Postado em 21/07/2015
O RZO – Rapaziada da Zona Oeste – surgiu em 1987, no bairro de Pirituba, por iniciativa do rapper Helião. Em parceria com Sandrão, o grupo começou a tomar forma e, nas primeiras formações, os DJs Loo e Rico comandavam as pick-ups. Eles faziam shows de abertura para outros grupos já consagrados, até que em 1999 lançaram o primeiro disco. “Todos são manos” foi lançado sob o selo criado pelo grupo Racionais MC’s, que era referência do rap nacional na época. Com a chegada do DJ Cia, o RZO se consolidou como é hoje. Em 2003, saiu o segundo – e aclamado – álbum do RZO, chamado “Evolução é uma coisa”. Em 2004, o grupo se separou. Agora, dez anos depois, eles estão de volta.
A E-Online conversou com os integrantes do RZO para falar sobre a retomada do grupo, o cenário do hip-hop no Brasil e o show no Sesc Santo Amaro.
Helião, Sandrão, DJ Cia, Negra Li e Calado. Hoje todos eles são conhecidos, não só pela associação ao RZO, mas em suas bem-sucedidas carreiras solo. Quem os vê agora, nem sempre imagina ou lembra que tiveram muito trabalho para conquistar território. Quando o RZO surgiu, no final da década de 1980, o cenário musical brasileiro era dividido entre a explosão do rock nacional e a ascensão de fortes movimentos de axé e música sertaneja. Era um momento em que gêneros mais ligados à periferia de São Paulo, como o pagode e o rap, começavam a tentar espaço na mídia e junto ao grande público.
Nesse início, muitas das oportunidades surgiram graças ao contato e apadrinhamento de grupos que já faziam sucesso. Talvez por isso o RZO também exerça esse papel de formação e plataforma até hoje. Vários outros artistas fazem ou fizeram parte da “família RZO”, tendo passado pelo grupo no decorrer dos anos de atuação. Entre eles, é possível elencar o rapper Sabotage e grupos como Família ZO, DBS e Função RHK. Sandrão conta que essa função é muito importante para eles: “Essa sempre foi a missão do RZO. Na verdade, é a coisa que motiva a gente a trabalhar. Fazer as músicas e poder concretizar esse sonho, vendo tudo isso se realizar, deixa a gente muito feliz”. Por isso mesmo, a formação do grupo muda constantemente, com diversas participações nos projetos e shows.
Helião, que sempre esteve presente, recorda que antigamente a promoção do trabalho era feita nos shows, que supriam a carência de eventos culturais na periferia. “O CD era produzido por nós mesmos e vendia bastante [nos shows]”. A divulgação em rádios, especialmente as comunitárias, consideradas “rádios pirata”, também era eficiente nessa época.
“Hoje temos a internet, que ajuda muito o trabalho independente”, avalia Helião. “Acredito que a guerra da audiência na TV também facilita a vida de quem não tem problemas nesse meio de comunicação, como nós. A informação hoje funciona na velocidade da luz e quem se destaca na mídia é rapidamente procurado pelas redes de televisão, nas quais está nosso público-alvo: periféricos, favelados, detentos, pacientes de hospitais e a juventude em geral”.
Questionados sobre o público dos shows e se ele mudou muito nos últimos dez anos, desde quando o grupo interrompeu as atividades, DJ Cia revela: “Ah, com certeza o público mudou. Ainda temos os mesmos fãs, mas vemos muitos jovens nos shows. Isso é bom, porque dá pra ver que a molecada quer conhecer o RZO de perto, talvez porque ouviram falar, ou porque os pais curtiam. É legal ver isso”.
A relação com os fãs antigos hoje ganhou um tom de saudosismo. “Os nossos fãs de dez anos atrás são aqueles que esperavam a nossa volta, aqueles que mandam mensagem falando que se lembram de determinada época da vida, de quando escutavam nosso som”, conta DJ Cia. Essa saudade foi, a propósito, um forte motivo para a volta do grupo. Sandrão comenta essa retomada da carreira: “Retornamos, porque muitas pessoas pediam. No tempo que a gente teve, cada um passou por muitas coisas. A gente queria que houvesse uma forma de agradecer as pessoas. Fazendo esse novo trabalho, surgiu essa oportunidade. Para nós, ter o RZO de volta é sempre um grande bom momento”.
Atualmente, o RZO trabalha em um novo disco de inéditas. Segundo DJ Cia, o processo inicial no desenvolvimento é definir temas com os quais o público deles se identifique e que, ao mesmo tempo, possa atrair novos fãs. “Paralelo a isso, estão sendo criados os beats com a participação de alguns músicos amigos nossos. Isso para que também tenhamos muitas músicas ricas em arranjos orgânicos, e não só samplers”, explica. “Estamos cuidando com carinho tudo isso”.
A produção do RZO rola hoje em dia na base de muito planejamento. Ainda que o grupo esteja novamente na ativa, todos os integrantes mantém as carreiras solo. DJ Cia conta que eles se organizam para que cada um possa cumprir todas as suas atividades: “Tudo é agendado com muita antecedência, até mesmo porque os shows precisam de tempo para divulgação. Isso já facilita e faz com que a gente consiga conciliar”.
O show que marcou a volta do grupo em São Paulo aconteceu no Sesc Pompeia em abril deste ano. Agora, o RZO chega à periferia, em Santo Amaro, onde a cultura hip-hop é muito forte. “A Zona Sul tem grande participação no trabalho de apoio e difusão do RZO”, diz Helião.
A expectativa para o show é grande. #RZOvoltou
o que: | RZO |
quando: |
24 de julho, sexta, às 21h. 25 de julho, sábado, às 20h. |
onde: |
Sesc Santo Amaro | Rua Amador Bueno, 505 | 11 5541-4000 |
ingressos: |
Esgotado |