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Memória e experimentação

Lucas Galeno
Lucas Galeno

A criação e pesquisa de lotus lobo, referência da litografia contemporânea brasileira

 

A gravadora, desenhista e professora mineira Lotus Lobo encontrou na litografia industrial o universo no qual desenvolve seu trabalho há quase seis décadas. O tema é seu principal objeto de pesquisa, iniciada quando visitou pela primeira vez, nos anos 1960, a extinta Estamparia Juiz de Fora (MG). Com o tempo, a criadora reuniu um acervo único, composto pelas matrizes em pedra calcária e zinco utilizadas na produção de letreiros e rótulos de embalagens diversas. Ao precioso conjunto que garimpava, acrescentava seus próprios trabalhos, frutos do domínio teórico e da paixão pela técnica de impressão, bastante difundida nas antigas fábricas de seu estado natal no começo do século 20.

A vasta produção artística da gravadora, um dos principais nomes das artes litográficas no Brasil, compõe a exposição Fabricação Própria – Lotus Lobo (leia mais no boxe Impressões do tempo). A mostra tem a curadoria de Marcelo Drummond, artista visual e professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Essa mostra individual foi organizada ao longo de dois anos, nos quais Lotus Lobo revisitou seu catálogo e buscou novos usos para as matrizes que conserva na casa-ateliê em que vive e trabalha em Belo Horizonte, onde, aos 78 anos, segue em plena atividade.

LUGAR DE (RE)INVENÇÃO

“Preparar a mostra foi como um grande laboratório em que pude revisar, sob novas perspectivas, todo esse material que reuni. Foram muitos ensaios, com o objetivo de criar conexões e diálogos com as ilustrações dos nossos queridos desenhistas da litografia industrial presentes nas matrizes. Realizei testes durante meses, usando, entre outros insumos, originais em zinco de latas de manteiga, banha, fumo de rolo e biscoito”, explica a artista mineira, ganhadora do Prêmio Itamaraty na décima Bienal de São Paulo, em 1969. “Sempre penso em não me repetir. Para mim, cada exposição é como lançar um livro.”

Para Marcelo Drummond, Fabricação Própria – Lotus Lobo apresenta o legado da artista, ao passo que também pretende reposicionar a gravadora entre os grandes nomes da arte contemporânea brasileira. “Lotus Lobo não é, propriamente, uma gravadora lato sensu. Ela é uma grande mestra que faz uso dos preceitos, materiais, modos e meios advindos da gravura, mas não fica presa a isso, produzindo cópias únicas”, analisa. Outro ponto destacado pelo curador é o local em que ocorre a mostra. “Uma questão que nos move é que a exposição está instalada em um ambiente fabril: o Galpão do Sesc Pompeia, revitalizado pelas mãos de Lina Bo Bardi (1914-1992)”, comenta, referindo-se ao conjunto projetado pela arquiteta ítalo-brasileira na década de 1970, onde anteriormente estava instalada a Indústria Brasileira de Embalagens (Ibesa), fabricante de tambores metálicos.

 

Impressões do tempo

EXPOSIÇÃO INVESTIGA ACERVO DA ARTISTA MINEIRA

Fabricação Própria – Lotus Lobo, em cartaz no Galpão do Sesc Pompeia até 30 de janeiro de 2022, recorre a saltos temporais para apresentar o acervo da artista, sem obedecer a uma linha do tempo estabelecida. A disposição das obras propositalmente leva o público a problematizar a noção de autoria, conforme revela Drummond: “Convidamos o visitante a entrar em uma ‘vertigem’ e se perguntar: isso que vejo é parte do acervo da Lotus Lobo ou é obra da artista Lotus Lobo?”. A exposição engloba a quase totalidade do conjunto de Maculaturas, nome dado, no passado, às chapas de folha de flandres utilizadas tanto para teste como para acerto de impressões de embalagens de produtos nas casas de impressão comercial em litografia. Tais chapas foram apropriadas pela artista como obras a partir de 1970 em função da sua primeira individual na Galeria Guignard, na capital mineira. No mesmo ano, a criadora participou da emblemática manifestação de crítica à ditadura Do Corpo à Terra, organizada pelo crítico de arte Frederico Morais em Belo Horizonte. Saiba mais: www.sescsp.org.br/pompeia e www.sescsp.org.br/exposicoes.

Para ver o catálogo da exposição, acesse:

https://issuu.com/sesc.pompeia/docs/ll_catalogo_miolo_completo_14-09_correcao_23_09

Para ler o artigo do jornalista Simões Neto disponível no portal do Sesc São Paulo sobre a exposição, acesse: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/15783_A+PLURALIDADE+CRIATIVA+DE+LOTUS+LOBO

Fotos: Everton Ballardin

 

Detalhes de Prensa I, 2019. Pedra litográfica sobre mesa e impressão fine art sobre papel. Acervo da artista

 

 

Maculatura, 1970. Impressão sobre folhas de flandres. Conjunto de 61 peças. Acervo da artista e coleções particulares

 

Identidade visual e projeto gráfico: Elaine Ramos, Flávia Castanheira e Julia Paccola

 

 

Sem título, 1930-60. Estamparia Juiz de Fora (MG). Embalagens originais em folha de flandres. Acervo da artista

 

 

Sem título, 1970-2018. Matrizes de zinco. Acervo da artista

 

Pedra matriz litográfica, 1930-60. Estamparia Juiz de Fora (MG). Acervo da artista

 

 

Detalhe, Sem título, 1930-60. Estamparia Juiz de Fora (MG). Embalagens originais em folha de flandres. Acervo da artista

 

 

 

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