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O Sesc - Serviço Social do Comércio é fruto de uma iniciativa cuja originalidade se assenta em um sólido projeto cultural e educativo. Criado e mantido pelo empresariado do comércio de bens, serviços e turismo, o Sesc contacom uma rede de centros socioeducativos voltada para a promoção do bem-estar e da melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores desses setores, bem como da sociedade em geral.

Em suas unidades, o Sesc desenvolve rotineiramente atividades para o usufruto do tempo livre, o que, inegavelmente, também perfaz a experiência de ócio construtivo, orientado para o desenvolvimento humano. Diante de uma sociedade imersa no tempo do trabalho, na qual a competividade e os ritmos exaustivos dão a tônica enquanto o ócio e o tempo livre aparecem
com menor ênfase, torna-se imprescindível refletir sobre o viver bem, o lazer e a diversão (cuja raiz etimológica guarda relação com “divergir”, “mudar de direção”), uma reflexão que pode servir de contraponto a uma vida regrada pelo tempo do relógio e orientada somente para a eficiência e a produtividade.

O Sesc percebeu a necessidade de dar continuidade aos debates e estudos
sobre tempo livre que a instituição promove desde a década de 1960, organizando – vinte anos após a edição do Congresso Mundial de Lazer intitulada “Lazer em uma sociedade globalizada” – uma nova edição do mesmo evento,
em torno do tema “Lazer sem restrições”. O Congresso de 2018 joga luz sobre o imperativo da transposição das principais barreiras que ainda existem e dificultam o acesso das pessoas ao lazer, contemplando a reflexão e o enfrentamento sistemático desses entraves e contribuindo para seu redimensionamento como um direito na sociedade contemporânea.

Por ocasião da realização do Congresso, esta edição especial da Revista do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo traz artigos que abordam os estudos do lazer e do ócio advindos dos debates do ciclo “Perspectivas
Contemporâneas sobre Ócio, Lazer e Tempo Livre”, realizado nos meses de junho e julho de 2018.

O artigo “Perspectivas contemporâneas do lazer”, de Luiz Octávio de Lima Camargo, reflete sobre o futuro do lazer a partir da tríade tempo, espaço e atividade e os protocolos recomendados pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier, indicando a tendência a se buscar o entretenimento e a ludicidade em todos os tempos e espaços do cotidiano.

Adentrando no conceito de ócio, José Clerton de Oliveira Martins delineia seu percurso histórico e sugere que o conceito envolve muito mais que descanso e um “nada fazer”, abrindo-se para a recriação da vida, a contemplação e apreensão da integridade humana.

Em “Panorama da pesquisa em políticas públicas de lazer no Brasil”, Sílvia Cristina Franco Amaral apresenta um cenário dos estudos em políticas públicas de lazer no Brasil a partir de um levantamento dos atuais grupos de estudos distribuídos no território nacional.

Christianne Luce Gomes, por sua vez, amplia o escopo geográfico no artigo intitulado “Estudos sobre a temática do lazer na América Latina: um panorama”, no qual analisa os estudos do lazer no contexto latino-americano por meio de uma revisão bibliográfica e análise de questionário respondido por catorze especialistas da região.

Victor Andrade de Melo faz um recuo histórico no artigo “História do uso do tempo livre: a emergência do lazer (Inglaterra, século XVIII)” a fim de examinar como se estruturou o conceito moderno de lazer e a organização dos tempos sociais, delimitando o tempo livre como o concebemos atualmente.

No artigo “Trabalho, tempo livre e consumo sob o manto da racionalidade do capital”, Valquíria Padilha argumenta que somente haverá um tempo verdadeiramente livre quando houver a subversão da lógica do capital, que impõe o consumo de bens e serviços no tempo disponível, em prol daemancipação dos indivíduos.

Por fim, Denise Bernuzzi de Sant’Anna dedica seu artigo às brincadeiras infantis na cidade de São Paulo, abordando as diferenças históricas entre travessura, brincadeira e lazer durante o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Além de oferecer ao público diversas opções de lazer e ócio nos centros socioeducativos, a ação plural do Sesc se desdobra também em encontros e debates que buscam ampliar as reflexões e investigações sobre questões que circundam as noções de tempo livre, ócio e lazer nos dias de hoje.

Boa leitura!
Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo