Postado em 10/02/2015
Há algumas décadas, velhice era assunto que basicamente nos remetia à idéia de perdas e limitações na esfera médica e social. Além da pouca visibilidade dos mais velhos, devido à sua baixa expressão estatística, também seu estilo de vida, recolhidos que ficavam a seus lares, os tornava socialmente ausentes. A partir dos anos 60 e 70, gradativamente a imagem do idoso se tornou mais complexa e mais nuançada aos olhos da sociedade brasileira. Passamos a não associar o idoso necessariamente à idéia de fragilidade e incompetência, mas de alguém com potencialidades e, portanto, alvo de investimento. Passamos a falar da velhice não só como fonte de carência, mas como fonte de recursos para a coletividade. Podemos associar tais mudanças de paradigma a fatores como aumento populacional da Terceira Idade, desenvolvimento da ciência gerontológica e a atuação dos “aliados sinceros” à causa do idoso, ou seja, especialistas, pesquisadores, trabalhadores sociais, políticos, etc, organizados, ou não, em instituições voltadas à promoção da velhice. Nesse sentido, o SESC exerceu uma ação pioneira ao formar nos anos 60 e 70, os Grupos de Convivência e as Escolas Abertas da Terceira Idade, modalidades de atendimento à pessoa idosa que hoje se encontram espalhadas pelo país, realizadas por prefeituras, governos estaduais, universidades e outras instituições. Mas, se pessoas e agências, públicas ou privadas, foram e prosseguem sendo importantes para o surgimento dessas novas representações sociais da velhice, aos próprios idosos devem ser creditadas boa parte da responsabilidade por tais transformações. Ao observador minimamente atento não é difícil perceber a crescente presença do idoso nos espaços públicos. Cada vez mais, os velhos “ocupam a cena” e, às vezes, no papel de decisivos protagonistas. Os conselhos municipais e estaduais de idosos, o Conselho Nacional do Idoso e outras formas de mobilização e organização da Terceira Idade atestam a emergência de um cidadão idoso. A propósito, nesta edição, destacamos o artigo da professora Áurea Soares Barroso, que analisa a influência das ações do Interfórum do Cidadão Idoso e dos Fóruns Regionais de Cidadãos Idosos na conquista de direitos sociais. Em que pesem todas as dificuldades apontadas pela pesquisadora, como falta de verbas, insuficiente preparo das lideranças para a compreensão do funcionamento “máquina pública”, os resultados têm sido muito positivos, a começar pela aproximação do cidadão ao poder público, sobretudo, no âmbito municipal. Há ainda muito a ser feito, mas paulatinamente estamos superando as seqüelas impostas por regimes de exceção e políticas clientelistas ao longo de nossa história. Nesse novo e promissor contexto, o SESC mantém seu compromisso com a valorização dos idosos, oferecendo a eles oportunidade de acesso a bens culturais e estimulando sua produtividade nos vários campos da cultura brasileira.