Postado em 06/11/2015
Em novembro, Brasil e Portugal se unem para contar a história de dois artistas, dois mamembes que carregam consigo o fascínio pelo circo, dança, música, além da paixão pela cultura popular. Caminham nus Empoeirados, conto de autoria de Gero Camilo, foi adaptado para a dramaturgia e é fruto do livro A Macaúba da Terra, publicado em 2002.
Essa declaração de amor ao teatro e à vida, chega neste final de semana ao palco do teatro do Sesc Santo Amaro e segue em cartaz até o dia 13 de dezembro. “Esse livro é muito dramatúrgico. Boa parte dos contos já foram montados. É um texto que eu queria trazer para o palco há muito tempo por falar de artistas populares. Algo que vivo até hoje em nossa carreira. Outra surpresa para mim, é notar que ele parece mais atual do que no período em que foi escrito”, comemora o ator, diretor, dramaturgo, cantor, compositor e poeta cearense Gero Camilo.
O conto nasce no momento em que o movimento Arte contra a barbárie está em voga em São Paulo, em 1999. “Nesse período, a classe artística discutia leis próprias de incentivo e fomento aos grupos que sofriam com a falta de investimento. Quando o escrevi estava numa fase em que questionava a vida, a resistência de se viver de arte no Brasil”, relembra.
Em 2014, Camilo estava em cartaz, em São Paulo, SP, com a peça Aldeotas. Enquanto Luisa Pinto, diretora artística do Teatro Constantino Nery e docente na Escola Superior Artística do Porto, dirigia Chaplin - A elegante melancolia do crepúsculo, também na capital paulistana. “Conhecia o trabalho de Gero no cinema. Assisti ao espetáculo. Gostei muito da performance dele no palco. Minha única referência, até então, era a atuação dele no cinema. Ao final, o cumprimentei e o convidei para levar a produção a Portugal”, recorda Luisa.
Em outubro de 2015, a peça Aldeotas abriu o Festival Cena Contemporânea de Matosinhos em Português. E é a partir daí que desponta a parceria que resultou na direção compartilhada de Caminham Nus Empoeirados. “É um texto colorido, cheio de imagens, vamos para uma série de caminhos. Mesmo na questão do artista popular, que para na rua para mostrar suas habilidades. Há sempre um orgulho. O que mais me surpreendeu é que eu estava à espera de um texto em preto e branco e recebi uma versão em cores”, comemora Luisa.
Criar um projeto onde as hierarquias fossem redimensionadas, em que dois diretores conseguissem montar uma obra de arte e que os atores se sentissem parte disso era um desejo de Camilo. “Pensei que seria mais difícil. Falamos de países que têm em comum a língua, mas que são culturalmente diferentes, nossas referências não são semelhantes. O Gero contribuiu muito com o que trazia de seu País, na sua forma de olhar o teatro. Tentei acrescentar com o meu olhar do outro lado do oceano. Nos entendemos muito bem. Foi um exercício de humanização, de observação do outro, de si próprio. De ter uma análise crítica de seu trabalho. Para mim, foi muito rico ter o olhar do outro, como um outro diretor vê o objeto artístico que estamos a trabalhar”, acrescenta Luísa.
Para os protagonistas da peça João Costa e Victor Mendes a busca dos artistas populares a fim de mostrar o seu trabalho é uma realidade da carreira e algo que eles conseguem visualizar em sua trajetória . “Quem traz consigo essa essência não tem para onde fugir, é apaixonante ser artista”, enaltece Mendes.
Para Costa, há uma identificação da realidade dos artistas populares no Brasil e em Portugal. “Lá, os artistas enfrentam muitas dificuldades e muitas vezes fazemos espetáculos por amor à camisa. Mas, me sinto um privilegiado, pois fiz e faço parte de bons projetos”, finaliza o ator português.
o que: | Caminham Nus Empoeirados |
quando: |
até 13 de dezembro de 2015 | Sextas e sábados às 21h, domingos e feriados às 18h |
onde: |
Sesc Santo Amaro | Rua Amador Bueno, 505 | 11 5541-4000 |
ingressos: |
R$ 7,50 (Credencial Plena) | R$ 12,50 (meia) | R$ 25 (inteira) |