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Esporte também se pratica!

Quando ligo a televisão atrás de algo que me estimule a levar uma vida mais saudável e ativa, percebo o quanto estou ficando velhinho — e, por isso mesmo, cada vez mais necessitado de ajuda nessa minha luta contra o sedentarismo. É que eu sou do tempo do “Mexa-se”, uma campanha veiculada pela TV em meados dos anos 1970 que tirou muita gente, de todas as idades, literalmente da zona de conforto. Inclusive eu, que devia ter uns 7 ou 8 anos, e meu avô, que já beirava os 80. Ali, juntos e pela primeira vez, nós tomamos consciência da importância da prática esportiva em nossas vidas. Tudo isso graças à força de uma mensagem simples, porém veiculada pela mídia com insistência e simpatia, no formato de um comercial. O “Mexa-se” tornou-se uma verdadeira febre. Esse slogan pegou tanto que acabou inspirando até uma musiquinha bem-humorada do cantor e compositor Juca Chaves. Passados quase 40 anos, eu ainda me lembro da letra, que dizia: “Mexa-se, mexa-se, é gostoso pra chuchu... Mas nunca tão depressa, quem tem pressa come cru!”


Como jornalista esportivo que sou (e como atleta de fim de semana aposentado que me tornei), sempre me pergunto: por que a mídia não faz mais coisas assim, criativas e ao mesmo tempo convidativas, para estimular a prática do esporte por parte da população? Principalmente nesses tempos em que vivemos, a chamada Era da Informação, com tanta interatividade, tantas redes sociais, tantos canais por assinatura especializados em esportes. Se isso era possível quando tínhamos no máximo sete redes, apenas na TV aberta e nem todas com alcance nacional, por que não agora? A desculpa da inviabilidade econômica de projetos como esse não vale. Com tanta gente interessada em “se mexer” e tantas empresas produzindo bens e serviços ligados ao tema, certamente público e patrocinadores não faltariam. Além do mais, a maioria das experiências feitas nesse sentido tem sido bem-sucedida, ajudando, por exemplo, a aumentar a frequência nas academias.


Atualmente, no entanto, são mesmo pouquíssimos os exemplos na mídia em que o esporte é apresentado como prática de integração social e bem-estar. Na verdade, pouquíssimos são os exemplos em que ele é apresentado sequer como prática. Em geral, é preciso zapear muito no controle remoto da televisão para encontrá-los, escondidos que estão em horários pouco convidativos. Como se fossem coisa para um gueto, um público restrito.


Como tudo na vida, isso também tem uma explicação. É que nesses primeiros anos do século XXI o esporte virou principalmente e cada vez mais uma indústria de lazer. Algo para ser assistido, não para ser praticado. De preferência do sofá, nem sequer do estádio ou do ginásio em que outros — geralmente atletas de alto rendimento, vistos como super-heróis —  o praticam para você ver. É como se a mensagem, espécie de antítese antipática do “Mexa-se” da minha infância, fosse: “Mas é só pra você ver, hem!” Para cada minuto de informação sobre prática esportiva, principalmente na TV, temos horas de exibição desses grandes espetáculos. Uma desproporção que se tornará ainda maior entre este 2014, o ano da Copa do Mundo, e 2016, o ano da Olimpíada no Brasil. 


Qual seria, então, a solução para mudar isso? Intensificar a informação sobre a prática esportiva, do mesmo jeito que a mídia já conseguiu fazer, com sucesso, em relação à espetacularização do esporte. Ninguém é contra a transmissão dos grandes jogos de futebol, da própria Olimpíada, do tênis, do vôlei, dos meetings de atletismo. Mas será que não dá pra equilibrar um pouco mais essa receita? Mais prática, menos teoria. Até porque é por meio da prática que se formará tanto o atleta quanto o aficionado de amanhã.

Esporte é meio, não um fim em si, como um dia bem observou o filósofo argelino Albert Camus (1913-1960), ao constatar que o “pouco de moral” que conhecia na vida ele havia aprendido “nos campos de futebol e nos palcos de teatro”. Ainda que os principais órgãos dirigentes do esporte no País se preocupem mais em projetar o número de medalhas a serem conquistadas pelo Brasil nas futuras competições do que em formar cidadãos, nós, até por uma questão de cidadania, não podemos jamais desistir de uma verdadeira política esportiva. Na mídia, no País, em nossas próprias vidas.