Postado em 26/11/2015
O poeta Fernando Pessoa já escreveu no livro do Desassossego, publicado em 1982, “Que tragédia acreditar na perfectibilidade humana, e que tragédia não acreditar nela”.
E, se a tragédia é uma condição inerente ao homem, pode-se pensar que no mundo contemporâneo, os meios de comunicação fazem uso de eventos trágicos como uma estratégia para prender o público e permitir uma experiência similar de tranquilização em relação ao sofrimento pessoal?
Foi sobre os signos das intolerâncias, do ódio e das tragédias veiculadas na mídia que os jornalistas Jairo Marques e José Arbex Jr. se reuniram no último dia 11 de novembro no Sesc em São José dos Campos. Eles debateram sobre essa e outras questões que rodeiam o universo da mídia e da espetacularização da violência. O encontro integrou o projeto Intolerâncias – Coexistência em conflito, que ocorreu na unidade entre os dias 10 e 13 de novembro de 2015.
Amparados pela lógica da hiperdimensão dos fatos e da catarse midiática, ambos pontuaram as manifestações de intolerância na mídia. “A ideia da catarse é assim, o que é o nosso é bom, o que é do outro é ruim. E isso é a catarse produzida pela mídia: nós não enxergamos nosso quintal, nós não vemos nossa cara no espelho. Nós vemos o outro, o outro tem que ser condenado. E essa é a pior coisa que pode acontecer, o recurso da catarse é o recurso fundamental para que a mídia consiga passar essa ideia”, declarou Arbex, jornalista e professor da PUC-SP.
Jairo Marques, jornalista da Folha de S. Paulo e autor do blog Assim como você, também se posicionou em relação ao mal-estar catártico veiculado na mídia contemporânea. Para ele esse é o caminho mais inútil que o jornalismo pode trilhar.
“Diante de uma situação, diante de um historia de vida eu sempre me preocupo em mostrar o que aquela história aponta para outras pessoas de um modo efetivo, e de que aquilo é útil para mim; e não simplesmente você tirar uma sensação de dó, ou ‘ufa, ainda bem que a minha família não tem nenhuma das doenças que o Jairo está falando’”, explicou.
Ao final do encontro, as discussões foram representadas em um painel organizado pelo Coletivo Entrelinhas.
Sesc em São José dos Campos - Av Adhemar de Barros, 999, Jd São Dimas - São José dos Campos (SP)