Postado em 22/10/2014
Há 40 anos, o Maluco Beleza lançava Gita, disco referência de sua carreira e um dos expoentes do rock nacional. Para relembrar a importância e, por que não, atender aos eternos gritos de Toca Raul, o Sesc Pompeia recebe projeto com a participação de BNegão, Fernando Catatau e Zé Geraldo
"Hoje é segunda-feira e decretamos feriado”, com um riff de guitarra rock’n’roll e esta frase, Raul Seixas meteu o pé na porta da indústria fonográfica nacional. Super-Heróis, canção de abertura do disco Gita, é uma mistura poderosa de imagens surreais e oníricas, porém, ao mesmo tempo, absolutamente banais e cotidianas. As 11 faixas seguintes ficariam gravadas para sempre na memória musical dos brasileiros e mergulhariam o ouvinte em um universo no qual tudo pode acontecer, afinal, “faze o que tu queres, pois é tudo da lei”.
O segundo álbum solo do roqueiro baiano reverberou em nossos ouvidos oprimidos em 1974, conturbado ano de transição do período de chumbo de Médici para a “distensão” de Geisel. Aos 29 anos e recém-chegado do exílio, Raul imprimiu nesse trabalho toda sua indefectível concepção anárquica, um grito extremo de liberdade, que o alçou a expoente da contracultura no país.
Gita é o maior sucesso comercial de sua carreira e ultrapassou no ano de lançamento as 100 mil cópias vendidas, uma marca importante em um país que vivia sob a sombra de uma pesada censura. O disco trazia complexas alusões às culturas orientais, esoterismo, misticismo, surrealismo, ocultismo e referências às obras dos controversos Carlos Castañeda, Salvador Dalí e Aleister Crowley; além disso, era carregado de críticas sociais ácidas, cortesia do próprio Raul e de Paulo Coelho - parceiro e letrista que assina boa parte das músicas neste álbum - que viria a se tornar um dos escritores mais vendidos do país. A canção título, por exemplo, tem inspiração em textos hindus do Bhagavad Gita.
O disco é libertário também musicalmente. Representa um refinamento em relação ao disco anterior, com influências musicais que variam de extremos espectrais: de Elvis Presley a Luiz Gonzaga. O rock para Raul era a “cola” que possibilitava juntar todas as sonoridades e rítmicas, do regional ao universal. Produzido por Marco Mazzola, Gita também trazia uma grande variedades nos arranjos, com orquestrações, violas, metais, percussão e até harpas, além do toque country da guitarra de Rick Ferreira, fiel escudeiro de Raulzito.
Para celebrar esse marco na música brasileira, o Sesc Pompeia, recebe o projeto “Gita – 40 anos” em duas apresentações, dias 31 de outubro e 1º de novembro, às 21h30.
A direção artística e a produção musical são do produtor, diretor, músico e compositor Xuxa Levy. No palco, BNegão, Fernando Catatau, Maurício Pereira, Rubi e Zé Geraldo soltam a voz, acompanhados por Xuxa Levy (teclados), Carneiro Sândalo (bateria), Tuco Marcondes (guitarra), Fernando Nunes (baixo), Will (trombone), Maurício Caruso (violões), Sidmar Vieira (trompete), Denilson Martins (sax e flauta) e Gustavo Cék (percussão).
“Raul Seixas estava muitos anos à frente de seu tempo. Sinto esse disco com o frescor dos dias de hoje e o vejo como uma forma de reflexão da condição cultural, política, espiritual e humana da sociedade brasileira. Como o 'Maluco Beleza' tinha muitas facetas, o meu maior desafio foi escolher músicos que, de certa forma, fossem seduzidos pelo estilo do mestre”, afirma Levy, idealizador do espetáculo.