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A música de invenção de Gilberto Mendes

Selo Sesc lança o CD A música de Gilberto Mendes - vários compositores num só compositor com obras inéditas produzidas em diversos momentos da vida do compositor, que chega aos 88 anos e ainda se renova com propostas questionadoras.

Interpretado por Ensemble Música Nova, Martha Herr, Coro de Câmara do Música Nova, Andréa Kaiser e Fabio Zanon, com regência de Jack Fortner, A música de Gilberto Mendes - vários compositores num só compositor é uma oportunidade de aproximação do público com a obra de um dos compositores mais emblemáticos da vanguarda, seja pelo Manifesto Música Nova, que teve entre outros signatários Rogério Duprat, Willy Correa de Oliveira e Júlio Medaglia, pela criação do Festival Música Nova, que chega em sua 45ª edição este ano com apresentações na cidade de São Paulo e de Santos - cidade do compositor, por sua associação ao grupo Noigrandes, com Décio Pignatari e os irmãos Campos, no campo da literatura concretista ou pelos happenings musicais.

Conheça um pouco mais sobre a obra de Gilberto Mendes a ser lançada pelo Selo Sesc pelas palavras de Lorenzo Mammi, professor de Filosofia da USP, especialista em música contemporânea e integrante do conselho artístico do Festival Música Nova:

"Há cinqüenta anos, a obra de Gilberto Mendes é referência obrigatória para todo compositor do Brasil que lide com música inovadora. Foi entre os primeiros a introduzir no Brasil a nova música de linhagem pós-weberniana, a explorar as relações com a poesia de vanguarda (graças sobretudo ao sodalício com os poetas concretos), a inaugurar procedimentos performáticos e aleatórios; finalmente, a partir da década de 1980, abriu o caminho para uma corrente de neotonalismo e “nova simplicidade” de que é ainda hoje o representante brasileiro mais importante.

O que chama mais a atenção, num percurso tão longo, tão cheio de reviravoltas inesperadas, é que o resultado não tem nada de eclético. Transitando entre tantas técnicas e estilos, Gilberto Mendes construiu progressivamente uma maneira de compor que é só dele, e que faz que a autoria de uma peça sua seja imediatamente reconhecível.

Esse CD permite confrontar suas diferentes fases em peças pouco ou nunca executadas, em sua maioria, mas fundamentais na obra do autor. As quatro primeiras faixas trazem composições escritas entre 1961 e 1962, anteriores até à publicação do Manifesto Música Nova (1963), de que Gilberto Mendes foi promotor e signatário. São composições que demonstram, além do domínio já completo do estilo pontilhista pós-weberniano, o emergir de um estilo individual: já aparece o gosto por orquestrações inusitadas, mas sempre equilibradas e transparentes; a construção por justaposição de segmentos bem caracterizados e concisos; a importância dada às células rítmicas; o uso de elementos “estranhos” (como o berimbau na 'Música para 12 instrumentos' ou o coro falado no 'Cavalo azul') como eixos que organizam os diferentes episódios; e até a sombra de sonoridades que, embora extremamente purificadas, lembram o jazz e música popular (certos tratamentos dos metais, em 'Cavalo azul'; o diálogo de saxofone e contrabaixo em pizzicato, em 'Rotationis'). Há momentos em que a textura converge em uníssonos de surpreendente simplicidade – no final de 'Rotationis' e na primeira entrada do coro de 'Cavalo azul', por exemplo.

O delicado mantra de 'O meu amigo Koellreutter' marca, aqui, a transição de uma fase a outra. Aparece nele uma utilização peculiar dos procedimentos minimalistas, baseada na ampliação ou contração progressiva de pequenas células melódicas, característica da obra de Gilberto a partir da década de 1980. A mesma técnica é reconhecível, mais desenvolvida, em 'Uma foz, uma fala'.

Um dos atrativos deste CD é a presença de composições recentes, especialmente a 'Sinfonia dos navios andantes', encomendada pelo Festival de Campos de Jordão do ano passado. Nela, um ritmo popular, no piano, marimba e bongôs, funciona como o ritornelo de um rondó, articulando episódios tonais ou seriais. A contraposição explícita das duas linguagens numa mesma composição é uma novidade, e parece inaugurar uma nova abordagem. Mas vale também comparar essa composição com a 'Música para 12 instrumentos', de quase cinqüenta anos antes. Ali também, o berimbau funcionava como refrão para articular os diferentes solos, duos e tutti instrumentais, obedecendo a um desenho estrutural muito parecido. Gilberto Mendes continua inventando, e continua ele mesmo".

 

 
 CD
A música de Gilberto Mendes - vários compositores num só compositor

 À venda na Livraria Sesc!

Ouça trechos de todas
as faixas do álbum!


