Artigos reunidos em Narrativas da cidadania: as origens sociais do Sesc traçam um panorama econômico, político e cultural do período em que se deu a criação do Sistema S
Por Ignácio de Loyola Brandão*
Comecei a ler este livro com receio. Uma bibliografia requintada e um grupo de autores celebrados, cada um em seu quadrado, como diria Caetano Veloso. Sabia que ia atravessar fases complexas da história do Brasil: imigração, industrialização, crises, saúde pública, vida social, babel de cultura, espaços urbanos, paz social, o Estado autoritário, as questões dos trabalhadores, racismo, preconceitos e uma infinidade de questões em constante atualidade. E a efervescência de hoje. Estava com receio de um texto cifrado, destinado a “iluminados”. Ou seja, uma narrativa gênero tese, repleta de citações e referências, acessível apenas a um grupo “especializado”. Enganei-me.
Estamos diante de uma escrita que segue a sabedoria de Graciliano Ramos quando recomenda: “A palavra não foi feita para enfeitar e sim para dizer”. Este é um livro não tão fácil, mas que se lê com prazer. E explica, ilumina. Danilo Santos de Miranda inicia dando tranquilidade ao esclarecer que o intuito é “lançar luz sobre as bases que, há séculos, estruturam os debates e têm servido de inspiração para diversos povos ao redor do mundo”. Ou seja, este livro vem não para complicar, mas para abrir o entendimento.
Cidadania. Fala-se dela de todas as maneiras, em todas as línguas, sob diferentes interpretações e modos de ver. Há séculos a questão tem sido objeto de infinitas leituras, análises, críticas, comentários, digressões, polêmicas. Filósofos, historiadores, sociólogos, teólogos, professores, políticos, cientistas, sindicalistas, ambientalistas, socialistas, democratas, religiosos, ateus e todos os tipos de pensadores têm se debruçado sobre o tema. Aqui estão ensaios de Lilia Moritz Schwarcz, Vera Pallamin, Claudio Bertolli Filho, Amélia Cohn, Guilherme Ramalho Arduini, Áureo Busetto, Walderez Loureiro, Mauro Lopez Rego e Vera Alves Cepeda. Mais um prólogo de Francisco Alambert.
Cidadania, o que é? O dicionário Aurélio define: “qualidade ou condição de cidadão”, ou “condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política”. E o que é um cidadão, ainda segundo o dicionário? “Indivíduo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos, garantidos pelo mesmo Estado e desempenha os deveres que nesta condição lhe são atribuídos.” Danilo Santos de Miranda entra com a chave do livro: “A cidadania plena precisa alcançar todas as pessoas”.
E onde e como entra o Sesc em uma obra que marca território? Aliás, a instituição é tão grande e essencial que os nossos governos vêm procurando abocanhar enorme parte dela, o que significaria prejuízo drástico, fatal. Mas como funciona o Sesc em relação à cidadania? Cinco capítulos colocam de modo claro o que ela significa para a entidade. A meu ver, pela primeira vez temos as duas histórias interligadas, de maneira objetiva. Este pode ser um volume para universidades. Pode estar no caminho de um Jabuti de Melhor Livro na categoria “Explicando o Brasil”.
Trecho do livro
*Ignácio de Loyola Brandão é autor de 50 livros, entre romances, contos, biografias e infantis. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.