Postado em 14/07/2015
Em 12 de agosto inicia o ciclo de palestras Mutações de 2015, discutindo o Novo Espírito Utópico, no Sesc Vila Mariana. Para se inscrever, a partir de 15/7, compareça pessoalmente em qualquer Unidade do Sesc do Estado de São Paulo ou clique aqui.
Inspirado no livro Utopia, de Thomas Morus, que completa 500 anos em 2016, o ciclo - composto por 22 palestras - ocorre em sua 9ª edição e também será realizado simultaneamente no Rio de Janeiro.
Para Adauto Novaes, idealizador do projeto, durante meio milênio, esta palavra, que quer dizer não lugar mas também se pode traduzir por eutopia – lugar da felicidade –, fez um longo percurso cheio de enigmas. Promessa, esperança, simulação antecipadora, horizonte de nossos desejos, a utopia tem um destino comum: a “severa e lúcida crítica da realidade”. Ou, como diz Marx, ela é a “expressão imaginativa de um mundo novo”.
O fundamento da utopia é, pois, a crítica do presente. Hoje é visto, entretanto, a construção de um silêncio não só sobre o desejo utópico mas também sobre seu pensamento. Um dos lugares comuns da nova opinião consiste em dizer que quem pensa a democracia deve fazer o luto da utopia; inversamente, quem insiste em pensar a utopia afasta-se da democracia. O ódio da utopia alimenta-se do ódio à emancipação. O pensamento conservador vai além e tenta justificar esse ódio de maneira sinuosa, desqualificando a utopia com mais um lugar comum: “a política é pensamento, a utopia é ilusão”.
O ciclo de conferências deste ano, que relaciona mutações e utopia, remete às perspectivas criadas pelas revoluções tecnocientífica, digital e biotecnológica ou, mais precisamente, ao futuro pensado pelo que se convencionou chamar de advento do pós-humanismo: 2030 seria a data da grande virada, triunfo da inteligência artificial sobre a inteligência biológica, milhões de nanorobôs circulando por todo o corpo humano, no sangue, nos órgãos, no cérebro para corrigir erros do DNA; a vida poderá ser prolongada ao infinito e seria anunciada, então, “a morte da morte”.
Com Catherine Malabou, David Lapoujade, Eugênio Bucci, Francis Wolff, Franklin Leopoldo e Silva, Frédéric Gros, Guilherme Wisnik, Jean-Michel Besnier, Jean-Pierre Dupuy, João Carlos Salles, Jorge Coli, José Miguel Wisnik, Luiz Alberto Oliveira, Marcelo Coelho, Maria Rita Kehl, Miguel Abensour, Olgária Matos, Oswaldo Giacoia, Pascal Dibie, Pedro Duarte, Renato Lessa e Vladimir Safatle.
Na abertura, será lançado o livro que reúne os artigos dos conferencistas do ano anterior, com os temas tratados naquela edição. A publicação, organizada por Adauto Novaes, é intitulada Fontes Passionais da Violência (Edições Sesc SP).
As conferências acontecerão sempre às quartas, quintas e sextas-feiras*, às 10h30, no Auditório (exceto dia 12/8, no Teatro) do Sesc Vila Mariana.
*A palestra de Jean-Pierre Dupuy foi alterada para o dia 6/10, terça.
PROGRAMAÇÃO
Teatro | 19h30
12/08 - Francis Wolff | As três utopias da modernidade
Auditório | 10h30
Dia 19/08 - Franklin Leopoldo e Silva | Experiência histórica e imaginação
Dia 20/08 - Pedro Duarte | A utopia do pensamento
Dia 21/08 - Olgária Matos | Sem fronteiras e sem passagens
Dia 26/08 - Luiz Alberto Oliveira | Antropoceno, objetos invisíveis, utopia
Dia 27/08 - Frédéric Gros | A utopia dos corpos
Dia 28/08 - José Miguel Wisnik | Arte e dispositivos de contra-poder
Dia 02/09 - Pascal Dibie | A sexualidade como utopia
Dia 03/09 - João Carlos Salles | Pensamento e militância
Dia 04/09 - David Lapoujade | Por uma utopia não-utópica?
Dia 10/09 - Jean-Michel Besnier | O pós-humano: rumo à imortalidade?
Dia 11/09 - Oswaldo Giacoia Jr. | Ética na civilização tecnológica
Dia 16/09 - Vladimir Safatle | O afeto como utopia
Dia 17/09 - Catherine Malabou | Metamorfoses da inteligência
Dia 18/09 - Miguel Abensour | Conversão utópica ou técnicas do despertar utópico?
Dia 23/09 - Renato Lessa | Utopia e negatividade: modos de reinscrição do irreal
Dia 24/09 - Marcelo Coelho | Socialismo utópico, capitalismo científico?
Dia 25/09 - Maria Rita Kehl | A utopia da cura em psicanálise
Dia 30/09 - Guilherme Wisnik | Projeto e Destino
Dia 02/10 - Jorge Coli | Formas estéticas do discurso autoritário
Dia 06/10 - Jean-Pierre Dupuy | Do sonho ao pesadelo (inicialmente a palestra foi divulgada como sendo no dia 01/10)
Dia 07/10 - Eugênio Bucci | Ladrões de utopia
INSCRIÇÕES
A partir de 15/7, aqui, ou pessoalmente nas Centrais de Atendimento das unidades do Sesc SP (Capital e Interior)
TAXAS DE INSCRIÇÃO POR CONFERÊNCIA
R$ 20,00 [inteira]
R$ 10,00 [aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante]
R$ 6,00 [credencial plena e dependentes]
INFORMAÇÕES
De terça a sábado, das 10h às 19h, pelo telefone (11) 5080-3142 ou e-mail mutacoes@vilamariana.sescsp.org.br
Recorte do painel O Jardim do Éden, do tríptico O Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch.
EMENTA
As Três Utopias da Modernidade | Francis Wolff
Duas grandes utopias opostas compartilham hoje o horizonte humano: a naturalista e a pós-humanista. De um lado, dizem alguns, seria preciso renunciar ao sonho de uma técnica emancipadora que nos trouxe apenas a devastação. De outro lado, dizem outros, a técnica deve ser posta mais do que nunca a nosso serviço. A emancipação da humanidade se completará com era da pós-humanidade. E se a verdadeira utopia para amanhã, contra essas duas utopias anti-humanistas, fosse a utopia humanista? E se amanhã todos os homens e todos igualmente, embora permanecendo animais, se tornassem “racionais”?
Experiência Histórica e Imaginação | Franklin Leopoldo e Silva
A relação entre história e utopia passa pelas possibilidades e fronteiras reflexivas, sobretudo se elas forem tomadas não somente como práticas especulativas, mas também como práticas ativas, ou seja, balizadas pelas lutas libertárias. Isso que é a transformação mesma, ou seja, a passagem temporal que engendra, por formação, a forma, onde o que há é, antes da revelação, a interrupção da dinâmica histórica.
Utopia, Distopia, Heterotopia | Pedro Duarte
Outrora, acreditávamos em utopias. Hoje, vivemos em distopias. Modernamente, os sonhos da razão tornaram-se, por vezes, delírios. Promessas de libertação e de emancipação, como aquelas das filosofias de Kant, Hegel ou Marx no século XIX, cumpriram um destino não apenas perverso, mas pervertido, em que trocaram o seu sentido original por outro, diverso e até oposto. O século XX reduziu a razão à razão instrumental nos governos totalitários e transformou o progresso numa ideologia que serviu de justificação para atrocidades éticas das quais as guerras foram o exemplo extremo, mas não único. Do século XIX ao XX, passamos da bela utopia à terrível distopia.
Sem Fronteiras e Sem Passagens | Olgária Matos
A utopia ou a democracia por vir, para Derrida, está na desconstrução da idéia de origem e, com ela, a idéia de Nação, compreendendo-a não a partir da política, mas a partir da língua, na diferença (différence) entre Nação política e Nação cultural. Uma fronteira controla uma passagem, vigia e pode impedi-la e, então, ela é espaço de confrontos. No entanto, a fronteira, mesmo com sua alfândega, sua guarda armada e suas barreiras tem sempre seus schibboleth, seus signos de reconhecimento verbal em cuja voz se inscreve partilha e aliança, marca que manifesta o habitar uma língua. Uma fronteira, como a transposição de uma língua em outra, tem suas passagens clandestinas.
