Se o sotaque lusitano nos encanta, que dirá a poesia? Desde os primeiros trovadores aos intrépidos modernistas. Paremos e pensemos: Luiz Vaz de Camões e Fernando Pessoa são apenas dois nomes da riquíssima poesia portuguesa.
Nos anos 60, E. M. de Melo e Castro, como todo o verdadeiro poeta, trabalhou na vida, com a vida, e por isso aspirou a que a poesia seja o próprio trabalho da nossa existência. Figura multifacetada, autor de uma obra caracterizada pela construção de experiências com vários materiais e várias mídias, ele foi particularmente marcante na emergência da poesia experimental em Portugal.
E tem tanta vida, que a poesia de E. M. de Melo e Castro pede música!
Não obstante, sua filha, a cantora e compositora Eugénia Melo e Castro, revisou a obra de seu pai e musicou 10 músicas na companhia de Emilio Mendonça entregando um álbum-poema que conta ainda com parcerias autorias de Mário Laginha, Gil Assis e Alexandre Soares. Quem conta visualmente sobre o disco, como sugere a poesia do autor, é o jornalista Jorge Henrique Bastos.
Jorge Henrique Bastos
EUGÉNIA MELO E CASTRO nos acostumou com a característica elegância do seu canto. Brindou-nos com interpretações admiráveis da MPB. Foi pioneira do que se costuma chamar o diálogo musical entre os dois lados do Atlântico onde se fala português.
AGORA nos lança, literalmente, nas águas do experimentalismo, ao se atirar, ousada e segura, no oceano da poética vanguardista de seu pai, o poeta português E. M. de Melo e Castro, mentor da Poesia Experimental lusa, surgida na década de 60, e que inaugurou um amplo intercâmbio com o Concretismo brasileiro.
MAR VIRTUAL agrupa músicas compostas pela filha, que também selecionou os textos, e amesendou-se na companhia de Mário Laginha, Ana Deus, Alexandre Soares, Gil Assis e Emílio Mendonça, coautor de 10 composições do CD. Mendonça é músico reconhecido, produtor e professor. Já acompanhou figuras como Tom Zé, entre outros. Neste projeto, toca em todas as faixas, além de ser o arranjador e o diretor musical.
A seleção dos TEXTOS abrange POEMAS desde o início da obra paterna, até a atualidade. Eugénia enfrentou textos espinhosos, como “Soneto soma 14”. É como se adotasse a veia experimental do pai, enveredando por vias melódicas mescladas com a densidade da vanguarda e o lirismo expressivo.
ELA OUSOU REMEXER com argúcia e atenção, no magma da obra do pai, e içar de lá genuínos diamantes em forma de músicas que despertam inúmeras sensações, explorando todas possibilidades.
VOZ E PIANO não limitam a empreitada, pelo contrário, criam ambiências que se repetem, dialogam e ampliam as ressonâncias contemporâneas, de Eric Satie a Philip Glass ou alguma Lira Paulistana, miscigenando o erudito e o pop com total desenvoltura.
OUÇA-SE a faixa “Velho”, exemplar na sua modernidade; ou a parceria com Laginha, “Um homem que canta e vê”, resultando num intimismo delicado.
Neste GENUÍNO ENCONTRO ENTRE PAI & FILHA; entre voz & poema; entre experimentação & desafio, filha & pai conjugam, em uníssono, o amor e o afeto pela palavra e a música.
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