit Systems, além de algumas montadoras nacionais. “A vantagem da AGX é que desenvolvemos tudo aqui no Brasil, com parceiros também nacionais, e estamos sempre atualizando ou diversificando os equipamentos, especialmente através de nossos contatos com os institutos de pesquisa da cidade”, conta Adriano Kancelkis, diretor da companhia.

As empresas também trabalham, às vezes, quase que por encomenda. A MM Optics, que desenvolve equipamentos para a área de saúde agregando a ciência da biofotônica à optoeletrônica, forneceu há pouco para o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú (SP), um aparelho revolucionário de detecção de câncer de pele e de combate a essa doença, produzido em parceria com o Instituto de Física da USP de São Carlos e a empresa EMS Sigma Pharma, no âmbito do programa Terapia Fotodinâmica Brasil, que tem o apoio do Instituto Nacional de Câncer.

“O hospital de Jaú é apenas o primeiro de uma lista de cem centros médicos do país que receberão o aparelho”, diz Fernando Mendonça, um dos diretores da MM Optics. A criação do programa foi estimulada pelo alto número de casos de câncer de pele registrados no Brasil: só no ano passado, estima-se que mais de 110 mil pessoas descobriram que tinham a doença. O aparelho vai viabilizar o tratamento gratuito de 8 mil pacientes, e poderá depois ser disponibilizado aos demais doentes.

Obviamente, dificuldades para as empresas high-tech de São Carlos existem, e não são poucas. O fato de não poderem contar com muitos subsídios públicos, à exceção de alguns benefícios fiscais e eventuais verbas dos órgãos de fomento, faz com que a falta de capital seja um obstáculo permanente no caminho dos empreendedores locais. A Opto, por exemplo, não encontrou no Brasil, mas na Austrália, no fundo Innovation Capital, os US$ 4 milhões que viabilizaram seu projeto de internacionalização.

A Opto, aliás, é uma das poucas que conseguiram lograr tal façanha. As empresas de tecnologia de São Carlos são pouco internacionalizadas, na média. Além da óbvia concorrência com players estrangeiros no exterior, a sobrevalorização do real fez com que a disputa de mercado, em diversas áreas, ocorresse inclusive no Brasil, com resultado nem sempre favorável às companhias nacionais.

Assim, dos US$ 42 bilhões a US$ 45 bilhões exportados anualmente pelo estado de São Paulo, São Carlos responde por apenas US$ 300 milhões, o equivalente a 21% de sua capacidade produtiva. Para piorar, as importações na cidade vêm aumentando, especialmente na área de insumos. Favorecidas pelo câmbio, as compras externas do município já correspondem a cerca de 40% de sua capacidade de produção.

Símbolo

Talvez o que melhor explique o invejável desempenho do setor tecnológico de São Carlos seja a profunda conexão estratégica que sempre existiu, nessa área, entre poder público, universidades e empresas. Um símbolo dessa articulação é o fato de mais da metade do secretariado municipal ser, desde a virada da década passada, composto por gente da universidade e de a cidade estar hoje sob a terceira gestão de um prefeito que é também ex-reitor. O deputado federal Newton Lima (PT) foi reitor da UFSCar na década de 1990 e assumiu a prefeitura em 2001. Deu lugar, em 2009, ao atual prefeito, Oswaldo Barba, também do PT, e que assim como ele é igualmente ex-reitor da UFSCar.

“Nesse aspecto, é um caso único no país”, comenta Newton Lima, que é membro titular da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados. “A população são-carlense tomou gosto por ter um acadêmico na prefeitura. Percebeu que um ex-reitor seria um dos mais capacitados a criar a sinergia que a cidade busca entre mercado e inovação tecnológica, usando essas duas instâncias para empurrá-la para a frente.”

Lima diz que um exemplo recente dessa sinergia está no esforço de criação de um novo polo aeronáutico na cidade. De fato, para atrair empresas do segmento para o município, a USP de São Carlos criou um curso de engenharia aeronáutica, o segundo do país, e no ano passado começou a funcionar um curso de tecnologia em aeronáutica na UFSCar. Já a prefeitura e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) abriram um curso técnico de manutenção de aeronaves, para que São Carlos ofereça a cadeia de formação completa para sustentar o polo aeronáutico que está sendo criado.

A prefeitura também está empenhada, desde 2008, em tornar o Aeroporto Estadual Mário Pereira Lopes uma unidade alfandegária e vem tentando convencer o governo do estado, proprietário do aeroporto, a ampliar a pista dos atuais 1,7 mil metros para 2,5 mil metros, para que a cidade possa receber aviões de grande porte.

