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Água da fonte
Maria de Fátima Palha de Figueiredo, a Fafá de Belém, nasceu em Belém do Pará em 1956 e começou a carreira de cantora profi ssional na década de 1970. Já lançou mais de 20 álbuns – o primeiro foi Tamba Tajá, de 1976 – e interpretou composições de Chico Buarque, Ivan Lins, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Roberto Carlos e Marcos Valle, entre tantos outros. No disco O Canto das Águas, que ela gravou em 2002 e que é base do show homônimo, Fafá faz um tributo a músicos paraenses.
Você, que já interpretou músicas de grandes compositores do Sudeste do País – do Rio, de São Paulo e de Minas –, estabeleceu uma volta às origens em Canto das Águas. Como e por que você decidiu realizar esse projeto?
O CD O Canto das Águas foi gravado em parceria com a Secretaria [de Estado] de Cultura em 2002. O espetáculo foi realizado em
Belém, no Teatro da Paz, e em Portugal, em Lisboa e Póvoa do Varzim. O projeto nasceu de um convite do secretário de Cultura [do Pará], Paulo Chaves.
Quando assumiu a Secretaria de Cultura, ele fez o registro dos autores, cantores e instrumentistas paraenses, conhecidos nacionalmente ou não. Nosso projeto foi um dos últimos a ser realizado. E o olhar é sobre o autor paraense, do mais erudito – Waldemar – aos populares, como Mestre Verequete e Cupijó, passando, é claro, por nossos grandes Paulo André Barata, Ruy Barata e Nilson Chaves, conhecidos e respeitados nacionalmente, e também pelo grande Sebastião Tapajós.
Qual a importância de manter vivas as tradições de uma região rica culturalmente omo o Pará? Você vê essa preocupação com o regionalismo nos trabalhos de outros artistas brasileiros importantes e que são provenientes do
Norte e do Nordeste do país?
Sim. Felizmente hoje esta é uma preocupação que estamos transformando em registro, um olhar sobre este Brasil muitas vezes esquecido pela mídia óbvia e visto como “exótico”.
Como esse resgate cultural da música paraense se relaciona a questões socioeconômicas ainda mais abrangentes no que diz respeito à população local, caso da preservação das comunidades ribeirinhas?
Li, há alguns anos, uma reportagem sobre a sociedade inglesa no fi nal do século XVII, que ia ao zoológico para ver em jaulas os “povos exóticos” – pretos, índios e quetais. Ao mostrarmos nossa cultura sem a caracterização folclórica, esse povo está lá representado com dignidade e respeito.
Sendo uma artista politicamente engajada, como você vê o papel da mídia e o da própria arte na discussão dessas questões?
Infelizmente vivemos um momento em que qualquer “lobby” transforma qualquer coisa em verdade, qualquer coisa que uma assessoria seja contratada para fazer virar “forte e verdadeiro”. Mas também temos a internet e a curiosidade verdadeira de nossa gente para esperar as marés passarem e ver o que fi ca. E assim seguimos...
A nova geração de músicos do chamado “país Pará” se vale, de alguma forma, das novas plataformas de mídia para fazer com que seu trabalho seja apreciado por um maior número de pessoas? Isso benefi ciaria também gerações anteriores no reconhecimento de suas obras, no caso de haver um encadeamento de estilos, uma união entre os músicos paraenses de diferentes épocas?
Há o que é bom e o que é presepada. Entendo que esse movimento só ganhará vida longa se o que deu base ao que é verdadeiro e hoje repercute for respeitado e divulgado.
Como evoluiu a música paraense ao longo dos anos? Você poderia citar artistas signifi cativos de diferentes gerações que tenham infl uenciado seu trabalho?
Belém foi uma das primeiras capitais culturais do Brasil. A ópera e a música erudita desde sempre se misturavam com nossa música popular. Durante a Segunda Guerra, a base americana trouxe o jazz e o bebop. Fui criada nesse ambiente. Do jazz aos ritmos populares e caribenhos, tudo me influenciou.
Os músicos locais conseguem sobreviver apenas de sua arte? Quais os principais problemas que enfrentam?
Infelizmente só poucos conseguem sobreviver apenas da música. Os principais problemas são a distância e um mercado local pequeno que não consegue gerar a boa concorrência para que os cachês sejam valorizados.