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Jacy de Carne e Sopro

Ilustração: Juliana Russo
Ilustração: Juliana Russo

Fernando Marineli (*)

Na Alemanha dos anos 1920, quando Erwin Piscator professou a importância de o teatro se basear em histórias documentadas, incluindo os recursos audiovisuais nascentes, tratava-se de uma tentativa e (re)colocar problemas reais no centro das discussões estéticas, desmistificando a produção vigente que abordava temas privados com apelo sentimental, sem relação com questões contemporâneas. A autocracia imperial deixara o poder na Alemanha havia pouco tempo e o teatro ainda se voltava essencialmente ao gozo das classes dominantes.

A peça teatral Jacy (1) se constitui em torno de uma frasqueira encontrada na rua, motivando a busca pela história de uma idosa então desconhecida. A investigação do grupo potiguar Carmin traz algumas revelações: nascida em 1920 em Ceará-Mirim (RN), Jacy se apaixonou por um militar estadunidense durante a Segunda Guerra, atravessando a ditadura militar como secretária executiva de um medalhão no Rio de Janeiro, importante núcleo político do Brasil, apesar da transferência da capital para Brasília. Jacy terminou seus dias sozinha, na cidade de Natal.

"Se o sentido da morte está relacionado com o percurso da vida, os caminhos contraditórios percorridos pela personagem e seu fim retirado do convívio permitem enxergar uma solidão sintomática, que não devemos imaginar apenas numa velhice vindoura, mas num cotidiano de relações o mais das vezes obrigatórias."

(1) Peça teatral Jacy - Encenada pelo Grupo Carmim

 


(*) Assistente Técnico da GEDES - Gerência de Estudos e Desenvolvimento, do Sesc São Paulo. Formado em Ciencias Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André. email:fernandomarineli@sescsp.org.br