Postado em 02/02/2015
Espetáculo Hora Amarela coloca em voga intolerância, religião, fanatismo e preconceito
Nova Iorque sitiada. O título de um filme é o cenário do espetáculo Through the Yellow Hour, do dramaturgo norte-americano Adam Rapp. A montagem brasileira, traduzida por Isabel Wilker e dirigida por Monique Gardenberg, ganhou o título Hora Amarela e faz sua estreia na capital paulista, no Teatro do Sesc Bom Retiro.
Escondida há três meses no porão de seu prédio, protegendo-se da guerra misteriosa e violenta que assola a cidade, Ellen (interpretada por Deborah Evelyn) faz de tudo para sobreviver e não perder a esperança de rever o marido desaparecido. No desenrolar da peça, ela é surpreendida pela chegada de diferentes personagens, como Maude (vivida por Isabel Wilker), jovem viciada em drogas à procura de abrigo, o professor Hakim (personagem de Emílio de Mello na montagem carioca e vivido por Michel Bercovitch nesta temporada), que traz notícias do mundo externo, e o fugitivo Sírio (papel de Daniel Infantini) que não consegue se comunicar por não falar outra língua. A situação se torna cada vez mais desoladora e Ellen tenta desesperadamente seguir em frente e se manter viva.
A atriz Mônica Torres assistiu a montagem original, adquiriu os direitos do texto e o compartilhou com Deborah Evelyn; as duas então convidaram Monique Gardenberg para assumir a direção. A baiana, que também é cineasta (diretora de Ó Paí, Ó), já havia trabalhado um texto de Rapp: em 2011, montou Inverno da Luz Vermelha.
Um dos dramaturgos mais proeminentes de sua geração, Rapp já escreveu mais de 25 peças teatrais e publicou 8 livros, além de trabalhar como diretor, roteirista e ator. Hora Amarela é seu trabalho mais recente e traz as características marcantes de seu trabalho: um texto sombrio e verdadeiro. A montagem americana, que estreou em 2012, foi dirigida pelo próprio autor e teve como resultado diversos elogios disparados pela crítica, além de indicações a alguns prêmios.
Quando recebeu o convite para dirigir o espetáculo em terras tupiniquins, Monique mostrou-se um pouco resistente. “Nunca havia imaginado encenar uma ficção científica. Mas aos poucos fui me dando conta que, embora a história se passe no futuro, tudo o que acontece em cena já foi, de uma forma ou de outra, produzido pelo homem, tem uma base real que a torna assustadora e nos faz refletir sobre os caminhos da humanidade” conta.
A cenógrafa Daniela Thomas, o figurinista Cassio Brasil e o iluminador Maneco Quinderé ficaram responsáveis por recriar todo o ambiente de destruição. De forma a instigar a plateia a refletir sobre o futuro e sobre a própria condição humana, o espaço do palco mostra um local fechado e claustrofóbico, dando ideia de um porão fechado abaixo do solo. Já para criar no imaginário a situação de guerra que acontece fora do esconderijo da protagonista, corroborando com os temores e as incertezas vistos em cena, o músico paulista Lourenço Rebetez compôs a trilha sonora especialmente para o espetáculo.
Segundo Monique, o som ‘comenta’ toda a peça: “Quando li o texto, pensei: tem que ser rápido, doloroso e muito tenso. A forma de criar esta tensão seria através da trilha sonora, algo que precisaria ser composto. Por coincidência, antes de começarem os ensaios, assisti a um ballet do coreógrafo Ricardo Linhares musicado pelo Lourenço. Além de um profundo conhecimento musical, ele é um pensador inquieto. Eu precisava desta combinação’, conta a diretora.
Recém-saído de temporada carioca, onde fez sua estreia nacional, Hora Amarela ganha agora os palcos da região central da capital paulistana: todas as quintas, sextas, sábados e domingos, de 20 de fevereiro a 29 de março, fica em cartaz no Sesc Bom Retiro, com ingressos que variam de R$ 9,00 a R$ 30,00.
Nesse cenário de ruína, sugerindo um futuro sombrio para a humanidade, algumas questões reverberam para nossa existência: Como se manter vivo? Como sobreviver em um mundo como este? Como se manter são?
o que: |
Hora Amarela |
quando: |
De 20/02 a 29/03/2015 |
onde: |