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A música nascida do mangue
“Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto!” A frase de socorro compõe o Manifesto Caranguejos com Cérebro, escrito em 1992 por Fred Zero Quatro, líder da banda recifense Mundo Livre S. A. Além de apresentar o conceito de mangue, principal ecossistema que contorna a costa pernambucana, o texto traçava um panorama da cena cultural apática da capital, no início dos anos 1990, e acendia a chama do movimento manguebeat. Segundo o mesmo manifesto, era preciso devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade, injetando um pouco de energia na lama e estimulando o que ainda restava de fertilidade nas veias da manguetown Recife.
Uma antena parabólica enfiada na lama do mangue. Esse era o símbolo do movimento que passou a conectar pessoas e discutir o que estava sendo produzido no mundo, além de buscar o resgate e a valorização da cultura local, nas batidas do maracatu, do frevo, do coco, misturando-as aos acordes das guitarras e sintetizadores eletrônicos. A nova energia não só revigorou a cena musical de Pernambuco, com o surgimento de uma centena de bandas, mas também impulsionou artistas em outras áreas, como moda e audiovisual, que incorporaram em seus trabalhos a estética do mangue.
Da lama ao caos
O manguebeat uniu o rock, o pop, o rap e o funk a ritmos pernambucanos e inseriu a cidade de Recife no cenário mundial, como uma das metrópoles latino-americanas de maior importância cultural. O maior expoente do movimento foi Chico Science. Nascido em Olinda, o cantor e compositor foi um dos principais colaboradores do manguebeat e liderou a banda Chico Science & Nação Zumbi, uma das pioneiras do estilo. Com ela, gravou apenas dois álbuns, Da Lama ao Caos e Afrociberdelia, ambos incluídos na lista dos cem melhores discos de música brasileira da revista Rolling Stone.
Chico, considerado um dos mais importantes músicos brasileiros, morreu em 1997, aos 30 anos, em um acidente de carro numa das vias que ligam Olinda a Recife. Mesmo com sua morte, movimento e banda seguiram. Os vocais da Nação Zumbi foram assumidos por Jorge dü Peixe, que já tocava alfaia, um instrumento de percussão, e compunha junto com Chico. “Não me lembro de nenhuma letra que Chico tenha escrito e não tenha mostrado para Jorge dar um parecer”, conta o guitarrista da banda Lúcio Maia.
“Existia uma química muito forte entre eles. Quando Jorge pegou o vocal, já estava com a parada dele”. O grupo ainda conta com os músicos Dengue, no baixo; Pupillo, na bateria; Toca Ogan, na percussão; e Gilmar Bollas e Tom Rocha, nas alfaias.
Com 25 anos de carreira, a Nação Zumbi influenciou vários artistas brasileiros, como Otto, Cássia Eller, Arnaldo Antunes, além das bandas Planet Hemp, O Rappa, Cordel do Fogo Encantado, Mombojó, entre outros que regravaram suas canções. O SescTV apresenta neste mês o show da Nação Zumbi, gravado durante o Festival Batuque 2014, no Sesc Santo André. No repertório, sucessos como Meu Maracatu Pesa uma Tonelada, Manguetown, Quando a Maré Encher e Da Lama ao Caos.
Nação Zumbi
Dia 13, 22h
Direção: Camila Miranda
Classificação indicativa: 10 anos.