Postado em 01/03/2001
Nenhuma nação pode alcançar o desenvolvimento econômico sem uma forte base educacional. Essa é uma afirmação simples, repetida com insistência por especialistas, educadores e cidadãos preocupados com o futuro do Brasil.
Esse clamor geral, porém, não tem surtido os efeitos desejados, de tal forma que repetir tal pensamento ainda é o mesmo que chover intensamente no molhado.
Como pode o Brasil estar incluído entre as dez maiores economias do planeta se não cuida adequadamente da educação de seus habitantes? Como pretende vencer os desafios que se acumulam em tantos setores da vida nacional se não oferece aos brasileiros um mínimo de cultura e conhecimento? Como poderá manter-se nesse bloco econômico se não consegue emergir do pântano das meras potencialidades?
Analisar a questão educacional brasileira já se tornou um doloroso exercício, sempre premiado por conclusões desanimadoras. Os números não mentem. Segundo o IBGE (1996), 32% dos brasileiros com mais de 15 anos jamais cursaram a escola ou, se o fizeram, não ultrapassaram o terceiro ano letivo. É um dado assustador. O índice corresponde a aproximadamente 50 milhões de pessoas, um contingente de consumidores que pode ser enquadrado na categoria dos praticamente analfabetos.
Os felizardos que conseguem vaga nas escolas encontram um ciclo fundamental, que deveria embasar toda a formação dos brasileiros, com insuficiência de verbas e equipamentos e métodos didáticos anacrônicos. Mesmo assim, ousa promover a aprovação forçada de alunos e utiliza professores que na maioria dos casos têm formação precária e recebem salários indignos.
No ensino básico, em que se incluem a pré-escola e os antigos primeiro e segundo graus, praticamente a metade (48%) dos educadores não tem curso superior, exigido, aliás, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação a partir da quinta série.
No nível médio a situação se complica, já que os alunos nessa fase da aprendizagem não conseguem preparar-se adequadamente seja para o mercado de trabalho, seja para continuar os estudos na universidade.
Diante dessa realidade, não há condições, evidentemente, de construir uma economia competitiva. Faltam profissionais com boa formação técnica, e a desatualização dos currículos faz com que nossos estudantes recebam diplomas já de certa forma obsoletos.
É claro que existem exceções e verdadeiras ilhas de formação e difusão de conhecimento. Há excelentes profissionais educadores, há boas escolas e um sem-número de jovens talentosos que conseguem superar as limitações e atingir níveis invejáveis de conhecimento científico e tecnológico. Mas o país não tem condições de aproveitar seu potencial, e o que acaba ocorrendo é uma verdadeira fuga de cérebros rumo às oportunidades oferecidas pelos países ricos, como registra uma das matérias desta edição de Problemas Brasileiros.
Pode ser um dos efeitos perversos da globalização, mas certamente não ocorreria se o país oferecesse algum amparo a seus melhores talentos, a começar pelo incentivo à pesquisa pura ou aplicada.
Chega-se assim a uma amarga conclusão: parece que o Brasil está irremediavelmente condenado ao atraso. Com efeito, ao descuidar da educação básica, instituiu o conformismo doentio e renunciou ao desejo de sair do buraco. E ao afugentar os jovens talentos, confirmou de vez a desistência de participar de um mundo melhor. Que pena.
![]() |
|