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Os desafios do envelhecimento masculino
Nos anos 60 do século XX, num contexto de lutas contra o autoritarismo na família e no Estado, destacaram-se as reivindicações do movimento feminista em grande parte das nações do Ocidente. Ao longo das últimas décadas, as conquistas sociais das mulheres têm avançado e são cada vez mais expressivas. No início, o movimento empolgou principalmente as jovens, já que nos chamados “anos dourados” não apenas as relações de gênero, mas também as relações entre as gerações, foram questionadas. Paulatinamente, porém, na esteira desse acontecimento social, os novos padrões de comportamento das jovens passaram a entusiasmar também as mais idosas. Um dado importante: atualmente, as jovens mulheres dos anos 60 estão ingressando na Terceira Idade e muitas delas podem ter sido protagonistas diretas daquelas históricas mobilizações. Participativas, ocupam diversos espaços sociais em atividades profissionais, de lazer ou de militância política e cultural. Esse novo modus vivendi feminino, inclusive na maturidade, fez os antropólogos falarem de uma feminização da velhice, como uma característica dos nossos dias. Já com os homens idosos não tem se dado o mesmo. Observações de profissionais da saúde e da área social atestam as dificuldades vividas pelos homens em seu processo de envelhecimento. É frequente entre os velhos a falta de autocuidados, isto é, a ausência de hábitos saudáveis, além da baixa participação social. As mulheres representam ampla maioria em praticamente todos os núcleos de Terceira Idade espalhados pelo país. Trata-se de um fenômeno complexo resultante de inúmeras condições. Alguns fatores têm contribuído para essa situação: a maior longevidade feminina, a atividade profissional mantida por muitos homens até idade avançada (por necessidade ou por demasiado valor dado ao trabalho), o preconceito dos homens a certas atividades de lazer, outras alternativas para a ocupação do tempo livre etc. Em um contexto social machista, como o nosso, de supervalorização do trabalho masculino e do desempenho sexual a qualquer custo, a aposentadoria e as naturais perdas biológicas do envelhecimento podem engendrar expressivas dificuldades de ajustamento a essa nova etapa da vida e levar ao isolamento e à depressão. Diferentemente do que ocorre em relação às mulheres idosas, são escassos os estudos nas áreas das ciências sociais e da saúde sobre o comportamento masculino na velhice, principalmente dentro do atual quadro da realidade brasileira. Esse fato levou o SESC SP a realizar o Seminário Envelhecimento Masculino, no SESC Avenida Paulista, de 3 a 5 de junho deste ano. Especialistas e pesquisadores discutiram como vive o homem idoso brasileiro, buscando captar sua diversidade de atitudes em recortes de classe social, geração, relações de gênero e de paternidade, em áreas como trabalho, lazer, militância, saúde, educação e família. A riqueza dos debates e das trocas de experiência nos motivou a convidar alguns dos conferencistas desse vento a elaborarem artigos para esta edição especial, baseados nas palestras que proferiram. Esperamos, assim, que essa reflexão possa contribuir para o conhecimento sobre o homem que envelhece e, por consequência, colaborar para a implementação de políticas sociais que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos da Terceira Idade.