Postado em 03/09/2015
O Sesc em São Paulo, visando potencializar a reflexão a respeito de temas socioambientais, promoverá de 08 setembro a 10 de outubro a itinerância da 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.. Mas o que é o cinema ambiental?
Para falar um pouco mais sobre isso, a EOnline conversou com Tânia Montoro, docente da Universidade de Brasília e cineasta. Entre os destaques de sua carreira estão os documentários “Mulher de Areia” (sobre as coletoras de algas no litoral do Rio Grande do Norte); “Mulher de Borracha” (sobre as extrativistas na região norte) e "A barba de ouro" (sobre a pesca da lagosta no Ceará). Com esta trilogia de pesquisa e produção audiovisual, Montoro recebeu o prêmio internacional de melhor realização audiovisual do Planeta Fêmea na Rio 92 no Brasil.
EOnline - Há uma categoria de filme chamada cinema ambiental?
Montoro - Há um cinema preocupado, sim, com a sustentabilidade do planeta. Este é um cinema que denúncia a exploração dos recursos naturais e ambientais e mostra o esgotamento do planeta terra. Também é um cinema que registra práticas alternativas de produção sustentável de energia, reutilização de água, produção de alimentos de forma orgânica e transformação dos resíduos sólidos. Em meados dos anos 90, tínhamos vários festivais de cinema no mundo todo direcionando seu olhar para a produção sustentável e desenvolvimento mais harmonioso com comunidades locais. Diria que o cinema ambiental é aquele que regista para harmonizar o crescimento econômico com a promoção da equidade social e a conservação do patrimônio natural, garantindo assim que as necessidades das gerações atuais não comprometam o atendimento das necessidades das gerações futuras. É um cinema comprometido com a paz e com a harmonia entre os povos mesmo sabendo que a realidade é uma guerra.
EOnline - Quanto aos roteiros, podemos perceber mudanças no decorrer do tempo. Quais fatores contribuem para estas mudanças?
Montoro - Uma das mudanças recentes na questão do cinema ambiental foi a inclusão do componente sujeitos e populações nos filmes. Até a década de 80, do século passado, cinema ambiental não incluía as populações que vivem da extração dos recursos naturais (pescadores, seringueiros, palmiteiros, pequenos agricultores, etc.). A inserção de todos os atores envolvidos no processo de desenvolvimento deu uma humanizada na produção audiovisual de cunho ambiental. Desta forma, o conceito de desenvolvimento sustentável inclui aspectos sociais e ambientais e passou a ser compreendido como garantia de melhoria da qualidade da vida humana, uma vez que parte do pressuposto de que os benefícios devem favorecer a todos os envolvidos no processo. Não se pode entender desenvolvimento como crescimento centrado somente em variáveis estritamente econômicas. Daí a ênfase no conceito de desenvolvimento na escala humana, ou seja, tomando as pessoas como coluna vertebral do processo de conservação planetária. E os filmes passaram a ter muitas denúncias de populações, sujeitos e povos dizimados pelo processo de crescimento feroz e desumano que atravessamos.
EOnline - Você acredita que as mostras nacionais e internacionais colaboram para colocar o discurso ambiental em debate? Como você analisa a popularização da produção e distribuição audiovisual? Ela contribui para maior reflexão sobre os temas abordados?
Montoro - Creio que sim. Sou uma entusiasta. O cinema sempre conformou mentalidades, cambiou discursos e comportamentos e favoreceu novos hábitos e atitudes! Se o cinema conforma imaginários ele também denúncia desastres que a mídia oficial relega a um segundo plano. Acredito que os filmes de uma mostra ambiental aproximam as nações e povos e favorece nossa compreensão dos conglomerados econômicos que visam somente o lucro. Acredito que o cinema ambiental mostra ao público a diferença entre lucro e riqueza, isso é fundamental. Também acredito que as novas gerações precisam se apropriar de formas mais sustentáveis para viver e trabalhar. Por isso é atual a filmografia ambiental.
EOnline - Quais os motivos que levam um cineasta a trilhar a carreira nessa temática socioambiental? Quais as dificuldades de se fazer esse tipo de filme?
Montoro - Indignação, creio eu, ou ainda necessidade vital de mostrar e revelar lutas escondidas pela sordidez dos processos econômicos do capitalismo selvagem. O modelo de desenvolvimento que adotamos não tem contribuído para maior qualidade de vida e paz entre os povos. Este é o objetivo maior de qualquer processo civilizatório. O cinema é um elemento de auxílio à conscientização para mobilização. Não vejo tantos jovens assim envolvidos com o cinema ambiental. Como professora, incentivo meus alunos de cinema a buscarem temas esquecidos dos noticiários. Ali está a pérola. Mas é sem financiamento. As empresas que poluem também são as que investem dinheiro em cinema. E daí fica um contrassenso. Filme ambiental, em sua maioria, é feito com suor e ideologia da equipe e do diretor. É muito mais difícil financiamento.
EOnline - Quais as perspectivas para os filmes socioambientais para os próximos anos?
Montoro - Sou otimista e tenho assistido mais e mais produções audiovisuais sobre cidades e memória audiovisual. Isto é um sintoma para que o cinema ambiental se reabasteça com novas demandas da sociedade como mobilidade urbana, edificação com menos consumo de energia, reutilização da água e por aí vai.
Gostou? Quer conhecer cinema ambiental e participar das trocas de saberes? Então acompanhe a programação da mostra Ecofalante.
o que: | Itinerância 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental |
quando: |
De 8 de setembro a 10 de outubro |
onde: | |
ingressos: |
Grátis. Consulte as formas de distribuição de ingressos em cada unidade. |