Antropoceno, Objetos Invisíveis, Utopia | Luiz Alberto Oliveira
Pelo menos dois fenômenos nos dominam: o Antropoceno – a Terra se torna agente político, a Política se torna agente geológico -, e a miniaturização dos componentes, o que levou os objetos técnicos a disseminarem-se, em crescente número, pelo seu entorno ou ambiente, e aperfeiçoarem suas capacidades de atuação e interação. Os tecnobjetos tendem a ambientar-se, tornando-se ao mesmo tempo deslocados e invisíveis; tendem também a humanizar-se. Assim, as velhas dicotomias natural/artificial, orgânico/inorgânico, interior/exterior, cognitivo/automático, sujeito/objeto estão em jogo.
A Utopia dos Corpos | Frédéric Gros
“Todas as utopias – escreveu Foucault - nasceram do corpo e a seguir, talvez, voltaram-se contra ele.” A utopia não está ligada, pois, apenas aos projetos políticos e ao sonho de sociedades perfeitas. É também um projeto de transformação, de transfiguração dos corpos. Contudo, é sempre de política que se trata, essa política dos corpos cujo programa Foucault traçou. Lucrécio, Spinoza e Marx nos ensinaram que o dogma da imortalidade da alma era um mito político construído para obter a ordem social, ao agitar o espectro dos castigos do além. Deve-se dizer, hoje, que é com a promessa, dos trans-humanistas, da eternidade de nossos corpos que nos farão obedecer?
Arte e os Dispositivos de Contra-Poder | José Miguel Wisnik
Em As utopias reais ou Lugares e outros lugares, Michel Foucault falava de lugares utópicos que se produzem não na dimensão teleológica do tempo futuro ou na de um espaço apartado dos lugares reais, mas como contraespaços, “opostos a todos os outros”. Agamben radicaliza e generaliza o termo estratégico de Foucault, definindo como dispositivos todos os expedientes de captura dos seres viventes, não apenas as prisões, as escolas, a confissão etc. mas “a escritura, a literatura, a filosofia, o cigarro, os computadores, os telefones celulares...e a própria linguagem”. Entre esses, poremos em destaque o conjunto de atividades que se convencionou chamar de arte. Pretendemos fazer dela um dispositivo heterotópico intervindo sobre a própria conferência, e deslocando-a dos seus eixos.
Sexualidade Como Utopia | Pascal Dibie
A Igreja se opôs ao sexo para tomar o poder, inventando a conjugalidade; a Idade Média, para acalmar o sexo, inventou o amor cortês; o século XVI, rabelaisiano, o expôs em seu vocabulário e pela exibição leviana de decotes e braguilhas renascentistas; o século XVII o codificou para que se fizesse mas não se falasse de sexo. O Século das Luzes o fez entrar na literatura utópica. O tempo das Luzes ampliou o sexo até chegar à ideia contemporânea de “socialismo e sacanagem”. O século XXI espalha-o hoje em profusão no mundo inteiro, para milhões de cibersexuados amplamente descomplexados. A cibersexualidade de amanhã será uma utopia ou uma nova maneira de abordar nossa incômoda genitalidade?
Pensamento, Militância e Utopia | João Carlos Salles
A Universidade parece ser ambiente propício ao pensamento utópico. Não foi sem alguma surpresa ao ler o severo diagnóstico de Wittgenstein: a Universidade não seria o lugar do pensamento. Ele não hesitava em sugerir a seus melhores alunos que se afastassem desse ambiente rarefeito para o pensamento. Por que a Universidade seria enfim tão inóspita? A resposta é talvez trivial: (i) o lugar da repetição, do pensamento com hora marcada; (ii) o lugar da reprodução e, desse modo, sua defesa do mérito (iii) o lugar da competição.A contrapelo dessas fortes imagens, algumas amparadas na dura realidade, queremos explorar o potencial utópico que torna a Universidade um lugar privilegiado do pensamento.
