Postado em 16/02/2016
Apresentando autores que influenciaram seus trabalhos literários, o Sesc São José dos Campos convida escritores, compositores e amantes da literatura para discutir um livro. A cada mês, um encontro, um autor e muita poesia. Em fevereiro, o bate-papo é com Rossana Masiero, e a Eonline aproveitou para conversar com a escritora antes do encontro, no dia 25 de fevereiro.
Eonline: Porque você escolheu o livro "Eu e outras poesias" para a discussão?
Rossana Masiero: Eu poderia ter escolhido outros escritores brasileiros, romancistas, outros poetas, cronistas, etc. Gosto muito de vários poetas e ultimamente minha paixão é Manoel de Barros. Entretanto escolhi Augusto dos Anjos por três motivos. Primeiro por ser um poeta do início do século XX, o que está totalmente fora da minha área de conforto. O segundo motivo é porque conheci sua obra na adolescência, época em que escrevia muito e tudo ficou muito marcado e evidente nos sentimentos, o que significa que muito do que escrevo sofre certa influência de seus poemas dramático e teatralizados, e meus poemas namoram com o drama. Finalmente porque eu realmente considero Augusto dos Anjos um dos poetas mais insólitos e originais de sua época.
EO: Augusto dos Anjos é um dos grandes representantes do parnasiano, movimento originado na França que tinha como objetivo retomar a cultura clássica através da literatura, principalmente pela poesia. Como os valores estéticos da antiguidade clássica influenciam seu trabalho de escritora?
RM: Discordo quando tentam enquadrar Augusto dos Anjos como parnasiano. Acho mesmo que sua única ligação como o parnasianismo era seu respeito à forma. Seus versos, com metrificação rigorosa, principalmente nos sonetos, onde o número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas (versos alexandrinos), os mais utilizados no período e para por aí as características parnasianas de augusto dos Anjos. Ele não faz arte pela arte, não é descritivista, entre outras características do parnasianismo. Também tentaram enquadrá-lo como simbolista por conta do ritmo quase musical em seus versos, e até como romântico por conta de sua obsessão pela morte. Mas Augusto é tão original e tão singular que não obedecia às regras de nenhuma escola. Ele não foi unanimidade em sua época e não é até hoje.
Não creio que ele se enquadre em nenhuma escola literária completamente e é essa liberdade me apaixona e que busco no que escrevo.
EO: Para você como escritora, qual a importância de se discutir a literatura e, principalmente, suas influências?
RM: Chamaria de "conversa" literária e não discussão. Acredito que qualquer troca acrescenta no saber e no fazer, extremamente importante para a produção literária. Portanto, acho admiravelmente relevante esse movimento do Sesc em agrupar autores e/ou amantes da literatura em geral para conversar e trocar impressões sobre obras, estilos e autores.
EO: Em suas crônicas vê-se um cotidiano aparentemente pessoal. Sua vida é espalhada no seu trabalho literário? Quais são suas principais inspirações no dia a dia?
RM: Considero a crônica uma expressão literária quase pessoal. É uma forma de falar dos próprios credos, experiências e de contar histórias cotidianas de forma leve e engraçada, se possível. Eu adoro escrever crônicas e realmente não acho uma "arte menor" como alguns críticos literários costumam classificar. Entretanto, me sinto mais poeta que cronista, e é na poesia que me permito viajar na dor alheia e toma-la para mim. E desses sentimentos escrevo os poemas como se fossem sentimentos meus. Seria isso o tal "eu lírico”? Como não consigo escrever ficção, só escrevo sobre o que vejo e conheço e minha poesia, mesmo quando não está expressando exatamente o que estou sentindo, sempre fala dos sentimentos com as quais me identifico.
O paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em 28 de abril de 1884. O escritor vivenciou a época do parnasianismo e simbolismo e das influências destas escolas literárias através de seus escritores, como: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Cruz e Souza, Graça Aranha. Porém, seu o único livro - Eu e outras poesias - trouxe inovação no modo de escrever, com ideias modernas, termos científicos e temáticas influenciadas por sua multiplicidade intelectual. Pela divergência dos assuntos tratados pelo autor em seus poemas em relação aos dos autores da época, Augusto dos Anjos se encaixa na fase de transição para o modernismo, chamada de pré-modernismo.
O poeta tinha como tema uma profunda obsessão pela morte e teve como base a ideia de negação da vida material e um estranho interesse pela decomposição do corpo e do papel do verme nesta questão. Por este motivo foi conhecido também como o Poeta da morte.
Leia mais algumas das crônicas de Rossana no blog, Tudo é assunto.
o que: | |
quando: |
25 de fevereiro, quinta-feira às 19h30 |
onde: | Sesc São José dos Campos | Av Adhemar de Barros, 555 |
ingressos: |
grátis |