Postado em 01/07/2015
Já imaginou encontrar 589 espécies de plantas e animais em uma área com aproximadamente 60 hectares de floresta no meio de uma área urbana? Essa é a Reserva Sesc Bertioga, um pedacinho de verde no meio da cidade.
Os dados sobre o que há na Reserva foram apresentados nos dias 28 e 29 de abril de 2015 no Sesc Bertioga. A intenção é que a área seja reconhecida como Unidade de Conservação pelo governo do estado de São Paulo, através da Fundação Florestal, na modalidade Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), com o objetivo de desenvolver atividades de educação ambiental, turismo e pesquisa.
Enquanto tramita o reconhecimento legal da área, é realizado o plano de manejo da Reserva Sesc Bertioga, sob a coordenação do Instituto Ecofuturo. O estudo divide-se em duas etapas: diagnóstico e planejamento.
Para a etapa de diagnóstico foram envolvidos cerca de 40 pesquisadores subdivididos em 8 equipes que estudaram os seguintes elementos da área: meio biótico, meio físico, socioeconômico, aspectos históricos e culturais, visitação, geoprocessamento, aspectos ligados à gestão, diagnóstico e planejamento participativo.
Segundo Paulo Groke, diretor de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo, "o plano de manejo da futura RPPN Reserva Sesc Bertioga representa uma oportunidade muito grande de fazer algo efetivamente participativo. Ao longo dos anos nós vimos muitos planos de manejo que tiveram suas partes feitas isoladamente. Estudos de equipes de campo que acabaram se encontrando somente no final. Já o do Sesc proporcionou a possibilidade de formação de um efetivo time de trabalho, participativo desde o início".
Trabalhar de forma conjunta com outros módulos possibilitou uma melhor interpretação da área. Segundo Guilherme Rocha Dias, coordenador do plano de manejo, a área tem “um volume gigantesco de informação que vão além da RPPN”. Ele completa dizendo que “a principal questão dessa área é a conexão. Ela é uma área interessante porque é bem pequena e está incrustada na área urbana. Por isso ela tem o potencial de conectar as pessoas ao ambiente devido essa proximidade”.
Um dos resultados da proximidade da Reserva Sesc Bertioga com a população urbana foi a criação do coletivo educador. Segundo Henriqueta Raymundo, coordenadora do módulo Diagnóstico e Planejamento Participativo, com esta mobilização do Sesc SP foi possível “a criação do coletivo educador de Bertioga. Isso é algo muito significativo, pois é a primeira vez que, a partir de uma proposta de RPPN forma-se algo do tipo. Um coletivo educador é um conjunto de instituições que vão trabalhar pelo território, pela sua sustentabilidade. Isso através da educação e intervenção socioambiental”.
[O que é um coletivo educador?]
O papel de um Coletivo Educador é promover a articulação institucional e de políticas públicas, a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual e criar condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental com a população do contexto, visando a sinergia dos processos de aprendizagem que contribuem para a construção de territórios sustentáveis. – Fonte: Ministério do Meio ambiente |
O que foi encontrado
A área em questão é recoberta de floresta alta de restinga (um ecossistema altamente ameaçado). Apesar de ser uma área pequena (aproximadamente 60 ha), localizada no meio urbano do município de Bertioga, foram encontrados dados muito interessantes, como a existência de algumas espécies ameaçadas de extinção. Segundo João Giovanelli, coordenador do módulo meio biótico, “foi muito interessante ver que um fragmento de vegetação inserido no meio urbano ainda abriga uma diversidade de espécies, muitas delas endêmicas da Mata Atlântica”. Ele completa relatando que “ninguém tinha vindo aqui e realizado um estudo tão completo da fauna de Bertioga, possibilitando encontrar algumas espécies ameaças de aves, como o pavó e macuco, e algumas espécies de vegetação”.
Entre as 589 espécies encontradas, destaca-se a presença do palmito juçara e a caixeta, ambas em estado de vulnerábilidade de extinção, segundo classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais . Também foram encontradas quatro espécies de besouros, sendo dois novos registros de ocorrência na Baixada Santista. Em relação às formigas, foram encontrados quatro gêneros que não haviam sido registrados para áreas de restinga no estado de São Paulo. Também foram encontradas quinze espécies de abelhas que tiveram seu primeiro registro na região de Bertioga. Das inúmeras espécies de aves encontradas, houve registro de cinco que necessitam de atenção para sua conservação, como o macuco (quase ameaçada), choquinha-cinzenta (quase ameaçada), araponga (vulnerável), pavó (pouco preocupante), tiririzinho-do-mato (quase ameaçada). Além disso, foram avistadas quatro espécies de mamíferos de grande e médio porte, como o tamanduá-mirim e veado-catingueiro. Também houve o registro do rato-do-brejo, uma espécie rara.
Box de Espécies encontradas da Reserva Sesc Bertioga
Lenine visita a Reserva Sesc Bertioga
O compositor, cantor e ativista Lenine realizou visita técnica na área da Reserva Sesc Bertioga no dia 20 de maio. Entre os vários assuntos, Lenine ressaltou que “a gente tem uma responsabilidade fundamental na tentativa de mudar essa civilização”.
Além disso, ele também participou de uma roda de conversa com o Coletivo Educador de Bertioga e com os novos agentes de educação ambiental de várias unidades do Sesc SP.
Lenine comentou que ficou satisfeito com o que viu sobre a futura RPPN: “primeiro de perceber essa comoção ao ponto de reunir tanta gente bacana em prol de uma coisa: a melhoria de Bertioga. A segunda é reafirmar que o coletivo é o grande caminho. O terceiro ponto é o de perceber que dentro disso tudo há educação e educação é fundamental. Só seremos mais civilizados, entrando em uma maioridade como nação pelo viés da educação. Não existe outro caminho”.