Postado em 27/09/2014
O Festival da Integração põe o bloco na rua e anima a última tarde de encontros no Sesc Bertioga
Uma rápida busca no internet pelo termo "velhice" retorna significados absolutamente questionáveis. Ah, a velhice. Ser uma ruína do que se foi, render-se aos anos, carregar o peso dos janeiros... Tudo isso é uma bobagem. Pelo menos é o que diriam alguns dos 700 idosos que começam a se despedir do Festival da Integração, na tarde desse sábado, 27 de setembro. “Quem foi que disse que janeiro é pesado, moço?”
O apito do mestre Chicão avisa: vai sair o cortejo. Quatro dias de ensaios e tudo está afinado. Tem tamborim, tambor, chocalho, óculos coloridos, perucas, fantasias, roupa de festa, brilhos e flores. Olha lá, o Homem na Agulha também veio! Cada quadrado feito em crochê foi se unindo como um sonho que se tece junto e que agora é vestimenta. É roupa feita com histórias de vida. Todo mundo quer foto com o professor, menos a dona Anna Lanzana, que veio de Bauru: “Chega de foto, chega! Daqui a pouco o meu Facebook vai estourar de tanta foto, gente. Tem foto de cima até embaixo”. Ok Dona Anna, sem fotos.
E o cortejo segue pela marquise. Logo atrás vem um mar bordado de sonhos. O resultado da vivência Uma Vida Bordada também se une ao carnaval do Sesc Bertioga e carrega suas histórias pelas alamedas. A chuva não atrapalha nem um pouco.
Lá vem a Dona Wilma, que sonhou um dia em ser cantora. Lá vem a Dona Gleusa, que trouxe o Galvino pra cá sem avisá-lo que era um encontro de idosos. “Ele se acha um meninão, sabe? Não ia querer vir se eu falasse antes”. E o Galvino não gostou? “Até que é gostoso aqui, né?”. Lá vem a Dona Adeli e o Sr João, carregando cinquenta janeiros juntos sem sentir qualquer peso. “Vamos planejar os próximos 50 agora”.
Atrás deles, a Antônia e o Walter, que se conheceram no Festival da Integração de 2010 e estão juntos desde então. “Rapaz, em 2010 eu tava doente... Precisava de um remédio que era muito caro, e o médico mandou eu procurar uma assistente social. Mas aí eu tinha que vir pra cá e não procurei. Encontrei minha assistente social aqui... E desde então não tomo remédio, não vou ao médico, não tô doente”, conta o simpático Walter, que faz corrida no Sesc Interlagos, enquanto a Antônia faz caminhada.
Os casais, os amigos, os encontros, os sonhos, tudo isso faz a cara do Festival. E é isso que a Dona Ivanilde, que veio com o Sesc Santo André, vai levar na bagagem amanhã: “Vou levar as boas lembranças e os amigos que a gente faz aqui. Conheci gente de Birigui, de Catanduva. Foi uma semana muito boa”.
A integração se faz quando todos olham para o mesmo lado, e todos estão olhando para novas oportunidades. Seja onde o futuro estiver, todos vão buscá-lo a partir de agora. Nos novos conhecimentos tecnológicos, nas linhas, cores, desenhos e histórias - seja do crochê, do bordado, ou do filtro dos sonhos que coloriu a árvore no Sesc.
O carnaval de hoje é uma celebração ao tempo. Não aquele que passou, mas o que está passando, na medida em que adentramos o futuro e o transformamos em presente. O carnaval de hoje não acaba aqui, mas seguirá presente no coração de cada participante. As malas voltam pras suas cidades com uma única certeza. A de que o nosso tempo é sempre o hoje.
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O Festival da Integração é um evento que acontece duas vezes no ano, uma em maio e outra em setembro, reunindo, a cada edição, 700 idosos frequentadores das Unidades do Sesc em São Paulo, com a finalidade de consolidar as ações permanentes desenvolvidas através do Programa Trabalho Social com Idosos – TSI. Durante seis dias, é oferecida uma programação especial que fortalece os objetivos da ação do Sesc junto a esta população. Além de usufruírem das instalações e ambientes do Sesc Bertioga, os idosos têm a oportunidade de participar de atividades de várias modalidades e linguagens, tanto esportivas, de lazer, como artísticas. No ano de 2014, o objetivo central é a reflexão sobre as possibilidades de novos projetos de vida, estimulando um pensamento sobre a longevidade e a busca de realização também na maturidade. Sendo assim, o tema abordado é Meu tempo é hoje, e tem as principais ações realizadas através de oficinas e vivências com características práticas e reflexivas.