Postado em 15/01/2015
Segunda edição da MIT-SP leva quatro espetáculos às unidades do Sesc, vindos da Alemanha, Holanda, Rússia, Suíça e Ucrânia.
Espetáculos de países como Rússia, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Ucrânia, Holanda, Itália, Israel e Brasil. Assim está desenhada a 2ª edição da MITsp que, entre 6 e 15 de março, apresentará trabalhos dos mais relevantes encenadores contemporâneos inéditos no Brasil. As vendas de ingressos terão início no dia 5 de fevereiro, às 14h.
A 2ª edição da MITsp tem apresentação do Itaú Unibanco e é feita em parceria com o Itaú Cultural. O evento é correalizado pelo Sesc São Paulo, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e pelo Centro Internacional de Teatro Ecum – CIT Ecum. A MITsp ainda conta com o financiamento das Leis Estadual e Federal de Cultura e do Fundo Nacional de Cultura.
Para ampliar e diversificar o público, a MITsp fará apresentações em vários teatros da cidade, como o Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, Itaú Cultural, Sergio Cardoso, unidades do Sesc, CCSP – Centro Cultural São Paulo, e estará presente também nos teatros Flávio Império (zona leste) e Alfredo Mesquita (zona norte).
O Sesc em São Paulo receberá cinco espetáculos: Stifters Dinge (Suíça) no Sesc Ipiranga, Canção de Muito Longe (Holanda) que faz sua estreia mundial, Opus nº7 (Rússia) e Woyzeck (Ucrânia), no Sesc Consolação, e Senhorita Julia (Alemanha) no Sesc Pinheiros.
Os espetáculos
A ideia de realizar uma mostra internacional na cidade de São Paulo surgiu do encontro de Antonio Araujo, diretor do Teatro da Vertigem, e de Guilherme Marques, diretor geral do CIT-Ecum – Centro Internacional de Teatro Ecum, que juntos idealizaram e colocaram em prática, em 2014, um evento que ofereceu à cidade alguns trabalhos significativos do cenário internacional, centrados na experimentação e na investigação.
Em 2015, um tema perpassa a grade de programação dessa 2ª MITsp, intencionalmente: as zonas de conflito que envolvem Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina, as tensões existentes no espaço geográfico e no âmbito das relações, e o como isso se traduz no palco ou nas encenações contemporâneas. E como o diálogo entre esses povos pode se dar na esfera das artes. Para contemplar esse assunto, alguns expoentes europeus estarão presentes na MITsp: Dmitry Krymov, Yuri Butusov, Andriy Zholdak e Arkadi Zaides.
Cena de Canção de Muito Longe
Foto: Jan Versweyveld
Além disso, a MITsp inova ao coproduzir um espetáculo para que sua estreia mundial pudesse ser feita no Brasil, em São Paulo: Canção de Muito Longe, da Holanda, dirigido por Ivo van Hove, um dos encenadores teatrais mais importantes do momento, que traz seu grupo Toneelgroep Amsterdam para realizar o intercâmbio artístico com os brasileiros e fazer sua première na Mostra, no Sesc Consolação. Em cena, um jovem banqueiro (Eelco Smits) retorna de Nova York para sua cidade natal, Amsterdã, para assistir ao funeral do seu irmão mais novo. Ele lê uma série de cartas escritas em vários tons – nostálgico, desafiante e desinibido – que ele havia escrito numa tentativa de reconquistar o contato com o irmão que ele nunca realmente conheceu. Esse trabalho é um processo de luto através do qual o jovem banqueiro mergulha na sua angústia para redescobrir a esperança e o otimismo. O cantor e compositor americano Mark Eitzel compôs especialmente para este espetáculo e a dramaturgia é de Simon Stephens, um dos dramaturgos britânicos com maior proeminência nos dias atuais.
Da Rússia vêm dois trabalhos, Opus nº 7, com autoria e direção de Dmitry Krymov, que também será apresentado no Sesc Consolação, e A Gaivota, texto clássico de Anton Tchekhov, com direção de Yuri Butusov. Opus nº 7 é uma mistura de show, peça e performance visual, e é dividida em dois atos: o primeiro sobre a tragédia envolvendo os judeus durante a II Guerra Mundial e o segundo sobre o destino do célebre compositor Shostakovich, constantemente envolvido em polêmicas junto às autoridades da era stalinista. O espetáculo mescla atores com manequins, bonecas, vídeos e fotografias. Essa montagem é composta por oito atores que fazem cada uma das cenas duas, três, quatro vezes, com diferentes interpretações e personagens, como por exemplo, cinco artistas distintos para assumir o papel do frustrado jovem escritor Treplev. Em A Gaivota, a história em cena mostra os conflitos de um grupo numa propriedade rural da Rússia no fim do século XIX, mas Butusov expressa sua opinião sobre tudo: traição, imaginação, talvez medo da própria inaptidão. Não é apenas uma encenação sobre teatro – é também uma antologia do teatro.
