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Instituições de Longa Permanência e o cenário que a pandemia evidenciou

Ilustração: Talita Hoffmann
Ilustração: Talita Hoffmann

Danilo Santos de Miranda

Diretor do Sesc São Paulo

 

Abordar o tema das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) trata-se de matéria complexa, por trazer à tona questões de difícil enfrentamento. No entanto, o contexto da pandemia evidenciou não apenas a existência desses locais, mas, principalmente, a necessidade de reflexão acerca de seu modus operandi.

Desde março de 2020, foi possível observar as várias formas de contágio da doença, em especial nos idosos, sobretudo os residentes nessas instituições. De acordo com especialistas, a transmissibilidade do vírus nesses espaços pode ocorrer de forma intensa e rápida, tanto entre os residentes quanto entre os profissionais que ali trabalham, por conta do confinamento compulsório.

Contudo, a partir do aumento dos índices de óbitos de idosos nessas ILPI, noticiados dentro e fora do país, órgãos e profissionais implicados nessa problemática iniciaram uma articulação para superar tais circunstâncias por meio da mobilização e criação de frentes e canais de atuação: doações, videoconferências, pesquisas em guias de recomendações com o intuito de estabelecer uma rede de autoproteção.

Um aspecto tornou a situação ainda mais delicada: a partir da recomendação feita por médicos especialistas, foram suspensas as visitas a esses locais como forma de reduzir o contágio. Consequentemente, o distanciamento social provocado por tal medida agravou o sofrimento emocional, não apenas dos residentes, mas também dos familiares, amigos e pessoas próximas.

O afeto e a solidariedade, algumas das características que ficaram mais evidentes durante esse período, suscitaram a criação de alternativas para minimizar os efeitos desse afastamento. Um exemplo foi a “cortina do abraço”, por meio do qual as pessoas podiam se abraçar e vivenciar momentos de cuidado, mesmo com a limitação do contato físico intermediado por um plástico. Outras estratégias criativas surgiram para proporcionar aos velhos uma manutenção ou retomada de vínculos, contrapondo-se de algum modo ao isolamento das pessoas em seu convívio diário.

Nesse contexto, as ações do programa Trabalho Social com Idosos do Sesc São Paulo buscaram manter o contato com os públicos de forma virtual. Profissionais de diferentes áreas desenvolveram programações específicas que inventaram conexões presenciais possíveis, seguindo as recomendações e protocolos sanitários – exemplo disso foram as atividades em que músicos fizeram curtas e emotivas apresentações musicais na frente da casa de alguns idosos, ocupando as calçadas e respeitando o distanciamento físico.

Por sua vez, a revista Mais 60: estudos sobre envelhecimento procura proporcionar o diálogo acerca das condições de moradia para os idosos brasileiros, levando em conta que tempos difíceis carecem de ações de registro e reflexão para que possamos continuar a tratar do tema com a dignidade, a atenção e a solidariedade necessárias.

Boa leitura!