Por uma Utopia Não-Utópica? David Lapoujade
Constatação paradoxal, surpreendente: a noção de utopia é inseparável de uma melancolia a respeito do presente, como se o presente fosse uma espécie de agente de desapossamento permanente. Não há mais, de um lado, o pessimismo relativo ao tempo presente e, de outro, o otimismo relativo ao tempo futuro. O presente é ao mesmo tempo a única coisa que possuímos e aquilo de que somos sempre desapossados. A utopia não consiste mais em sonhar um futuro melhor num espaço ideal. Ela consiste antes em reapropriar-se do presente.
O Pós-Humano: Rumo à Imortalidade? | Jean-Michel Besnier
Em alguns anos, ocorreu algo de extraordinário no universo midiático: fala-se de imortalidade, não mais como um fantasma, mas como uma perspectiva aberta pela tecnociência. Não é mais insensato imaginar fazer a vida eterna, graças à mudança contínua das peças de nosso corpo e à artificialização de nossos órgãos, ou graças ao teletransporte de nossa consciência sobre materiais inalteráveis. A única morte a considerar estaria ligada à decisão de desconectar-se ou de recusar recorrer aos
milagres da tecnologia.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica | Oswaldo Giacoia Jr.
No Princípio Responsabilidade, publicado em 1979, o filósofo Hans Jonas propõe uma ética para a civilização tecnológica. Seu interesse maior consiste em mostrar que as éticas antropocêntricas tradicionais – justamente em função de uma limitada concepção antropológica e instrumental da tecnologia – não estavam à altura do enfrentamento das conseqüências potencialmente irreversíveis que o progresso tecnológico tem exercido sobre as condições de vida humana hoje, bem como para o futuro das novas gerações. Desse modo, já naquele tempo, Jonas chamava profeticamente nossa atenção para a necessidade de repensar uma ética que correspondesse ao desenvolvimento tecnológico.
O Afeto como Utopia | Vladimir Safatle
Sociedades são circuitos de afetos. Enquanto sistema de reprodução material de formas hegemônicas de vida, sociedades dotam tais formas de força de adesão ao produzir continuamente afetos que nos fazem assumir certas possibilidades de vida. Poderíamos então partir de uma premissa hobbesiana: “de todas as paixões, a que menos faz os homens tender a violar as leis é o medo”. Por isto, sabemos desde Spinoza que “não há esperança sem medo, nem medo sem esperança”. “Viver sem esperança”, disse uma vez Lacan, “é também viver sem medo”. Nesta conferência, insistiremos no conceito freudiano de desamparo que pode servir de alternativa para pensar novos circuitos dos afetos que não passem nem pelo medo nem pela esperança.
Metamorfoses da Inteligência | Catherine Malabou
Três questões nos levam a pensar a inteligência hoje: 1) o domínio das neurociências no campo das ciências humanas: as neurociências voltam a dar à noção de inteligência uma atualidade perdida desde a psicologia do final do século XIX; 2) avaliar as implicações dessa mudança no espaço político: em quê elas permitem ao mesmo tempo prolongar e contradizer as análises foucaldianas da biopolítica?; 3) a questão da inteligência artificial: é verdade que estamos próximos da “singularidade”, reinado em que as máquinas vão transcender infinitamente a capacidade humana?
Conversão Utópica ou Técnicas do Despertar Utópico? | Miguel Abensour
Como pensar de outro modo a questão da utopia? Convém substituir a definição estática dos dicionários por um pensamento da utopia que chame a atenção para um movimento, um processo dinâmico. Como explicar a passagem de uma topia a uma u-topia senão pela hipótese da conversão utópica? O que se passa quando o homem ou o coletivo se desvia da ordem existente e se volta para a “expressão imaginativa de um mundo novo” (Marx)?
