Postado em 10/02/2015
O aumento da população da Terceira Idade no Brasil e no mundo tem sido sobejamente noticiado e comentado tanto na literatura especializada quanto nos meios de comunicação de massa. Há países como Japão, Suécia, Espanha, entre outros, com um contingente de mais de 20% de cidadãos maiores de 60 anos de idade. Mesmo os chamados países emergentes vivem essa realidade demográfica. Projeções para 2050 nos revelam uma situação jamais imaginada:a de que a Terceira Idade suplantará numericamente os integrantes da faixa compreendida entre zero e 15 anos de idade! Teremos uma sociedade, portanto, com mais velhos do que crianças. De fato, constatamos a presença constante e crescente dos idosos no cotidiano das ruas e das organizações. Ativos e atuantes, muitos ainda trabalham, outros usufruem atividades de lazer em suas mais variadas formas, outros e dedicam ao trabalho voluntário ou a algum tipo de militância política, ecológica, social ou cultural. Com todos os problemas advindos da pobreza de uma parcela considerável dessa população, sobretudo nos países do Terceiro Mundo, o envelhecimento saudável e participativo é uma conquista da sociedade moderna. Gradativamente, o potencial dos idosos vai sendo revelado e valorizado socialmente. No entanto, outro dado demográfico importante e que ainda não tem sido devidamente observado e considerado na formulação de políticas públicas é aquele que nos informa sobre o crescimento, ainda mais exuberante, da população dos muito velhos, ou seja, da chamada Quarta Idade, composta por pessoas com mais de 80 anos de idade. Trata-se de fenômeno mais visível nos países desenvolvidos, mas cuja tendência já pode ser notada em escala planetária. Sem dúvida, para essa geração o maior desafio é representado pelas perdas físicas e cognitivas que se avolumam e em relação às quais as possibilidades de sucesso diminuem drasticamente. O processo de fragilização, portanto, desse segmento populacional, se mostra irreversível e inexorável. Reflexo de nossa preocupação com o dilema da Quarta Idade é o empenho que fizemos para trazer ao público brasileiro o artigo, nesta edição, do professor Paul Baltes, renomado pesquisador do Instituto Max Plank de Berlim. Paul Baltes se notabilizou internacionalmente por suas pesquisas dos efeitos do envelhecimento sobre as funções cognitivas. Seus experimentos e sua aguçada observação sobre o modus vivendi de pessoas idosas bem sucedidas, revelaram a utilização eficaz dos mecanismos de seleção, otimização e compensação no exercício de tarefas. Sua contribuição tem sido muito importante para a implantação de políticas preventivas nessa área. No texto que ora publicamos, o autor se debruça sobre os mais longevos, cuja acentuada fragilidade física e mental, torna muito difícil a atenuação das perdas. A partir daí, Baltes encaminha uma sensível reflexão sobre que atitude a ciência e a sociedade devem adotar frente à fragilização da vida. O que pode e o deve, de um ponto de vista ético, ser feito para manter a dignidade do ser humano. Ao longo dessas quatro décadas em que o SESC São Paulo tem desenvolvido o Trabalho Social com Idosos, mantivemos a preocupação não apenas em responder às questões mais imediatas, mas também em nos antecipar, dando visibilidade a questões que estarão na ordem do dia nos próximos anos. O atendimento aos muito velhos, na perspectiva da manutenção de um final de vida digno e de qualidade, se inscreve entre essas desafiadoras questões.