 

 

Saiba mais:
Gilberto Mendes
Jack Fortner

Ensemble Música Nova
Martha Herr
Andrea Kaiser
Beatriz Alessio
Fabio Zanon
Cesar Masano
Augusto de Campos

 

o que: A música de Gilberto Mendes
quando:

28/10 - quinta, às 21h

onde:

Sesc Vila Mariana | R. Pelotas, 141 - tel.: (11) 5080-3000

ingressos:

R$ 10,00 [inteira]
R$ 5,00 [usuário matriculado no Sesc e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante]
R$ 2,50 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes]


o que: A música de Gilberto Mendes
quando:

29/10 - sexta, 20h30

onde:

Sesc Santos | R. Conselheiro Ribas, Clélia, 136 - tel.: (13) 3278 9800

ingressos:

R$ 8,00 [inteira]
R$ 4,00 [usuário matriculado no Sesc e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante]
R$ 2,00 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes]

     

Apresentações na cidade de São Paulo e Santos

O Festival é uma realização do Sesc São Paulo - com patrocínio da Petrobrás, Lei de Incentivo à Cultura e Ministério da Cultura - e acontece simultaneamente nas cidades de São Paulo (Sesc Vila Mariana, Sesc Consolação e Auditório Ibirapuera, de 10 a 28/10) e Santos (Teatro Coliseu e Sesc Santos, de 5 a 29/10).

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Gilberto Mendes

O compositor Gilberto Mendes nasceu em Santos, 1922. Aos 19 anos trocou as arcadas da Faculdade de Direito de S.Paulo pelo Conservatório Musical de sua cidade, onde estudou com o Maestro Savino de Benedictis e a mitológica pianista Antonietta Rudge. Embora praticamente autodidata como compositor, trabalhou sob orientação de Cláudio Santoro e Olivier Toni, e freqüentou os históricos “ferienkurse fuer neue Musik” de Darmstadt, Alemanha.

Conferencista e colaborador de diversos jornais e revistas brasileiras, grande agitador cultural, fundou em 1962 o Festival Música Nova de Santos, e assinou no ano seguinte o Manifesto Música Nova. Lecionou na Universidade de Brasília, PUC-SP e ECA-USP, da qual é professor doutor aposentado. Como University Artist, em 1979 deu aulas em The University of Wisconsin-Milwaukee. E em 1983 assumiu a cátedra de Tinker Visiting Professor, da University of Texas at Austin, importante distinção universitária norte-americana já recebida anteriormente pelos escritores Jorge Luis Borges e Haroldo de Campos.

Recebeu prêmios da APCA, o Prêmio Carlos Gomes “hors concours”, a Bolsa Vitae, Homenagem do Festival de Campos do Jordão em 2009, a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. É um dos pioneiros no Brasil no campo da música serial, concreta, aleatória, da incorporação do teatro à ação musical. Suas obras, já tocadas nos 5 continentes, abrangem todas as formas musicais. Destacam-se Santos Football Music, Beba Coca-Cola, Asthmatour, Pausa e Menopausa, Rimsky, Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamour, Concerto para piano e orquestra, e a recente Alegres Trópicos, para orquestra e coral, encomendada, tocada e editada pela OSESP.

Gilberto Mendes faz parte do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México, e é membro honorário da Academia Brasileira de Música. Autor dos livros “Uma Odisséia Musical” e “Viver sua Música”, publicados pela EDUSP, este último finalista do Prêmio Jabuti 2010.

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Jack Fortner

Compositor e regente. Estudou composição com Hall Overton na Juilliard School of Music e concluiu seu doutorado na Universidade de Michigan, onde estudou com Ross Lee Finney, Niccolo Castiglioni e George Wilson. Foi professor da Universidade de Michigan e da Universidade do Estado da Califórnia, em Fresno (CSUF).

Como regente, esteve à frente de importantes orquestras, como a Sinfônica de Detroit (EUA), Sinfônica de Merced (EUA) e Sinfônica de Guanjuato (México). Dirigiu ainda a Sinfônica Municipal de Santos em concertos do Festival Música Nova. Como compositor, foi diversas vezes premiado, com destaque para o Prêmio Internacional de Composição da Fundação Royaumont, em 1966. Suas composições são publicadas pela Editions Jobert, em Paris, e pela Theodore Presser Company, na Filadélfia. É Diretor artístico do Orpheus, conjunto de câmara que fundou em 1978.

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Ensemble Música Nova

Criado na 42ª edição do Festival, o Ensemble Música Nova é um conjunto de instrumentistas que se reúne especialmente a cada edição do Festival, com formação variável, a partir de um programa específico. Na 43ª edição do Festival Música Nova, teve a direção do regente norte-americano Jack Fortner, que convidou para constituir o Ensemble o Núcleo Avançado de Performance, grupo formado por professores do departamento de Música da ECA - USP que são solistas com grande destaque no cenário musical brasileiro.

