Postado em 10/11/2015
Se, no Japão, Kurosawa carregou a marca de ser ocidentalizado demais, no exterior ele revelou um Japão fascinante e historicamente desconhecido. Um país, muitas vezes, áspero, violento e rigidamente hierárquico, com personagens disciplinados e fiéis às ricas tradições.
Para um olhar atento, a tal tendência ocidental de Kurosawa se apresenta mais na sua forma de conceber o cinema - é amplamente conhecida a sua fascinação pelo cinema norte-americano e europeu. Porém, em suas temáticas, Kurosawa sempre foi um japonês realizador da cultura e ideologia orientais.
Foi com um Jidaigeki - nome dado aos dramas de época nipônico - que o cinema japonês foi descoberto no Ocidente: a exibição do filme Rashomon no Festival de Veneza rendeu ao diretor o Grande Prêmio do Júri. A partir deste, a notabilidade de Kurosawa alçou patamares impressionantes e alavancou a carreira de outros vários cineastas nipônicos, tais como Kenji Mizoguchi e Masaki Kobayashi.
Entre Os Sete Samurais e Yojimbo, o cineasta reinventou o Chambara, gênero de ação de temática Samurai. Influenciado pelos épicos de caubói de John Ford, ele trouxe uma sensibilidade moderna para o drama histórico oriental. Kurosawa mergulhou na piscicologia de seus personagens samurais, mostrando ora conflitos entre seu honroso código bushido e os senhores corruptos a quem serviam, ora retratando-os como vulneráveis a seus próprios impulsos egoístas e imorais.
Por ter introduzido elementos ocidentais no cinema japonês, muitas vezes Kurosawa foi muitas vezes recebido com desprezo por seus compatriotas. Acirravam-se as acusações de ser americanizado demais e os financiamentos para novos filmes tonavam-se cada vez mais difíceis.
Apesar de sempre filmar temas característicos do Japão, seu traço mais marcante era o da humanização. O tocante e belo em toda a obra de Kurosawa está na grandeza de sentimentos. Uma vez, perguntado sobre o que faria se tivesse o poder de influenciar a sociedade e mudá-la, ele respondeu: “Eu me sinto responsável, verdadeiro e honesto para com minha profissão e estou consciente disso. Eu estou primeiro lidando com a sociedade japonesa e tentando ser cândido ao lidar com nossos problemas. Eu espero que você entenda isso sobre mim quando vir o filme. Como um contador de histórias, não tenho segredos”.
Confira a programaçao da mostra Jidaigeki:
- 10/11: Rashomon.
- 17/11: Os Sete Samurais.
- 24/11: Trono Manchado de Sangue.
- 1/12: A Fortaleza Escondida.
- 08/12: Yojimbo – O Guarda-costas.
- 15/12: Sanjuro.