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Desafio nos céus

O mistério das estrelas atrai cada vez mais profissionais e amadores

CECÍLIA PRADA


Observatório PIco dos Dias, em Brasópolis (MG) 
Foto: Divulgação

Em janeiro deste ano dois feitos notáveis foram registrados na história da conquista espacial - a aterrissagem, após uma viagem de sete anos, da sonda européia Huygens em Titã, a maior das nove luas de Saturno, o lugar mais distante já atingido por algum engenho fabricado pelo homem (a mais de 1 bilhão de quilômetros da Terra); e o lançamento pelos Estados Unidos da espaçonave Deep Impact, dotada de um módulo que deverá chocar-se com o cometa Tempel 1 no dia 4 de julho próximo. E que será o primeiro acontecimento desse gênero.

O lançamento do satélite artificial Sputnik 1 pela União Soviética, em 1957, marcou o início da Era Espacial, exacerbando os desafios competitivos já existentes entre as diversas potências, pois a conquista e a exploração do espaço exterior passaram a figurar obrigatoriamente na pauta de ações dos governos. Mas no campo da astronomia e ciências afins, da segunda metade do século 20 até hoje, o progresso nas pesquisas, as descobertas espetaculares, prosseguem em aceleração contínua, e, na Terra ou no espaço, cientistas e astronautas formam uma comunidade compacta - cuja preocupação principal é tentar desvendar o grande enigma: como surgiu o universo e o que pode acontecer com ele?

Apesar de saber que nosso planeta não passa de "um pelote de poeira que dá voltas em torno de uma vulgar estrela situada no rincão mais remoto de uma obscura galáxia" - como dizia o astrônomo Carl Sagan -, o homem não desiste desse desafio supremo. Aos cientistas juntam-se, em número crescente, "amadores" com instrumentos cada vez mais eficientes, enquanto programas especiais são realizados em escolas, com o objetivo de despertar cada vez mais o interesse das novas gerações pela observação do céu.

Diante dessa euforia, nos perguntamos - qual o papel que o Brasil representa, nesse campo específico da ciência? E como se desenvolve neste momento o programa espacial brasileiro?

Time de estrelas

Uma coisa é certa: não estamos fazendo feio perante a comunidade científica internacional. O Brasil lidera as pesquisas astrofísicas na América Latina e figura em 15º lugar no ranking mundial da produção científica, nesse campo. Há hoje cerca de 310 astrônomos profissionais no país (três décadas atrás não chegavam a meia dúzia), e podemos afirmar que por trás de algumas descobertas significativas têm estado, recentemente, cientistas brasileiros. No momento, há 11 programas de mestrado e sete de doutorado no país. Na opinião de Robert Williams, dirigente do Instituto do Telescópio Espacial Hubble, "a astrofísica brasileira foi a que mais cresceu em quantidade e qualidade nos últimos anos".

Exemplo da excelente qualificação dos doutores formados no Brasil é que os encontramos hoje muito bem colocados no exterior, participando dos mais avançados projetos - é o caso, por exemplo, do jovem astrônomo Márcio Catelan, que se doutorou pela Universidade de São Paulo (USP) em 1996 e dois anos depois obteve, aos 29 anos, a posição pós-doutoral mais prestigiosa que existe no mundo - a Hubble Fellowship. Foi a primeira vez que um cientista de um país em desenvolvimento a conseguiu. Nessa época, Catelan já estava trabalhando havia quase três anos nos Estados Unidos, no Centro Espacial Goddard, da Nasa (agência espacial norte-americana), e na Universidade de Virgínia, na qualidade de pesquisador associado.

Atualmente, Márcio Catelan é professor associado na Pontifícia Universidade Católica de Santiago do Chile, para onde decidiu ir em outubro de 2001. Diz Márcio: "No Chile estão os maiores e mais sofisticados telescópios do hemisfério sul. Como membro da comunidade chilena, tenho agora assegurado meu acesso a todos eles, o que não ocorreria se estivesse em outros países, inclusive no Brasil e nos Estados Unidos, porque cada país tem acesso garantido somente aos telescópios de suas respectivas instituições".

O Brasil participa hoje dos consórcios que construíram e administram alguns dos maiores telescópios do mundo - os Gemini e o Soar. A inauguração, em abril do ano passado, do Telescópio Soar (Southern Astrophysical Research Telescope) no cerro Pachón, no Chile, representou a abertura de mais um importante campo de pesquisa para a comunidade científica brasileira. O país participou, com três universidades norte-americanas e com o governo chileno, da construção do Soar, na proporção de um terço, contribuindo não somente com verbas diretas fornecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para integrar o custo total do projeto (de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões), mas com tecnologia - parte dos aparelhos e a cúpula do observatório foram produzidas no território nacional. Com essa participação temos assegurada a cota prioritária (31%) do tempo de observação, uma disponibilidade da maior importância para nossos astrônomos.

Segundo o pesquisador Albert Bruch, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), que é no Brasil a secretaria operacional tanto do projeto Soar como do Gemini, "a alta qualidade dos espelhos do Soar faz com que ele esteja entre os melhores desse porte, talvez seja até o melhor do mundo". Com uma localização privilegiada nos Andes (a 2,7 mil metros de altitude), o Soar pode fornecer imagens na faixa do infravermelho melhores que as captadas pelo Telescópio Espacial Hubble. Ainda segundo Bruch, o Soar permitirá "um salto quântico na quantidade e qualidade das observações feitas pelo Brasil".

O país também faz parte (com uma participação inicial de 2,5%, acrescida da compra da fração chilena em setembro de 2004) do consórcio internacional que construiu os Observatórios Gemini - Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Brasil e Argentina -, em funcionamento desde 2001. O sistema Gemini consiste em dois telescópios com espelho de 8,1 metros de diâmetro, um deles localizado na montanha Mauna Kea, no Havaí, e outro na mesma área chilena do cerro Pachón que hoje está sendo inclusive explorada turisticamente como "a área dos grandes telescópios". Em território nacional, o LNA, que tem sede em Itajubá, no sul de Minas Gerais, é o principal fornecedor de meios operacionais para a realização de pesquisas astronômicas - conta com o maior telescópio óptico em solo brasileiro, com um espelho de 1,6 metro de diâmetro, localizado no pico dos Dias, em Brasópolis (MG), a 1.860 metros de altitude, inaugurado em 1980.

Em 2001, o Ministério da Ciência e Tecnologia lançou o programa Institutos do Milênio, para estimular com investimentos significativos as pesquisas consideradas estratégicas da ciência brasileira. Recebendo uma verba de R$ 3,1 milhões a partir de novembro de 2001 e por um período de três anos, o programa Megalit (Instituto do Milênio para Evolução de Estrelas e Galáxias na Era dos Grandes Telescópios), sediado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, conta com a integração em rede de mais de 80% dos astrônomos do país - cujo trabalho, além das pesquisas específicas, compreende um estímulo ao sistema educacional em todos os níveis e, principalmente, o desenvolvimento tecnológico na área de instrumentação.

Eta Carinae

Em 2003, toda a comunidade científica internacional reconheceu o mérito extraordinário do astrônomo brasileiro Augusto Damineli Neto, professor do IAG. A data de 25 de junho de 2003 foi o dia "D" de um fenômeno previsto por ele desde 1996 - um "apagão" (da ordem de 20 mil sóis) que Eta Carinae, a maior (e mais ameaçadora) estrela da nossa galáxia, sofreria. O cientista, que a vem estudando desde 1989, já observara a ocorrência cíclica desses "apagões" ou variações de brilho (a cada cinco anos e meio). Isso o levou a elaborar a teoria de que o sistema seria na realidade composto de duas estrelas, com a entrada cíclica da menor dentro do vento da maior - a estrela companheira se constituiria no segundo prato da balança, necessário para "pesar" a maior, cuja massa estimada (160 vezes a do Sol), estaria fora dos limites teóricos.

Damineli demorou muito para conseguir o interesse dos colegas estrangeiros. Os especialistas dos Estados Unidos e da Europa não o levavam a sério quando ele expunha sua tese em congressos. Pareciam indignados porque um brasileiro, que usava "um telescópio da selva" (o do LNA) tinha a pretensão de observar o que eles próprios não haviam ainda visto, com equipamentos bem mais poderosos. O astrônomo conta mesmo um fato ocorrido com o cientista italiano Roberto Viotti: "Ele tinha acesso ao Telescópio Espacial IUE e propus que o apontasse para Eta Carinae para registrar o evento que eu estava detectando. Ele achou que o comportamento inesperado da estrela era na verdade um problema eletrônico do detector que nossos técnicos não sabiam diagnosticar".

Mas, no final de 1997, quando o "apagão" que Damineli observara desde 1992 se repetiu, segundo suas previsões, alguns físicos norte-americanos e brasileiros começaram a apoiá-lo. O interesse pelo evento cresceu tanto que em 2003 cinco telescópios no espaço e oito no solo acompanharam o fenômeno, envolvendo 50 astrônomos de diferentes países.

A vida de Augusto Damineli é um raro exemplo de pertinácia. Um desafio: nascido em um sítio em Ibiporã (PR), morou numa tapera de tábuas e chão batido e trabalhou na roça até os 12 anos. Lutou muito para entrar em um colégio de freiras e só foi alfabetizado aos 9 anos. Quando chegou a São Paulo, em 1968, aos 21 anos, com o intuito de terminar o colegial, trabalhou na construção civil, como controlador de pessoal e de material, e também numa metalúrgica. Depois, conseguiu uma bolsa de estudos em um cursinho e emprego em um escritório. Aos 56 anos, após a confirmação obtida em 2003, de tanto batalhar pela "sua" estrela Damineli conseguiu inseri-la no projeto Treasury da Nasa - que investiu US$ 10 milhões na pesquisa, correspondentes a 72 órbitas no Hubble. Além disso, o Treasury Project envolve 12 cientistas de vários países, que dispõem de verbas também para a montagem de um banco de dados com as observações.

O pesquisador principal desse projeto, Kris Davidson, divergia da hipótese do brasileiro - mas, enquanto as pesquisas continuavam, em meados de 2004 Damineli, em parceria com o astrofísico João Steiner, obtinha no mesmo "telescópio da selva" do LNA mais uma confirmação: pela primeira vez conseguira detectar a "assinatura" de átomos de hélio ionizados na luz proveniente de Eta Carinae. Diz ele: "A importância desse sinal, ainda que fraco, é que ele precisa de uma fonte muito energética para ser emitido, o que a estrela visível em Eta Carinae não é capaz de produzir".

A notícia ruim é que Eta Carinae está no fim de sua vida. Com cerca de 2,5 milhões de anos, terá no máximo mais uns 500 mil anos. E como estrelas com a sua massa morrem como "hipernovas", brilhando mais do que todas as estrelas da Via Láctea somadas, esse clarão emitiria uma rajada de raios gama capaz de arruinar completamente a nossa, já um pouco precária pelo que dizem, camada de ozônio. Em questão de horas regiões inteiras do nosso planeta seriam arrasadas.

Mas essa hipótese, que estava deixando os terráqueos muito alarmados, parece que não se realizará. O próprio professor Augusto Damineli nos assegura: "O feixe de raios gama é bem estreito e só afeta o que estiver alinhado com o eixo de rotação de Eta Carinae. Kris Davidson e seus colaboradores determinaram no ano passado com boa precisão que esse eixo está deslocado de 45 graus de nossa direção. Assim, estaremos a salvo quando Eta Carinae explodir".

Enquanto isso...

Uma multidão de pessoas comuns, nem um pouco apavoradas, fazem da abóbada celeste sua mira - seu ponto de encontro favorito, seu excitante hobby. "Astrônomos amadores" denominam-se e podem ser vistos a olho nu, nas noites estreladas, em lugares evidentemente não prejudicados pela poluição e pelo excesso de iluminação elétrica, empunhando seus binóculos e telescópios portáteis - gastando seu tempo em "noitadas" (científicas, é claro) inesquecíveis.

Um grande número de associações os congrega, em todo o mundo. No Brasil existem já centros especiais de astrônomos amadores nas principais capitais e cidades, atualizados com as últimas descobertas e capazes de indicar aos aficionados como comprar seus instrumentos (há preços bem acessíveis, até) ou mesmo como construí-los.

Os telescópios portáteis mais difundidos - têm até o nome de "Obsession Telescopes" - foram inventados há algumas décadas pelo astrônomo norte-americano John Dobson. Em vez de limitar suas palestras a salas de aula ou planetários, ele levou seu telescópio para as ruas de San Francisco, criando o programa Astronomia na Calçada (San Francisco Sidewalk Astronomers).

Contribuiu para o início desse programa entre nós a veterana astrônoma amadora Helga Szmuk, nascida na Áustria e estabelecida no Brasil desde 1958. Aos 83 anos, e lutando há algum tempo contra um grave problema de vista, Helga, uma professora de línguas aposentada, atualmente residente em Florianópolis, mantém-se em plena atividade, viajando para participar de eventos astronômicos, como a reunião anual da Texas Star Party, hospedando em sua casa membros da fraternidade astronômica e mantendo uma grande correspondência internacional. De seu encontro em 1994, em Criciúma (SC), com John Dobson - na observação do eclipse total solar de 3 de novembro - surgiu o interesse de implantar a tecnologia dobsoniana no Brasil.

"Eu amo e vivo a astronomia desde os 5 anos de idade", diz Helga. Seu pai, um húngaro que se tornou capitão da marinha mercante inglesa, levava-a para a ponte de comando e a ensinava a amar as estrelas e a manejar o sextante, antes de aprender a ler e escrever. Ela ainda conserva e usa o binóculo paterno, um objeto de mais de cem anos que tem o curioso apelido de Das Auge Gottes ("O Olho de Deus") e que fora presenteado a ele pelo rei da Noruega, por ter sido o seu navio a primeira grande embarcação oceânica a penetrar nos fiordes.

Entre os muitos episódios de uma vida longa e aventurosa, Helga ressalta este, também ligado à astronomia: "Em uma observação de eclipse conheci um homem chamado Moshe Bain e começamos a contar um ao outro como havia surgido o nosso interesse pelas estrelas. Ele me disse que em 1938 seu pai estava fugindo dos nazistas da Europa, em um navio ilegal que o levaria à Palestina. Mas como o navio não podia se aproximar da costa, os passageiros teriam de fazer sozinhos, em balsas de salvamento, as últimas 3 milhas, no meio de uma noite sem luar. O capitão ensinou-os então a navegar seguindo Polaris, a Estrela do Norte. Nesse ponto eu interrompi a história de Moshe para contar o final: ‘O nome da pequena vila em que seu pai desembarcou é Athlin’. Ele ficou muito espantado e perguntou como eu sabia disso. E eu lhe disse que o capitão daquele navio era meu pai".

A astronomia amadora tem muitas histórias interessantes. A da descoberta de Plutão, o nono planeta do sistema solar, por um jovem observador norte-americano de 24 anos em 1930 é mais uma delas. Vale a pena conhecer os detalhes. Clyde Tombaugh (1906-1997), que morava no campo e tinha um pai e um tio que também gostavam das estrelas, preferia ficar contemplando o céu a dedicar-se ao enfadonho trabalho de amontoar feixes de feno. Juntou umas economias e comprou um pequeno telescópio na Sears Roebuck. Não contente com isso, resolveu construir um telescópio maior, usando partes de um Buick 1910 e peças de uma batedeira de leite da fazenda. Seu pai arranjou um segundo emprego, para ajudar a comprar mais peças para esse instrumento. Clyde foi observando e desenhando, absolutamente sozinho, tudo o que lhe parecia interessante no céu. Um dia encaminhou suas anotações para o Lowell Observatory, no Arizona, pois precisava "de alguns conselhos profissionais". Pediram-lhe que fosse até lá. Para seu absoluto espanto, ofereceram-lhe logo um emprego, como astrônomo assistente - e ele não tinha nem podido ainda se preparar para entrar em uma universidade... Foi contratado, em 1929, para participar da pesquisa de um "planeta X", localizado além de Netuno, que fora iniciada em 1905 por Percival Lowell. Dez meses mais tarde, depois de um árduo trabalho que o fizera passar noites e noites de inverno na cúpula não aquecida do observatório, no dia 13 de março de 1930 Clyde Tombaugh, com apenas 24 anos, passaria à história da astronomia e seria reconhecido internacionalmente como "o descobridor do planeta Plutão".


O programa espacial brasileiro

No hemisfério sul, o país que mais tem se destacado no domínio da tecnologia espacial é o Brasil. Em 1961, o presidente Jânio Quadros instalou a primeira comissão encarregada de elaborar um programa espacial para o Brasil, e desde então pesquisadores brasileiros passaram a participar de programas internacionais nas áreas de astronomia, geodésia, geomagnetismo e meteorologia. De lá para cá, foram criados o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), que desde 1994 integram a Agência Espacial Brasileira (AEB) - uma autarquia civil vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Durante os quatro anos do governo Sarney, investimentos anuais da ordem de US$ 100 milhões foram feitos no setor, possibilitando tanto o desenvolvimento de produtos específicos - como foguetes suborbitais -, quanto iniciativas para uma possível independência da tecnologia brasileira em relação a programas essenciais, como os que se referem ao uso e conservação da terra, o monitoramento do desmatamento na Amazônia, o controle de poluição no oceano e nos rios, os estudos meteorológicos, entre outros. Subseqüentes cortes de orçamento, nos governos posteriores, redundaram em prejuízos graves para o setor, colocando o país num impasse - como dizia em dezembro de 2003 o então diretor da AEB, Luiz Bevilacqua: "O problema não se reduz a cortar gastos, mas onde e como gastar. Por exemplo, ou pagam-se US$ 20 milhões pelo lançamento de um de nossos satélites de coleta de dados a uma empresa estrangeira ou com o mesmo montante constroem-se dois veículos lançadores brasileiros".

O impacto do acidente ocorrido na base de lançamento de Alcântara em 22 de agosto de 2003, com a explosão do foguete VLS-1, a morte de 21 técnicos e engenheiros, e a destruição de dois satélites e da Torre Móvel de Integração da base, levou a uma rigorosa apuração das causas e responsabilidades. Apesar de "não se poder estabelecer uma causa definitiva para o acidente", foram denunciadas graves deficiências em setores técnicos e principalmente em recursos humanos. Como diz o laudo, verificou-se "um cenário de trabalho de grandes dificuldades, motivado, entre outras, pela(s): insuficiência de recursos financeiros; restrições à contratação de recursos humanos; defasagem salarial; subjetividade na avaliação de riscos e ineficácia no processo de comunicação".

Em 2005, porém, o orçamento destinado ao programa espacial deve chegar novamente próximo aos US$ 100 milhões, conforme declara o atual presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi. O aumento do investimento assegurará o desenvolvimento de satélites, foguetes de sondagem e veículos lançadores, com ênfase no programa de satélites sino-brasileiros, pois no ano passado Brasil e China assinaram acordos para a construção principalmente do satélite CBER-2B, cujo lançamento está previsto para 2006.

No entanto, segundo o presidente da AEB, "o ponto mais crítico do programa e que deve ser atacado de imediato é ainda a falta de recursos humanos", devida a razões como períodos longos de ausência de concursos, envelhecimento de quadros, baixos salários, inconstância de recursos financeiros. Motivo de júbilo e comemoração é, porém, o fato de termos, a partir de janeiro deste ano e pela primeira vez, um astronauta brasileiro na equipe da Nasa, o tenente-coronel Marcos César Pontes, habilitado agora, após um treinamento iniciado em 1998. Em 2006 ele deverá integrar a tripulação de um ônibus espacial norte-americano, ou então de uma espaçonave russa, com destino à Estação Espacial Internacional.

Conforme declarações feitas pelo astronauta, seu primeiro vôo orbital proporcionará a capacitação e a homologação de empresas nacionais para competirem no mercado externo de alta tecnologia - fornecendo partes para a Estação Espacial Internacional, o Brasil poderá em contrapartida utilizar suas instalações para experimentos científicos. Espera-se também que dessa cooperação surjam estímulos para intercâmbio de cientistas e pesquisadores, e uma renovação dos estudos na área.

 

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