Postado em 04/11/2015
“O que fazer quando você não suporta algo que não se pode afirmar não suportar?”, questiona-se Harwan, um estudante de Montreal (Canadá) com cerca de 30 anos. Prestes a defender sua tese, encontra-se sozinho à noite em uma das salas do Museu Hermitage, em São Petersburgo (Rússia), após uma série de acontecimentos profundamente banais. A noite será longa e o levará ao confronto com sua língua materna, esquecida há muito sob as camadas profundas de tudo o que há de múltiplo nele. No museu, observa o quadro O retorno do filho pródigo de Rembrandt, enquanto reflete sobre seu pai, em coma. Questiona o significado da vida, raízes, valores, cultura e o que acontece com seu idioma quando tudo começa a funcionar em outra língua, aprendida, monstruosamente adquirida.
Sozinho no palco, o ator, autor e diretor Wajdi Mouawad dá vida ao jovem estudante no espetáculo Solos (Seuls), em cartaz dias 5, 6 e 7 de novembro no Sesc Pinheiros. É a segunda vez que um texto seu é apresentado nos palcos do Sesc. Sua primeira incursão foi com Incêndios no festival Mirada - Festival Ibero-Americano de artes Cênicas de Santos, em 2012, oportunidade em que o texto foi apresentado no Brasil pela primeira vez.
Desta vez Mouawad, libanês de nacionalidade franco-canadense, apresenta-se neste espetáculo solo, no qual intervenções tecnológicas audiovisuais complementam o enredo. “Solos (Seuls) é um espetáculo escrito de forma polifônica, ou seja, não se baseia apenas na relação texto/ator, porque aí o texto não basta. Existem outras formas de escritos como a projeção de vídeo, a narração e outros elementos que, no espetáculo, agem como escritos enquanto em outros espetáculos, agem como apoio à relação texto-ator”, relata.
Inspirado por elementos autobiográficos, e pela obra de Robert Lepage – sua admiração pelo diretor canadense estende-se até mesmo no enredo, já que a tese a ser defendida por Harwan versa sobre seu trabalho – Solos (Seuls) foi escrito em 2008 e montado pela primeira vez no mesmo ano, no Festival d’Avignon, na França.
Nascido em outubro de 1968, Wajdi Mouawad passou a infância no Líbano e a adolescência na França antes de se estabelecer em Québec onde, formado pela Escola Nacional de Teatro do Canadá em 1991, empreendeu uma carreira quádrupla como ator, diretor, autor e diretor artístico.
Cofundador, com a atriz Isabelle Leblanc, de sua primeira companhia, o Théâtre Ô Parleur, diretor artístico do Théâtre de Quat’Sous em Montreal de 2000 a 2004, ele criou no ano seguinte duas companhias de criação, gêmeas atlânticas: Au Carré de l’Hypoténuse em Paris e Abé Carré Cé Carré em Montreal. De 2007 a 2012, integrou o Centro Nacional das Artes como diretor artístico do Théâtre Français. Em 2009, como artista associado da 63ª edição do Festival de Avignon, criou o quarteto Le Sang des Promesses, composto por Littoral, Incendies, Forêts e Ciels. Associado hoje ao Grand T, um teatro de Loire-Atlantique, reside na França.
o que: |
Solos (Seuls), de Wajdi Mouawad |
quando: |
de 5 a 7 de novembro, às 21h |
onde: |
Sesc Pinheiros | Rua Paes Leme, 195 | 11 3095-9400 |
ingressos: |
R$ 9 (Credencial Plena) | R$15 (meia) | R$ 30 (inteira) |