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Martha Herr

Norte-americana radicada em São Paulo, é Doutora em Música pela Universidade do Estado de Michigan (EUA). Participa de concertos e óperas no Brasil, EUA e Europa, como solista e integrante de conjuntos de câmara. É professora de canto e disciplinas teóricas nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Música da UNESP, onde coordena o Grupo de Estudos da Expressão Vocal na Performance Musical. Em 1990 foi nomeada cantora do ano pela APCA e em 1998 recebeu o Prêmio Carlos Gomes. Realizou inúmeras gravações no Brasil e no exterior, com destaque para Europera V, de John Cage, Obsequium, de José Penalva e Bachianas Brasileiras nº 5, de Villa-Lobos. Entre suas performances mais recentes destacam-se a atuação na primeira montagem brasileira de O Anel dos Nibelungos, de Wagner (2005) e a atuação como Olga Benario na ópera Olga, de Jorge Antunes (2006).

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Andrea Kaiser

Mestre em Música pela USP e diplomada em ópera performance na Hochschule für Musik und Darstellende Kunst de Viena, foi aluna de Martha Herr e Leila Farah, no Brasil e de Hilde Rössel-Maydan e Elisabeth Schwarzenberg, na Áustria. Criadora do Materiales Ensemble e integra o Núcleo Hespérides. Apresenta-se também com a alaudista Carin Zwilling e a pianista romena Dana Radu. É professora da Escola Municipal de Música de SPe da Escola de Arte Dramática da ECA-USP.

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Beatriz Alessio

Santista, estudou com José Eduardo Martins, Beatriz Balzi, Miguel Angel Scebba e Eduardo Monteiro. Vencedora de vários concursos nacionais de piano e mestre em Musicologia pela USP, atua intensamente como solista, camerista, professora e pesquisadora, com ênfase na divulgação da música contemporânea brasileira. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado na UNIRIO sobre a obra pianística de Gilberto Mendes.

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Fabio Zanon

Violonista brasileiro, começou seus estudos com seu pai e prosseguiu-os com Antônio Guedes, Henrique Pinto e Edelton Gloeden. Graduou-se em música pela Universidade de São Paulo em 1987. Em 1990, continuou seu estudos sob a orientação de Michel Lewin na Royal Academy of Music em Londres, onde obteve seu mestrado em música pela Universidade de Londres e participou da série de master-classes de Julian Bream.

Fábio Zanon foi vencedor do 30º concurso “Francisco Tárrega” e do 14º Concurso da Fundação Americana de Violão(GFA). Em 1997 recebeu o Prêmio Moinho Santista e recebeu o título de Associate da Royal Academy of Music em Londres onde também atua como professor visitante. É considerado como um dos melhores e mais atuantes violonistas erudito do Brasil. Sua discografia inclui projetos como: Latin American Sonatas: Guastavino, Miranda, Ardévol, Ginastera, Fernandez, Fariñas EGTA, 1997 Heitor Villa-Lobos: The Complete Solo Guitar Works. Music Masters, 1997 Guitar Recital: Tarrega, Bach, Faria, Mertz, Ponce Naxos, 1998 (reeditado na Itália: Seicorde, 2004.) Les Enfants du Siècle Soundtrack by Luís Bacalov. Decca, 2000 Tangos and Choros (with Marcelo Barboza, flute): Piazzolla, Gnatalli, Villa-Lobos, Pujol, Côrtes Meridian, 2002 Domenico Scarlatti Sonatas. Musical Heritage, 2006 Jan van der Roost Trumpet and Guitar Concertos,Phaedra Records 2004.

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Cesar Masano


Cesar Masano é o primeiro percussionista formado na classe de Ricardo Bologna, na USP. Após realizar turnê européia com a Orquestra Jovem das Américas e ser convidado a tocar com a Simón Bolivar Youth Orchestra of Venezuela, entrou para a Academia de Música da OSESP. Atualmente, realiza mestrado em Bremen, Alemanha, com os professores Olaf Tzschoppe e Jesper Tjaerby Korneliusen.

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Augusto de Campos


O paulistano Augusto de Campos é um dos mais importantes poetas brasileiros. Criador, nos anos 50, junto com seus companheiros de luta poética (seu próprio irmão Haroldo, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo e José Lino Grunewald), da revolucionária, polêmica poesia concreta. Também refinadíssimo tradutor da poesia de invenção de todos os tempos, é ainda sensivel e competente analista da música de nosso tempo. Em 1963 abriu a revista de seu grupo noigandres para a publicação do Manifesto Música Nova.

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