Com o aeroporto funcionando como rota internacional de cargas e com a pista mais longa, São Carlos espera, além de atrair mais empresas, centralizar o fluxo de mercadorias por via aérea na região. O projeto, naturalmente, também é muito bem visto pela TAM. A ampliação da pista permitirá que a companhia aumente a movimentação de grandes aviões para fins de manutenção. Já a internacionalização reduzirá a burocracia para a entrada e a saída de aeronaves estrangeiras que contratem os serviços da empresa.


Densidade tecnológica

Além de constituir um permanente chamariz para novos investimentos – a TAM montou em 2001 seu centro de manutenção de aeronaves em São Carlos, por exemplo, por causa da massa crítica existente na cidade em mecânica e eletrônica –, os polos empresariais de cunho tecnológico também garantem uma longevidade maior para o setor de micro e pequenas empresas dos municípios-sede.

De acordo com estatísticas americanas e europeias, a taxa de mortalidade entre empresas com passagem pelo processo de incubação tecnológica é de cerca de 20%, antes de elas completarem o primeiro ano de funcionamento. Entre as nascidas fora desse ambiente, a taxa sobe para 70%. No Brasil, é de 80%.

A desvantagem das pequenas companhias de base tecnológica é que elas não são grandes usuárias de mão de obra. Costumam trabalhar com poucos funcionários, embora altamente qualificados. Muito por conta desse perfil, São Carlos tinha no último mês de maio cerca de 10% de sua população economicamente ativa desempregada, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e Renda. O número era 3,6% maior que o nacional, registrado em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O grosso do emprego industrial em São Carlos é oferecido pelas multinacionais ali implantadas e pelas empresas têxteis, de embalagens, de tintas e de máquinas e equipamentos, além da razoável quantidade de indústrias de pequeno e médio porte dos mais diversos setores.

Dentre as multinacionais, há grifes como Volkswagen (unidade de fabricação de motores), Faber-Castell (a subsidiária são-carlense é a maior do grupo em todo o mundo, produzindo 1,5 bilhão de lápis por ano), Electrolux (geladeiras e fogões), Tecumseh (compressores) e Husqvarna (máquinas para manejo florestal).

Elas foram para São Carlos, principalmente, devido à estratégica localização da cidade, no centro do estado de São Paulo e servida por um importante sistema rodoferroviário. A densidade tecnológica de São Carlos, contudo, também pesou na decisão.


Contra problemas, convênios

A existência de vários polos tecnológicos não fez de São Carlos uma cidade que nada em dinheiro. Com 221 mil habitantes e fortes marcas da imigração italiana, é apenas a 39ª mais rica do estado de São Paulo – imediatamente atrás da vizinha Araraquara – e apresenta ainda muitos problemas a resolver nas áreas de educação, saúde, planejamento urbano e habitação.

O déficit habitacional é calculado em cerca de 6 mil moradias. A Favela do Gonzaga, localizada no sudoeste do município, é até hoje estigmatizada pela população são-carlense como um foco de criminalidade (de resto, em declínio na cidade). De qualquer forma, São Carlos diferencia-se da maioria das cidades brasileiras por tentar também dar, com ênfase cada vez maior, um caráter algo “científico” aos programas sociais que desenvolve, através de convênios com as universidades.

Desde 2001 foram gerados pouco menos de 200 convênios entre a prefeitura e a academia, dentre os quais o principal foi um projeto em parceria com a UFSCar para a elaboração de um “mapa da pobreza”, o qual detectou as reais demandas do município em habitação, infraestrutura, educação, saúde e terceira idade. Também são dignos de nota os projetos na área de saneamento e segurança pública.

Com a Embrapa – cujas duas unidades locais, a Embrapa Instrumentação e a Embrapa Pecuária Sudeste, têm vários trabalhos assinados em parceria com empresas da cidade –, a prefeitura desenvolveu um programa, do qual algumas cidades do entorno também participaram, que logrou melhorar a agricultura familiar de São Carlos.

“Com o projeto, a produção dos pequenos agricultores aumentou, o que permitiu às prefeituras o fornecimento de 63 mil refeições por dia para escolas, asilos e creches”, conta Luiz Henrique Caparelli, chefe geral da Embrapa Instrumentação. “O programa beneficiou a todos os envolvidos: agricultores, poder público – que agora pode obter alimentos mais baratos e de melhor qualidade – e principalmente munícipes.”