Utopia e Negatividade: Modos de Reinscrição do Irreal | Renato Lessa
Tomemos o tema do irreal e de sua função a partir da seguinte questão: qual o suporte epistêmico dos atos de alucinação utópica? A questão - na verdade, sua resposta – conduz-nos ao tema da imaginação, e a seu principal pensador: David Hume. Há que explorá-la com vagar, mas que fique desde já posto que a imaginação é uma potência de suplementação da experiência; trata-se de um dado antropológico básico: não releva da história ou das formas sociais, no tempo e no espaço. Não há, tão pouco, aqui a ação do destino do instinto, mas a produtividade de uma vontade de suplementação que se exprime na diversidade e na diaphonía.
Socialismo Utópico, Capitalismo Científico? | Marcelo Coelho
Diz-se que o colapso do regime soviético representou “o fim das utopias”. Isso corresponde a tomar um sistema profundamente repressivo e desacreditado pelo seu antônimo, ou seja, o projeto de uma sociedade justa, livre e fraterna. De todo modo, fracassou a principal tentativa de implantar uma forma de organização social alternativa ao capitalismo, o que parece, hoje, “utópico”, “irrealista” ou “impossível”. Será?Em 12 de agosto inicia o ciclo de palestras Mutações de 2015, discutindo o Novo Espírito Utópico.
A Utopia da Cura em Psicanálise | Maria Rita Kehl
A cura psicanalítica é utópica? Ou o indivíduo que se diz curado representa o fim da travessia de seu processo de desejo? O universo de mercadorias é hoje tão natural que restringe o desejo a algo. Assim sendo, conquistado esse algo, o movimento desejoso cessa? Na melhor das hipóteses: não, pois, do contrário, o que haveria seria a morte do sujeito em meio a um atoleiro de objetos que proporcionaram plenitudes fugazes.
De Volta à Arena Pública | Guilherme Wisnik
A utopia caracteriza-se pela relação do presente com uma perspectiva de mundo futuro. Já a cidade moderna define-se pela revelação do mundo decaído da realidade ordinária ou pela distopia, a exemplo do “Panóptico” de Foucault. Foi o que a atualidade realizou na forma do hiperespaço, em que um prédio pode encerrar uma cidade. Mas, por outro lado, resta pensar a heterotopia, que aponta para um lugar outro: o não-hegemônico.
Formas Estéticas dos Discursos Autoritários | Jorge Coli
A crítica à modernidade pressupõe ultrapassar a episteme que ela revelou. Por isso, uma análise de sua atividade artística é, desse ponto de vista, particularmente esclarecedora, pois foi nela que as formulações conceituais, as crenças coletivas, as intuições encantadas e felizes - e também as relações com as piores realidades - viabilizaram-se, denunciando estruturas, conflituosas ou não, constituídas por uma origem universal.
Do Espaço ao Tempo | Marcelo Jasmin
Quando a descrença em relação a modelos redentores se associa à explosão da violência cotidiana e à crescente submissão à tecnologia e sua incrível parafernália, vive-se a distopia, ou seja, a antítese da utopia. Assim, a contemporaneidade parece carregada de incerteza, e a sensação de impotência mistura-se à ausência de uma direção definida para a história humana.
Do Sonho ao Pesadelo | Jean-Pierre Dupuy
A utopia tecnológica é o sonho, transformado em pesadelo, de que os danos engendrados pelo desenvolvimento da técnica poderão ser reparados pelo progresso tecnológico. Essa utopia coincide com a utopia econômica que assegura que os males produzidos pelo crescimento econômico só poderão ser eliminados por ainda mais crescimento econômico. Mais produz menos, mas é no sempre mais que se busca o remédio.
Ladrões da Utopia | Eugênio Bucci
A recente Esquerda brasileira, que gerou expectativas, gera hoje, para seus militantes, dificuldades diante de inúmeras denúncias de corrupção, sobre as quais não se pode silenciar. Por outro lado, o que há são discursos autoritários, explosivos, coléricos...Reações que caracterizam, para além da perda material, a perda de aspectos disso que se costumava chamar de utopia. Deve-se propor um questionamento brando – eu realmente o qualificaria como brando – desse fenômeno um tanto inconveniente sobre o qual muitas vezes nós preferimos silenciar: o ato de surrupio, dissimulado ou escancarado, esporádico ou contumaz, dos sonhos e programas que um dia foram capazes de galvanizar esperanças tão felizes.
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