Postado em 17/11/2015
Atentados, fluxos migratórios e catástrofes naturais. Diante deste cenário, a arte e a cultura extrapolam qualquer fronteira e mostram a força em discutir, encenar e exaltar as diferenças humanas. Com um tema pungente, o Sesc recebeu em novembro o diretor e dramaturgo italiano Pietro Floridia para ministrar o workshop “O violino do Titanic”, inspirado nos 33 cantos do poema “O Naufrágio do Titanic”, obra do escritor alemão Hans Magnus Enzensberger.
A metáfora do workshop, que teve como participantes jovens atores dos grupos de teatro de Piracicaba e São Pedro, guia-se pela tragédia do transatlântico britânico ocorrida no ano de 1912 ao chocar-se em um iceberg e faz analogia às tragédias espalhadas pelo mundo, sobretudo as atuais ocorridas em países da Ásia Ocidental e Europa.
Durante os seis encontros, a intenção foi mostrar o importante papel da cultura diante das barbáries humanas, e refletir quais os recursos humanos, tanto de caráter físico como emocional, estão disponíveis para as primeiras, segundas e terceiras classes, sem distinção.
“Quem tem direito de se salvar? Quem tem direito aos grandes recursos?”, questiona Floridia. No cenário, objetos cenográficos simples como lençois brancos e cadeiras traduziram as ondas d’água invadindo o navio e os lugares ocupados pelos tripulantes – público formado por cerca de 170 espectadores – que compartilharam sentimentos e sensações e trocaram de papeis com os atores, tornando o espaço cênico comum a todos. De repente não tinham mais cadeiras. Os botes se esgotaram. Nem todos de salvaram.
Na Itália, o diretor dirige a Companhia dos Refugiados, um grupo de teatro de exilados políticos oriundos de toda a parte do mundo. Para ele, não se preocupar com a terceira classe, achar que ela é invisível ou deixar que continue às margens da sociedade é um erro perigoso. “As coisas explodem. Quando um garoto sente que não tem esperança para nenhuma sociedade, o chamado para a violência se torna muito forte”. Para superar estes impasses contemporâneos, a personagem diz durante a apresentação do resultado do workshop: “A arte é a única resposta digna à morte”.
Trabalhar essa temática no teatro, sobretudo diante dos fatos que envolvem o mundo contemporâneo é, para Floridia, uma oportunidade de fazer pensar se tais manifestações e fenômenos de imigrações não se equivalem aos icebergs da humanidade, que impedem que a rota e o caminho continuem da maneira como deve ser.