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"Criança gosta de se ver na TV"
Beth Carmona é diretora e produtora especializada em obras audiovisuais para crianças e adolescentes, formada em Jornalismo e em Rádio e TV. Em 2002, fundou a ONG Midiativa - Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes. É diretora geral e editorial do ComKids Prix Jeunesse Ibero-americano, versão do festival europeu criado para debater e fomentar a produção de obras audiovisuais infantis, realizado em parceria com o Sesc desde 2009.
Abaixo você confere a entrevista para a Revista SescTV.
Como começou seu envolvimento com produção audiovisual para crianças?
Assim que saí da universidade, busquei cursos de formação e, no final dos anos 1970, conheci o trabalho do Instituto Goethe, que estava oferecendo um curso sobre TV para criança. Por meio deles conheci o trabalho da Fundação Prix Jeunesse, que fica na Alemanha e tem tradição nesse debate. Fiquei muito entusiasmada, esse universo infantil me tocou muito. A carreira foi seguindo, fui trabalhar na TV Cultura, com produção e programação. Quando o canal passou a planejar a ampliação de sua programação infantil, tive a oportunidade de colocar em prática o que tinha aprendido lá atrás.
Como você avalia a atual produção audiovisual infantil na América Latina?
Três anos atrás, a situação ainda era muito difícil. Havia a referência da TV Cultura, no Brasil, e alguns outros casos isolados. De lá para cá, a Argentina evoluiu demais. Lá há um canal público infantil, 24 horas, chamado Paka Paka, mantido pelo Ministério da Educação. A Colômbia também tem desenvolvido uma série de coisas interessantes nos últimos dois anos. E temos agora uma série feita em coprodução entre sete países chamada Senha Verde. Daqui, temos a participação da TV Brasil. São minidocumentários com crianças que contam suas iniciativas em prol do Meio Ambiente. Trabalhei na direção e na produção deste projeto. É uma experiência muito rica, porque trabalha a formação de identidade latino-americana, aproxima esses países, valoriza a criança enquanto protagonista. E criança gosta de se ver na TV.
Qual a relevância para o Brasil em sediar uma edição ibero-americana do Prix Jeunesse?
É muito legal. Trata-se de uma conquista de um grupo militante da América Latina, que ano a ano ia até a fundação pedir uma versão do evento na sua região. Foi esse grupo que, cada um na sua terra, levou adiante sua busca por qualidade na produção para crianças. As primeiras edições do Prix Jeunesse Ibero-americano aconteceram no Chile e, desde 2009, são realizadas no Brasil, numa parceria com o Sesc.
Como você avalia a edição de 2013 do festival?
Esta edição [realizada entre 4 e 7 de junho de 2013] foi bárbara! Avançamos na área das múltiplas telas, com mais interatividade e com um segmento dedicado aos games. Foi uma inovação. Tivemos mais de 200 inscrições de obras audiovisuais e mais de 30 games. De 2009 para cá houve um salto de qualidade impressionante. Durante o festival, exibimos 80 produções, selecionadas por um pré-júri qualificado. Para a próxima edição já estamos repensando tudo, porque muito material bom fica de fora. E queremos ampliar a distribuição dessas obras, exibindo em unidades do Sesc. Porque acreditamos que a formação do olhar é importante. A criança precisa assistir algo de qualidade para reconhecer o que é uma produção com qualidade. E precisa ter contato com a diversidade de linguagens; não é apenas a animação, mas também o documentário, por que não? A ideia de obras de não ficção para crianças é válida, cria impacto, apresenta uma nova estética e traz a ideia da criança como protagonista.
Uma das bandeiras de produtores brasileiros hoje é ampliar a realização de programas de série e, dessa forma, ganhar mais espaço nos canais segmentados, cuja programação ainda é dominada por produções internacionais. O Brasil está evoluindo nesse campo?
A TV por assinatura vive um boom, pelo menos até que as múltiplas telas invadam seu espaço. Há muita gente produzindo para canais do Brasil e da América Latina. A animação vive um momento especial, com programas de série como Meu Amigãozão, Escola pra Cachorro, Peixonauta. Avançamos um pouquinho, mas esta indústria é voraz e ainda temos muito o que aprender com países como Estados Unidos, Inglaterra, Japão. Eles produzem numa velocidade incomparável. Portanto, há um desequilíbrio mesmo. E, entre assistir uma porcaria só porque é um produto nacional, e algo bom feito lá fora, ainda é melhor a segunda opção. Mas claro que é bom que a criança veja e identifique sua cultura nessas obras.