Postado em 08/09/2015
No contato consigo, o ser humano frequentemente consegue resumir a angústia da sociedade como um todo, e transmitir seus medos e preconceitos comuns. Essa é a ideia em BR-Trans, monólogo que tem como foco principal o assassinato e o suicídio por crimes de homofobia. Um holofote, uma penteadeira e alguns figurinos são tudo que o ator Silvero Pereira precisa para encarnar Gisele, seu álter ego. Juntos, ator e personagem vão investigar a violência da transfobia, contando histórias cômicas e trágicas de travestis e transexuais de todo o Brasil – país líder mundial de assassinatos de travestis.
Dirigida pela gaúcha Jezebel De Carli, do Coletivo As Travestidas, a peça veio de um longo processo de estudos, inquietações e vivências. Tudo começou quando Silvero morava em Fortaleza, onde conviveu com pessoas trans*. “Compreendi que a discriminação do universo trans está ligada à ignorância; à forma como a sociedade excludente em que vivemos trata esse universo, na escola, na família ou na religião. Falta afeto”, resume o ator. Essa falta de aceitação provocou em Silvero uma inquietação latente, que só poderia ser explorada em forma de arte, por meio do teatro.
Foto: Lina Sumizono
Antes de transformar em peça o que sentia, porém, Silvero ainda trilhou um longo caminho. Foram 12 anos de estudos e pesquisas com pessoas trans*, partindo do Nordeste e chegando até o Sul do país: “O que me interessava eram as situações que me comoviam e que poderiam ser transformadas em uma comoção coletiva, uma catarse social”. Um passo importante nesse processo foi o período passado no presídio de Porto Alegre, o segundo no país a implementar uma ala para travestis e companheiros no Brasil – o primeiro foi o de Belo Horizonte. Lá, Silvero ministrou uma oficina de teatro durante dois meses: “O objetivo era uma troca de afetos: ofertar um pouco daquilo que o teatro me proporcionou no sentido do sensível humano, no sentido da coletividade, e ouvir histórias para poder usá-las no ‘BR-Trans’”.
Hoje, a peça já foi encenada quase no Brasil inteiro, do Rio Grande do Sul ao Ceará, e chegou a ser apresentada na 30ª edição do Festival Internacional de Teatro Hispânico de Miami. O deputado federal Jean Wyllys, conhecido pela forte militância LGBT, também assistiu e elogiou o espetáculo, dizendo que “a arte ainda será mais forte que a política".
Em setembro, “BR-Trans” chega ao Teatro do Sesc Pompeia pela primeira vez. Para Silvero, este é um dos palcos ideais para os objetivos da peça: “O Sesc é uma rede muito importante de fomento à cultura e à educação. Acredito que estamos no lugar certo. São Paulo é um dos centros de difusão do país, então espero que seja uma temporada de valor social e artístico”. O mais importante, para o ator, é que as histórias consigam sair da esfera do sensacionalismo e da ignorância e mergulhar na esfera da empatia: “Não queremos fazer algo apenas panfletário, mas conseguimos dosar bem a militância e a arte em 12 anos de trabalho do Coletivo As Travestidas. (...) Ser militante também é importante, mas a arte tem um poder de atingir mais rápido o ser humano porque vai de encontro ao sensível, ao cognitivo”.
* A palavra “trans*”, quando escrita com um asterisco, é um termo que abrange todas as pessoas que não se conformam com o gênero que lhes é imposto socialmente no nascimento: transexuais, travestis, crossdressers etc. É chamado “termo guarda-chuva”: pois abrange todos os outros termos. Fonte: (http://transfeminismo.com/trans-umbrella-term/)
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:: Assista ao teaser do espetáculo:
:: Confira o processo de "transformação" de Gisele:
o que: | BR-Trans |
quando: |
25 de setembro a 18 de outubro |
onde: |
Sesc Pompeia | Rua Clélia, 93 | 11 3871-7700 |
ingressos: |
R$7,50 (Credencial Plena) | R$12,50 (meia entrada) | R$25 (inteira) |