Da Ucrânia vem Woyzeck, dirigido por Andriy Zholdak, que recebeu muitos prêmios, incluindo o Prêmio UNESCO 2004 para as Artes Cênicas. Seu Woyzeck foi encenado em 2008 para o Festival de Cultura Alemã na Ucrânia – organizado pela embaixada Alemã e o Goethe Institute Kiev – em cooperação com o grupo do Cherkasy State Academic Music and Drama Theatre nomeado T. Shevchenko e com o apoio dramatúrgico de Carl Hegemann. Esse Woyzeck de Zholdak mostra a humanidade exibida em uma caixa de vidro e espelhos e assim lança um olhar inteiramente teatral, onírico, sobre a condição de estarmos entre homens e mulheres, pobres e ricos, servos e mestres, condutas e morais, animais e deuses: uma enciclopédia surreal, anarquista e perversamente divertida da vida e da arte, da qual ninguém pode escapar. A apresentação é no Sesc Consolação.
Cena de Senhorita Julia
Foto: Stephen Cummiskey
Katie Mitchell, uma das encenadoras mais importantes da Inglaterra, inovadora no uso da relação entre teatro e vídeo traz Senhorita Julia ao Sesc Pinheiros, livremente inspirado na obra de August Strindberg. Leo Warner, do grupo Schaubühne, também assina a direção do espetáculo. Nessa montagem, que mantém um ritmo lento e com diálogos mínimos, o público fruirá de uma experiência visual - tanto pictórica e cinematográfica como teatral. O que acontece na tela acontece no palco, mas nem sempre em momentos idênticos.
Inspirado na obra de Adalbert Stifter, Stifters Dinge, da Suíça, tem direção de Heiner Goebbels, um dos encenadores mais radicais da atualidade. Uma peça de teatro sem atores, uma performance sem performers, cinco pianos sem pianistas, é um convite para ver e ouvir. Tudo gira em torno da consciência das coisas e/ou adereços, que aqui se tornam protagonistas: luz, imagens, sopros, sons, vozes, vento e névoa, água e gelo. As apresentações acontecem no Sesc Ipiranga.
Com direção e autoria da italiana Emma Dante, (que hoje, ao lado de Romeo Castellucci, presente na 1ª edição da MITsp, é uma das mais importantes encenadoras da Itália), vem o espetáculo As Irmãs Macaluso, que conta a história de uma família de sete irmãs que se encontram para o funeral de uma delas. Essa reunião dolorosa se torna uma ocasião para recordar o passado, que acaba por desencadear uma faísca entre as irmãs e o vínculo inquebrável se transforma em opressão e acusações.
A MITsp contempla a dança contemporânea ao convidar para a segunda edição o espetáculo israelense Arquivo, que tem autoria e direção de Arkadi Zaides. Em cena, um homem de barba, expressão melancólica e corpo esguio – o próprio Arkadi Zaides – se apresenta e avisa ao público que as imagens projetadas fazem parte do arquivo do centro de informação israelense pelos Direitos Humanos nos territórios ocupados (B’Tselem). Para captar essas imagens, voluntários palestinos que vivem na Cisjordânia receberam câmeras de vídeo e gravaram o dia a dia da ocupação. Assim, com essas imagens projetadas, Arkadi, pouco a pouco, e a princípio com alguma hesitação, começa a reproduzir esses gestos.
A convidada brasileira Christiane Jatahy, da Cia Vértice de Teatro (patrocinada pela Petrobrás), com sua pesquisa sobre as fusões e complementaridades entre cinema e teatro, traz à MITsp dois trabalhos (ambos com passagens anteriores pelas unidades do Sesc): Julia, adaptação da peça Senhorita Julia de August Strindberg e E Se Elas Fossem Para Moscou?, feito a partir do texto As Três irmãs, de Anton Tchekhov. Em Julia, que tem cenas pré-gravadas e outras filmadas ao vivo, o teatro se torna cinema ao vivo. Esse filme será construído na presença do público a cada dia, é uma fricção permanente entre teatro e cinema. E Se Elas Fossem para Moscou? é uma peça, mas também é um filme. São dois espaços diferentes entrelaçados, um é a utopia do outro, mas cada um é completo em si. Ali, no teatro, as cenas são filmadas, editadas e mixadas ao vivo. Simultaneamente as duas artes coexistem. E o público escolhe de qual ponto de vista quer ver essa história sobre três mulheres de hoje, três irmãs em diferentes fases da vida desejando a mudança.
O eixo pedagógico
O forte viés pedagógico observado na primeira MITsp se repete nessa segunda edição. Os eixos Olhares Críticos, Fórum de Encontros e Intercâmbio Artístico se renovam na intenção de potencializar o encontro entre o espectador e a obra criativa, e fomentar a reflexão e o olhar crítico sobre os trabalhos.
Acesse a programação que estará em cartaz nas unidades do Sesc.
No site da mostra, saiba mais sobre os outros espetáculos e seus locais de apresentação.
Os ingressos começam a ser vendidos no dia 05/02/2015, às 14h.