Postado em 01/04/2001
Agora, no Sesc, um novo conceito de acesso à Internet. Mais que navegar pelo mundo virtual, em alta velocidade e com toda a liberdade, os jovens encontram um espaço para experimentar e viver
A luz azulada dos computadores ilumina a face atenta dos jovens navegadores. À sua frente o mundo virtual abre-se em páginas rápidas, desdobra-se, múltiplica-se num piscar de olhos, em avalanche de imagens, sons, texto. Em pé, à sua volta, outros jovens acompanham a alucinante viagem, aguardando a vez de tomar assento e apoderar-se dos controles da máquina. Há um quê de irrealidade nessa mistura singular de tecnologia e devaneio cibernético. De repente, sem aviso, explode numa tela gigante de plasma o clip do momento, arrebatando corações e mentes que passam a pulsar em outro ritmo. Esse, aliás, é o ritmo da Internet Livre, o mais novo projeto cultural do Sesc de São Paulo.
São nove espaços concebidos arquitetonicamente para esse fim, com design inovador, mobiliário diferenciado e toda a tecnologia de ponta para a navegação na Internet, principalmente acesso gratuito em banda larga, de alta velocidade. Mesmo porque não se pode mais pensar em formação, desenvolvimento e participação social e cultural sem o emprego das novas tecnologias de comunicação e, é claro, de sua ferramenta mais expressiva, a Internet.
Mas unidades do Sesc Pompéia, Belenzinho, Vila Mariana, Ipiranga, Consolação, Carmo e Santo Amaro, na capital, e também Araraquara e Campinas, no interior, a partir do dia 18, passam a oferecer aos jovens muito mais que o acesso à navegação. A Internet Livre é mais que isso.
É um ponto de encontro e um local que, marcado pela inovação de procedimentos diante das novas tecnologias, está preparado para favorecer o intercâmbio cultural e estimular situações que possam incrementar a criatividade de públicos diferenciados.
Partindo desta premissa, a Internet livre é um conceito que visa oferecer acesso gratuito à rede mundial de computadores. E, mais importante, esse conceito ambicioso deve vislumbrar no jovem de baixa renda seu alvo principal. Historicamente, as populações desfavorecidas foram alijadas do contato com recursos tecnológico e, portanto, até hoje, mantêm-se à margem das ofertas de emprego e de lazer. Essa foi a observação do pensador italiano Franco Berardi, em entrevista à Revista E de março: "Eu nunca critiquei a Internet. Sempre a considerei uma esfera que está além de julgamento. A única coisa que podemos julgar é a agenda social na qual a Internet está inserida. No entanto, faz muita diferença se tal agenda é de orientação capitalista e competitiva ou se trata de uma agenda subversiva, amigável e libertária." Diante dessa constatação, a irrestrita inclusão social, tão almejada no Brasil, passa, obrigatoriamente, pelo acesso equânime aos novos recursos. Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc/SP, ressalta essa necessidade: "O acesso virtual a outras realidades constitui forte mecanismo na luta contra o isolamento pessoal e social. Mas, para facilitar o acesso à nova cultura e ao novo estilo de vida que hoje flui pela tecnologia eletrônica, é necessário organizar oportunidades para que um maior número de indivíduos, principalmente os jovens, possam dispor dos meios que lhes permitam aprender a se comunicar e a utilizar as imensas possibilidades de informação e lazer disponíveis na Internet."
Nesse sentido, o Sesc, ciente de seu papel na sociedade como instituição que oferece bens culturais, educação informal, saúde e lazer a todos, sem distinção socioeconômica, no tocante às novas tecnologias não poderia agir diferente. Assim, a partir do projeto experimental, realizado na unidade de Araraquara, o Sesc coloca à disposição do público espaços onde o conceito de Internet livre é materializado.
São centros dotados de todo o aparato tecnológico necessário para navegação na Internet: micros de última geração, telas e telões de plasma, sistemas de som, além de mobiliário com design inovador. O projeto conta ainda com animadores do Sesc especialmente treinados para ajudar, incentivar, sugerir e estimular a participação e a criatividade, sem interferir na liberdade e nos valores dos jovens. Com o intuito de possibilitar aos usuários uma navegação mais fácil, atraente, de modo que se possa ter proveito em todos os seus recursos, optou-se pelo acesso em banda larga, de alta velocidade.
Em contrapartida, uma das críticas feitas à Internet é o fato que tende a afastar as pessoas reais, substituindo-as por relacionamentos virtuais. O projeto realizado pelo Sesc estimula a comunicação interpessoal direta, a troca de experiências e novas amizades, uma vez que a navegação individual será sempre feita em ambientes plenos de pessoas de carne e osso, que compartilham vários interesses e valores.
É claro que o projeto não pretende nem poderia atender a todos os interessados. Mas a perspectiva é exatamente propor modelos que possam levar outras instituições, públicas e privadas, a proporcionar o acesso gratuito, superando as barreiras sociais e econômicas que impedem o uso maciço da Internet.