Postado em 01/06/2001
Quando fui convidado a participar de uma mesa-redonda com editores e coordenadores do Sesc, de cara, imaginei que deveria enfrentar algumas questões sobre jornalismo, ainda mais por ser representante, naquele bate-papo, do jornal Gazeta Mercantil. Aliás, não quero aqui tratar apenas da Gazeta Mercantil, mas de algumas considerações sobre como estão sendo feitos, hoje em dia, jornais e revistas, de um modo geral.
O primeiro ponto de três que enumerei, sem dúvida, é o da credibilidade. E já antecipo os outros dois: edição e quality paper. O que entendo é que nenhum produto da Imprensa pode prescindir da credibilidade, mesmo que tenha outros atributos como produzir furos de reportagens e até poder de influência junto à sociedade. Sem a constante prática da credibilidade, de produzir textos com base na realidade dos fatos, evitando a tentação da interpretação que caracteriza os editoriais, furos ou influência não se sustentam por muito tempo. Aliás, credibilidade é o mínimo que toda Imprensa deve desenvolver para se tornar referência da informação, fonte segura do que o cidadão escolhe para ler e formar a sua opinião, sendo capaz de influenciar outros posicionamentos. Não é, fazendo justiça às exceções, o que vemos hoje no jornalismo diário praticado por grandes e pequenos veículos - talvez fruto das busca da notícia exclusiva e bombástica, o conhecido furo, ou pelo tamanho do negócio editorial, calcado em pesquisas de leitores e marketing de produto, o que garante efêmera influência.
Ponto levantado durante a conversa no Sesc - e que sempre vem à tona em tempos de múltiplas notícias pela internet -, a questão da edição do material jornalístico é das mais importantes. Não se trata de considerar a figura do editor um clone de Deus, incapaz de cometer erros e ser sempre imparcial, longe disso. Mas o editor é aquele que dá unidade e coerência a inúmeros fatos acontecidos no dia-a-dia e procura seguir o conceito desenvolvido para a publicação que produz. É por isso que o leitor vai às bancas comprar a revista Bravo! ou assina para receber no escritório a Gazeta Mercantil. Sabe que vai encontrar em ambas publicações o que elas se propõem a entregar periodicamente, seja diário ou mensal, conforme seus editores definirem. Agora, definitivamente, não é assim em muitos sites de notícias e nem em jornais que de tão gerais se transformam em banais. O trabalho da edição, em suma, é para, também, excluir o que não tem a menor relevância naquele ambiente editorial, até porque jornais e revistas têm um tamanho definido, fato que não perturba o mundo da internet e seus inúmeros sites de notas, já que falta muito para que se transformem em notícias.
Por fim, mesmo sendo um país carimbado de emergente, a economia brasileira acabou produzindo grandes centros de excelência - em que pese o lado miserável e subumano de vasta porção de Índia que temos em terras tropicais. E nesses centros, principalmente nas capitais de estados e cidades de intensa vida universitária e outras de economias vocacionais, não se pode mais deixar escapar a necessidade de uma imprensa que produza o que há de melhor no mundo editorial e seja um reflexo de suas porções sociais. É assim que o Brasil conquistou o respeito da indústria de jornais e revistas no mundo, com produtos projetados e concebidos à frente de muitos similares de países europeus e das Américas. Para sair do conteúdo e ficar na forma, revistas e jornais do Brasil são constantemente premiados no exterior por suas qualidades gráficas, arte mesmo e não de impressão.
Embora se revele elitista, o mundo do quality paper só dignifica o jornalismo e ajuda a erguer um muro, cada dia mais alto, que deixa do outro lado a enxurrada de jornais populares, definidos para ganhar mais alguns centavos das classes mais baixas, as C, D e E. Aqui, temos que ser solidários com as árvores arrancadas para produzir o papel-jornal.
Antônio Costa Filho é Diretor da Gazeta Mercantil Grande São Paulo e esteve na reunião de pauta junto ao Conselho Editorial da Revista E