Postado em 03/06/2016
Como se não bastassem os perigos reais da nossa rotina, as crianças ainda tem que se deparar com um mundo imaginário cheio de ameaças, surpresas de todos os tipos e situações aterrorizantes que a razão não consegue deter.
As fantasias servem para explicar os mistérios desse mundo e também fazem com que, por meio delas, as crianças conheçam e enfrentem os próprios medos para finalmente amadurecer. Esse processo foi o mote para a Artesanal Cia de Teatro criar o espetáculo Por que nem todos os dias são dias de sol?, em cartaz até o dia 12/06, no Sesc Pompeia.
Depois de uma pesquisa intensa com trinta crianças de várias idades, grupos sociais e etnias diferentes sobre questões ligadas à vida, à morte e ao medo, o grupo usou todo o material gravado em vídeo como matéria prima para produzir a peça. As entrevistas foram tão ricas, que estimularam as lembranças dos próprios atores em cena. “A história da velha, por exemplo, foi vivida por um dos atores do grupo”, conta o diretor Gustavo Bicalho.
O espetáculo foi construído ao longo de quase dois anos. O resultado é uma peça que trata a criança com respeito e inteligência. Divida em quatro contos, a história é narrada por meio do olhar infantil e fala sobre a experiência de amadurecer: da necessidade de enfrentar os próprios medos e resignificar a própria memória. Assim, o garotinho que tem medo da velha bruxa pode, num ato heroico, descobrir que ela não passa de um ser humano sozinho (e igual a ele). Ou, a menina curiosa descobrir que não vai engravidar porque engoliu uma semente.
Usando bonecos, projeções, máscaras, música e diferentes tipos de linguagens, a companhia carioca, que completa 21 anos, mergulha no universo infantil para tratar de maneira simples e poética a superação de si. Para Bicalho, “o tema é tão universal que todos se identificam com as histórias narradas, independente da idade”. Talvez, esse seja o segredo da peça que encanta pais e filhos igualmente. Uma história sensível e delicada que nos faz recuperar a criança que existe em cada um de nós e enfrentar esse mundo cada vez mais sombrio.