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Viver para contar
A TRAJETÓRIA DO GRUPO GALPÃO, QUE EM 2022 CELEBRARÁ QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
As ruas de Belo Horizonte foram testemunhas da reunião de atores e atrizes que formaram, em novembro de 1982, uma das mais importantes e longevas companhias teatrais do Brasil. Era o início do Grupo Galpão, que já transbordava a essência pela qual se notabilizou: a criação coletiva e uma linguagem artística que une o regional e o universal, o popular e o erudito. Sobre esse aspecto tão marcante, escreveu a crítica teatral Barbara Heliodora, em 12 de julho de 1993: “Se William Shakespeare tivesse nascido no interior de Minas Gerais, é bem possível que seu Romeu e Julieta saísse assim como o Grupo Galpão o apresentou neste último fim de semana na praça do espaço cultural dos Correios, no espetáculo concebido e dirigido por Gabriel Villela, que transborda mineirice ele mesmo”.
Outras palavras de arrebatamento – vindas da imprensa especializada, colegas de ofício ou espectadores – descrevem as quase quatro décadas desde o primeiro espetáculo da trupe, E a Noiva Não Quer Casar. Uma história amplamente registrada em imagens, ano a ano, compondo um rico acervo, que agora vem a público com o livro Grupo Galpão: Tempos de Viver e de Contar (veja Memórias em cena). A organização do extenso material é do ator e diretor Eduardo Moreira – integrante da linha fundadora da companhia.
“As imagens revelam a evolução estética do grupo e como o trabalho do Galpão foi respondendo às questões históricas, políticas, estéticas e sociais desse nosso tempo. O teatro popular e de rua do Galpão sempre o conectou profundamente com seu público e sua realidade”, afirma Moreira. “Todos os registros de todos os espetáculos mostram momentos significativos de nossas vidas e também do país e do mundo. Acho que o Galpão soube traduzir e encarnar com muita sinceridade essa luta que é fazer teatro no Brasil.”
MEMÓRIAS EM CENA
Livro oferece passeio por trabalhos do elenco com outros artistas e diretores convidados
Ao longo de 16 capítulos, ou atos, as dinâmicas que direcionam o trabalho do Galpão, como a produção colaborativa, são apresentadas ao leitor. Assim, o livro Grupo Galpão: Tempos de Viver e de Contar, lançamento das Edições Sesc, apresenta ao leitor momentos de encontros, em cena e nos bastidores, entre o elenco e outros artistas e diretores convidados, em excursões pelo país e pelo exterior. Eduardo Moreira assina a curadoria iconográfica em parceria com a atriz Inês Peixoto, integrante do grupo desde 1992.
A obra conta também com ensaio do crítico Valmir Santos. “Independentemente da pesquisa, da linguagem ou do procedimento criativo, toda obra gestada no Galpão traz, em gradações combinadas ou isoladas, a pregnância barroca de cores, sonoridades, volumes e outras emanações corporais, sensoriais, imagéticas, musicais e verbais. Mesmo o mais formalista dos espaços cênicos vazados é imbuído dessa aura única”, reflete Santos, em trecho da análise.
A edição bilíngue reúne 265 imagens dessa trajetória. Cada ato também está ligado a uma fase do grupo. O capítulo 3, por exemplo, intitulado “A explosão barroca do teatro (1992-1996)”, abarca o período em que o Galpão ganhou projeção nacional e amealhou prêmios com as peças Romeu e Julieta e A Rua da Amargura.
A linha do tempo dos espetáculos é encerrada com “O teatro político (2016-2018)”, quando a companhia realizou as temporadas de Nós e Outros, ambas sob a direção de Marcio Abreu. A publicação tem ainda uma seleção de excertos de críticas jornalísticas publicadas à época de cada montagem.
Inês Peixoto e Simone Ordones em Os Gigantes da Montanha | Thiago Costoli
Inês Peixoto e Júlio Maciel em cena de Pequenos Milagres | Clarissa Lambert
Simone Ordones e Júlio Maciel em Eclipse | Bianca Aun
Rodolfo Vaz, Antônio Edson e Inês Peixoto em cena de Um Molière Imaginário | Guto Muniz
Teuda Bara e Eduardo Moreira em cena de Nós | Guto Muniz
Em 1986, durante a preparação do espetáculo Romeu e Julieta, foram feitos ensaios na Vila Rural de Morro Vermelho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte | Guto Muniz