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Ernest Cañada
PERSPECTIVAS DO TRABALHO TURÍSTICO PÓS-COVID-19
Ernest Cañada
Coordenador da Alba Sud
Analisar o trabalho no turismo hoje, quando o mundo vive uma época de incertezas por causa da pandemia de Covid-19, tornou-se uma tarefa urgente.
E mais: numa perspectiva de emancipação, essa análise constitui uma necessidade inescapável. Por muitos anos, a criação de empregos ligada direta ou indiretamente ao turismo foi usada por seus lobbies como argumento principal para legitimar a demanda de todo tipo de investimentos ou recursos públicos para o setor. Independentemente da qualidade dos postos de trabalho criados, sua simples enunciação servia para silenciar qualquer questionamento. Chegou-se até a sustentar que os empregos temporários e de jornada móvel, longe de serem um indicador de precariedade, significavam uma oportunidade para que as mulheres pudessem inserir-se no mercado de trabalho sem negligenciar suas responsabilidades nas tarefas de cuidado e do lar (UNWTO, 2014, p. 16). Assim, desigualdades sociais estruturais eram naturalizadas sob o mito do papel crucial do turismo na geração de emprego.
Na realidade, o grosso do trabalho no setor de turismo caracterizou-se historicamente por sua precariedade. Isso obedece a razões derivadas da natureza do seu funcionamento: forte oscilação na demanda, que leva as empresas a buscarem formas de flexibilizar sua mão de obra; uma relativa fixação no território, que provoca concentração de atrativos para além do próprio negócio, fazendo com que os empregadores tendam a reduzir os custos trabalhistas no local onde se desenvolve a atividade, mais que deslocar-se em busca de salários mais baixos; e, finalmente, baixos custos de formação, que acirram a competição entre trabalhadores por empregos de baixos salários.
Mas também tem a ver com as transformações ocorridas no setor, especialmente a partir da crise global de 2008, com um crescente peso do capital financeiro nos negócios turísticos, a consolidação do capitalismo de plataformas e a ampliação das mudanças tecnológicas que facilitaram a modificação das formas de organização do trabalho. E, acima de tudo, com a construção histórica de correlações de força favoráveis ao capital diante do trabalho (CAÑADA, 2019).
Atualmente, a paralisação da atividade turística internacional pôs em questão o modelo de turistificação global desenvolvido nas últimas décadas (CAÑADA; MURRAY, 2019) e, com ele, sua legitimação por meio do emprego. E isso porque, em situações de crise, que podem ser causadas por diversos fatores, não há alternativa econômica para esses territórios, já muito dependentes de uma única atividade.
A diferença entre os territórios turistificados e os territórios com turismo se aguça neste momento, já que, nos primeiros, a crise do emprego turístico tem efeitos estruturais que extrapolam o aspecto sociotrabalhista, enquanto, nos segundos, os danos, embora possam ser graves, têm caráter mais setorial (BORRÀS, 2020).
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