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Comeback: um matador nunca se aposenta

RAIO X
Danilo Cymrot (*)

Como já diria Arnaldo Antunes, “todo mundo foi neném”, até Hitler, Bush e Saddam Hussein. Mas nem todos chegam a ser idosos. Só os sobreviventes. Por outro lado, atribui-se a Rui Barbosa a frase “não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”. Em determinados contextos, envelhecer poderepresentar não só um sinal de força, mas também despertar suspeitas. Para além da imagem do idoso como um ser frágil, infantilizado, digno de pena e/ou cuidado, quais segredos e marcas na alma ocultariam sujeitos com rugas e anos de bagagem na estrada da vida?

Comeback (2016), um filme de Erico Rassi, com uma interpretação arrebatadora de Nelson Xavier, em seu último trabalho, conta a história de um matador que volta à ativa. Em um mundo em que as pessoas são valorizadas na medida da sua produtividade, em que idosos são estigmatizados como improdutivos e simultaneamente a aposentadoria parece cada vez mais um sonho distante, o subtítulo do filme é ao mesmo tempo emblemático e irônico: um matador nunca se aposenta.

(*) Doutor e Mestre em Criminologia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Pesquisador do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo.