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Antunes Filho nos bastidores, em 2009 | Emidio Luisi
Antunes Filho nos bastidores, em 2009 | Emidio Luisi

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ATOR É LEGADO DE UM DOS MAIS IMPORTANTES DIRETORES DO TEATRO CONTEMPORÂNEO NACIONAL

De que barro se esculpe um ator ou atriz? Que ferramentas são necessárias para se tornar o fingidor que finge ser a dor que de fato sente? Para aqueles e aquelas que fizeram a formação de ator com Antunes Filho, algo mais lhes foi requisitado. Algo que artistas consagrados, como Raul Cortez (1932-2006), Eva Wilma e Laura Cardoso, já compartilharam em entrevistas: é preciso uma profunda doação e inteireza. Sua metodologia, composta por exercícios diversos, resultou numa espécie de balé que movimenta dos pés aos fios de cabelo daqueles que estão em cena até reverberar no público.

“Eu não fiz o método porque eu quero inovar. Precisei construir na prática uma série de exercícios que, como resultado, a gente poderia ter uma certa metodologia a respeito”, contou o diretor no sexto capítulo da série O Teatro Segundo Antunes Filho, disponível na plataforma Sesc Digital (leia Jogo de mestre). Metodologia essa que também é fruto da trajetória de Antunes, que fez parte de uma geração de diretores brasileiros influenciados pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e pela troca com renomados encenadores estrangeiros, como Ziembinski (1908-1978), Adolfo Celi (1922-1986), entre outros (leia o Perfil de Antunes publicado na Revista E nº 273, de julho de 2019).

 

Um dos principais nomes do teatro brasileiro, o diretor Antunes Filho (1929-2019) num registro
durante ensaio do espetáculo O Canto de Gregório (2004), no Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc

 

Por quase quatro décadas na direção e coordenação do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, Antunes imbuiu alunos e alunas de suas experiências e vivências, além de livros sobre as artes da cena, mas também sobre física quântica e outros saberes. Um vasto conteúdo que se somou à pesquisa sobre o corpo e a voz, compondo aí uma série de exercícios e sua metodologia de trabalho.

“Ele dizia que enquanto não formássemos grandes homens e grandes mulheres, portanto grandes cidadãos, não formaríamos grandes artistas. Ele tinha essa busca”, conta o ator e diretor Emerson Danesi, assistente de Antunes por 23 anos no CPT. “Ele tinha muitas indagações quanto ao estudo, ao desenvolvimento do pensamento filosófico, ao desenvolvimento social e político desse ator, dessa atriz, desse intérprete aqui no CPT, e tudo isso, evidentemente, movimentou o eixo de Formação do Ator.”

 

Mais além

Diretora artístico-pedagógica do Célia Helena Centro de Artes e Educação, a atriz, diretora e arte-educadora Lígia Cortez, que participou da remontagem de Macunaíma, em 1978, dirigida por Antunes Filho, teve o encenador como referência para sua formação de atriz, mas também de educadora. “Estar no grupo Macunaíma e no início do CPT foi fundamental. Aquilo me forjou como profissional. Não só a disciplina e a concentração, mas o que tinha ali, e o que Antunes trazia: um pensamento estético do artista enquanto criador. Também de que a gente – tive essa oportunidade e sou muito grata a ele – é muita coisa além de ator”, contou no podcast Aproximações Pedagógicas.

De outra geração, Lee Taylor se sentou na cadeira de espectador até vestir o papel de aluno e ser convidado a integrar o CPT, do qual fez parte de 2004 a 2013. A vivência do método Antunes em montagens como A Pedra do Reino o instigou a estudar academicamente o processo: desde a origem da metodologia até sua manifestação. “Tive o apoio do Antunes porque ele era o maior interessado na minha pesquisa. Ele nunca teve o interesse de ele mesmo escrever sobre o assunto.

E na trajetória dele, desde 1981, quando começou a fazer isso, ele contava com uma série de colaboradores que faziam parte do elenco e anotavam tudo aquilo que ele compartilhava e pesquisava dentro do grupo”, depõe na série Pílulas de Pesquisas Acadêmicas.  Até hoje, tal ensinamento ressoa na vida e na carreira de Taylor. “Ele não foi simplesmente um professor, um diretor, um artista com quem eu trabalhei, ele foi realmente um mestre”, compartilhou emocionado. “Eu pude ver, ao entrar em contato com outros artistas que passaram pelo CPT, o quanto Antunes era catalisador de um processo radical de autoconhecimento, de transformação, de mudanças.”

 

Dica de leitura

Publicados pelas Edições Sesc São Paulo, três obras servem de bússola para peregrinos da herança deixada pelo encenador e educador Antunes Filho. Em Hierofania: O Teatro Segundo Antunes Filho (2010), de Sebastião Milaré, o método criado por Antunes, referências estéticas e exercícios. Já no livro Antunes Filho: Poeta da Cena (2010), de Emidio Luisi e Sebastião Milaré, a história do diretor costurada por material fotográfico e textos. Há também no Teatro Sesc Anchieta: Um Ícone Paulistano (diversos autores, 2017), histórias e personagens que fizeram parte do CPT. Confira: www.sescp.org.br/edicoessesc.

 

                    

Capas | Divulgação

 

 

Jogo de mestre

ENTREVISTAS, ESPETÁCULOS, EXPOSIÇÕES E PODCAST AMPLIFICAM ALCANCE DA OBRA DE ANTUNES FILHO

A arte do encontro teve em Antunes Filho um grande encenador. Dedicado ao método por ele desenvolvido, dirigiu e coordenou por 37 anos o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc. “Depois da passagem de Antunes em 2019, formamos uma comissão para entender como seria o CPT após esse longo período de regência de Antunes Filho, seu trabalho imenso de criação, de pedagogia, de metodologias, de pesquisas”, conta Emerson Danesi, que integra o CPT desde 1996.

Danesi explica que, a partir desse legado, foram levantados cinco eixos de ações – Formação de Ator, Criação e Experimentação, Dramaturgia, Cenografia e Memória, Acervo e Pesquisa. “Após a exposição em comemoração aos 90 anos de Antunes realizada em dezembro de 2019, no CPT, com a curadoria e criação de Ricardo Muniz Fernandes, faríamos todo o trabalho presencial no começo de 2020”, relata. Como as ações presenciais foram suspensas desde o início da pandemia, uma programação virtual foi pensada por uma comissão formada por diversas áreas do Sesc.

 

A vivência do método criado por Antunes Filho (na foto, em ensaio de Antígona, no CPT, em 2004) reverbera até hoje na carreira de artistas de diferentes gerações | Adriana Vichi

 

Fazem parte da programação um acervo digital composto por espetáculos, entrevistas, podcasts, documentários e outros conteúdos disponíveis na plataforma Sesc Digital. “Ao homenageá-lo, convidamos a entrar em seu universo de criações, experimentações e parcerias, onde a verve do fazer teatral anuncia a potência da arte como força transformadora, capaz de inspirar a formação de artistas, de públicos e de cidadãos”, propõe Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, na página dedicada ao artista. Evoé, Antunes! Evoé!

Confira alguns destaques e saiba mais: https://sesc.digital/colecao/antunes-filho.

 

DOCUMENTÁRIO

Outras trajetórias

Uma parte do que se deixa, outra parte do que se leva. Neste web documentário que se ambienta em São Paulo, quatro pessoas que passaram pela formação de atores do CPT e seguiram outras trajetórias profissionais dão seu depoimento: a professora de história da arte e interpretação teatral Marlene Fortuna; a produtora de cinema Justine Otondo, o diretor de dança-teatro, iluminador e gestor cultural Fábio Mazzoni; e o advogado e pesquisador teatral Thiago Brito. Cada qual compartilha aprendizados e ferramentas das aulas com Antunes Filho. Direção de Verônica Zacharias Gabriel e produção de Matheus Machado. Assista: https://sesc.digital/conteudo/teatro/55751/outras-trajetorias

 

              

Fábio Mazzoni, Marlene Fortuna e Thiago Brito | Divulgação
 

 

VÍDEOS

Pílulas de pesquisas

Que vivências são experimentadas pelos artistas que passaram pelo Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc? Nesta série de depoimentos em vídeo, quatro ex-integrantes – Lee Taylor, Sabrina Greve, Michelle Boesche e César Baptista – falam sobre experiências com o método e as práticas teatrais aplicadas por Antunes Filho. Em comum, esses artistas compartilham um pensamento sobre o fazer teatral e sobre como essa formação se tornou fonte de suas pesquisas acadêmicas. A direção de imagens é de Felipe Santiago, fotografia de Filipe da Gama e edição de Francine Tomo. Saiba mais: https://sesc.digital/colecao/pilulas-de-pesquisas-academicas

 

Reprodução

 

PODCAST

Aproximações pedagógicas: A formação do Ator

Vamos fazer uma caminhada em ondas sonoras pela história do ensino e profissionalização do teatro em São Paulo? Neste podcast de oito episódios, partimos da fundação, em 1948, da Escola de Arte Dramática (EAD), percorrendo a segunda metade do século 20 e, finalmente, no século 21, com a criação da SP Escola de Teatro em 2010. Para compreender esse cenário, são entrevistados coordenadores e professores de oito instituições, que se aprofundam nas particularidades de cada uma delas para traçar um mosaico das possibilidades de formação do ator profissional hoje. A série foi produzida pela Soupods para o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), com direção de Eliane Leme, enquanto pesquisa, roteiro e narração são de Mariana Delfini. Ouça aqui: https://sesc.digital/colecao/aproximacoes-pedagogicas

 

Reprodução

 

 

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