Postado em 15/10/2015
O compositor Carlos Rennó aborda as letras dos ídolos da Tropicália Caetano Veloso e Gilberto Gil em minicurso oferecido pelo Sesc São José dos Campos
O joseense Carlos Rennó é o convidado do Sesc São José dos Campos para abordar vários aspectos das letras de Caetano Veloso e Gilberto Gil, como a sonoridade, o rimário, o uso de figuras de linguagem e as musicalisações de poemas concretistas.
O letrista Rennó tem parcerias com artistas como Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé. Na voz de Tetê, a sua Escrito Nas Estrelas, composta com Arnaldo Black, venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985. Seu parceiro mais regular tem sido Lenine, com quem criou Todas Elas Juntas Num Só Ser, prêmio Tim de “Canção do Ano”, em 2005. Entre os intérpretes de suas canções estão Chico César, João Bosco, Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Ná Ozzetti e Wilson Simoninha. É autor do livro “Cole Porter - Canções, Versões” (1991) e organizador de “Gilberto Gil - Todas as Letras” (1996; 2003), “O Voo das Palavras Cantadas” (2014), reunião dos seus textos sobre poesia de música popular.
Em conversa com a EOnline, ele falou sobre Tropicália, poesia e música:
A Tropicália influenciou toda uma geração artística na década de 1960. O movimento de contracultura se difundiu em todas as expressões artísticas, principalmente na literatura, no cinema e na música, especialmente com Caetano e Gil. O que você acha que a Tropicália tem a oferecer na formação musical das pessoas? Como Caetano e Gil influenciaram seu trabalho?
As ideias de liberdade e sincretismo – de que somos um povo sincrético e vocacionado para ser livre, pensamento em que sou tentado a acreditar a ponto de querer divulgar – são, ao meu ver, as coisas melhores que o Tropicalismo tem a oferecer hoje para quem se forma não só musical, mas artística e culturalmente. E foi justamente por esses fatores que as obras e as performances públicas de Caetano e Gil – seus pensamentos, suas declarações, seus desempenhos no cenário cultural e político – influenciaram o meu trabalho, por me incitarem a buscar atingir um ideal e uma expressão de liberdade e uma combinação de elementos díspares, como por exemplo os da tradição e da modernidade.
Existe algo parecido com o movimento tropicalista no cenário da música atual? Na perspectiva de quebra de padrões e com o desejo de inovar e romper barreiras?
Não vivemos, há muito, é verdade, momentos históricos propícios para movimentos de vanguarda, como foi o Tropicalismo. Mas as lições q ele deixou – como as de ruptura com o estabelecido e a busca do novo – estão aí, para todos nos aproveitarmos delas.
Trabalhando com tantos grandes nomes, como o próprio Gilberto Gil, o ofício de compositor é mais gratificante?
Sim, o ofício de compositor é gratificante também por isso. Eu, na verdade, decidi ser o q sou – um compositor de canções populares - por causa de Gil e Caetano, que, a exemplo de Chico Buarque, num determinado momento crucial de minha formação me provaram ser possível fazer poesia no gênero canção. E creio ser isso o que tenho feito, em colaborações com diversos outros parceiros q também me gratificam o ofício de compor: me refiro a nomes como Lenine, Chico César, Pedro Luís, Paulinho Moska, João Bosco, além de meus parceiros da primeira fase de minha carreira, como Arrigo Barnabé e Tetê Espíndola.
Francisco Bosco, ensaísta e professor de Teoria Literária, publicou, na edição de número 102 da Revista Cult, que o poema é autotélico, ou seja, que seu discurso é verbal e que se utiliza de seus próprios recursos enquanto obra de arte. Já a letra é heterotélica, isto é, dirige-se à estrutura a que pertence, no caso a canção. Refletindo sobre os temas discutidos pelo professor, qual a linha tênue que separa uma canção de um poema?
Tenho um ensaio dedicado justamente a esse assusto: “Poesia literária e poesia de música: convergências”, republicado em meu livro lançado ano passado, “O Voo das Palavras Cantadas” (que, aliás, foi prefaciado pelo Francisco Bosco; editora Dash). Na verdade, todo o livro é voltado, direta ou indiretamente, em suas dezenas de artigos, para esse tema. E se dedica a demonstrar o que penso a respeito: que letra de música é poesia, sim, uma modalidade da arte poética – poesia popular cantada. Sobre tudo em certos momentos culminantes, quando a elaboração dos versos – ou a aderência deles às melodias, atingindo certos efeitos inauditos – atinge mais propriamente o status de poesia. É o que observamos, por exemplo, nas obras de Caetano e Gil. Não é outra coisa que busco também em meu trabalho como letrista.
o que: | |
quando: |
20 a 22/ago, às 19h |
onde: | Sesc São José dos Campos |
ingressos: |
Grátis (Credencial Plena) | R$ 5 (meia) | R$10 (inteira) |