Postado em 05/11/2014
Obras selecionadas dos principais festivais do mundo integram a programação diversa, que vai de 5 a 12 de novembro, no CineSesc
O que é realidade numa obra de ficção e o que parece inventado nos relatos reais se misturam em obras diversas que integram a primeira edição da mostra Documento. Ao todo, são 16 sessões que discutem essa dualidade, em cartaz no CineSesc de 5 a 12 de novembro.
“Queríamos discutir a questão da quase inexistência de limites entre a ficção e o documentário por meio da exibição de bons filmes que ilustram esse tema, já que segundo nosso mestre Jean-Claude Bernardet 'ficção' e 'documentário' são conceitos - e não filmes - engessados, que só dificultam a abordagem dos filmes”, explica Beth Sá Freire, da equipe de curadoria da mostra.
Nesta primeira edição, o público pode contar com obras premiadas e aclamadas - e muito diversas umas das outras. “Existe em todas elas uma grande preocupação estética mas, sem dúvida, a questão política, no que envolve desenvolver consciência, lutar pela vida, buscando o bem comum como sendo um ato político, este também está presente em todas”, afirma Beth.
Na programação há destaques já conhecidos do público, como 'O Ato de Matar' (2012), do diretor Joshua Oppenheimer - com produção executiva de Werner Herzog e Errol Morris. O filme, premiado em importantes Festivais como Berlim, BAFTA, Indie Lisboa e Documenta Madrid (2013), apresenta relatos de militares que participaram do golpe militar de 1965 na Indonésia. Alguns deles concordam não apenas em narrar seus assassinatos brutais, mas em reencená-los diante das câmeras, inspirados pelos filmes americanos que tanto adoram.
Outro filme destacado pela curadoria da Documento é 'À Queima Roupa' (foto principal), de Theresa Jessouroun: “Obra fundamental, de uma coragem imensa, que foi reconhecida no Festival do Rio como o melhor documentário e ainda levou o prêmio de melhor direção à sua autora”, afirma Beth Sá Freire. O conteúdo do longa extrapola toda e qualquer questão relacionada aos limites entre documentário e ficção. Confira o trailer do longa:
Mostra Varan
Dentro da programação da mostra Documento, uma faixa de horário é dedicada a nove filmes realizados pelo projeto Ateliês Varan. A proposta Varan surgiu em 1978, quando a nova República Moçambicana propôs à embaixada da França que enviasse cineastas para filmar as mudanças no país. Em vez disso, um dos convidados, Jean Rouch, propôs a criação de um ateliê para formar moçambicanos que pudessem, eles mesmos, filmá-las. A experiência foi bem sucedida e, em 1981, fundou-se Varan, uma associação de realizadores e técnicos do cinema que organiza ateliês de documentário em várias partes do mundo.
“Varan preconiza um cinema de campo, fundado nas técnicas do cinema direto, na longa duração, na relação continuada com os personagens, na abertura para a contextualização sociopolítica do tema filmado. Essa experiência, longe da velocidade dos jornais televisivos e do culto ao espetáculo, nos leva a pensar o lugar do documentário no fluxo midiático do audiovisual contemporâneo”, explicam Juliana Araujo e Michel Marie, que coordenam a seleção.
A mostra é composta por uma sessão dedicada à primeira geração de cineastas formadores dos ateliês Varan, duas outras dedicadas a uma nova geração que, após passar pelos ateliês como alunos-estagiários, integrou-se ao grupo como formadores, uma a realizadores que integraram-se ao grupo por afinidade com suas propostas e, por fim, duas sessões dedicadas à produção de ateliês desenvolvidos no Vietnã (2004-14) e no Afeganistão (2006-11).