Postado em 28/08/2014
	
	My Claire Bloom Don’t Look Back In Anger
	Descabida a cálida esperança
	em ter de volta
	o mísero sentido de gesto
	o martírio de Marte
	em infantil lírio
	jubilado em jade
	melancolizado em vidro
	ao seu lado partido
	Desesperadora oração de lágrimas
	exasperada no deserto alado
	da Symphony No.4 de Brahms
	soprando o ouro despedaçado
	de nossas vidas
	por mais que sua lua em touro
	nutra o prazer
	da escultura assassina 
Navegação da Flauta De Fogo
	A totalidade, a radiação, a harmonia
	em seu rosto
	do cristal dos incêndios
	vento de fragmentos
	de sal e São Tomás de Aquino
	Na garoa dos suspiros encantados
	nos dedos liláses de suas sutilezas
	no absoluto suor das unhas
	carpindo os segredos
	de sangue e Hieronimous Bosch
	Ah, era assim, o corte,
	derme desenfreada do Sim,
	iluminado êxtase
	em ametista silenciosa
	na claridade sem confins
Luz barulhenta da juventude
	raio que me parte
	em poderosa petrificação
Dignidade Em Latido De Sílex
	Os poros das folhinhas pisoteadas
	pareciam se igualar
	ao desesperador inconformismo
	em ter perdido
	a terra dos sentidos
	Naufrago em naufrágios
	na água réptil
	a assustar a fragilidade
	do coração de vento
	debochado fogo a fogo
	pela resplandecente
	matéria da cinza
	Os muros do mar
	antigos biombos de nossos labirintos
	uivavam de silêncio
	na seda do luto
	que abordava a plena insensatez
	da miséria
	do dia vegetal
Ao Compasso Das Ruínas De Uma Peça Expressionista
	Acordado, dilatado no sono
	flutuava
	na esteira do sonho
	de cacos de vidro fumê
	no corte
	da corte
	em que representavas
	a eternidade do amor
	(Plateia de insônia ria, latia
	traduzia fantoches,
	fantasmas,
	fábulas de Schopenhauer
	que traíram a si mesmas)
	Regressava ao odor lilás
	de nosso primeiro beijo
	corda-de-cardos
	onde
	entre cravos
	me segurava
	sem mais conter
	o sangue da loucura
	O silêncio do ar
	parece rachar
	o abandono
	dos meus sentimentos
	A cabeça conclusivamente vazia
	ilha de fel feliz
	resignada
	sem soluções
	sem as cercas dos dias
	O olhar ao nível da terra
	plenitude roxa
	a arder de esquecimento
	
	Nada ao lado de nada
	é a pedra
	a rigidez da sua lava
	que afasta 
	quem contempla o rosto
	
	Luz eneblinada
	quase faz com que o ar
	se recolha dentro de si
	
	Claridade insuspeita
	egressa do cinza
	rima hermética
	inerte
	num facho de sol
	
	Minúsculo calor opaco
	partículas de frágil resistência
	onde a alma de pedra
	boia
	fita a neutralidade
	de todas as coisas
	
	e se apoia
	
	
	Fernando Naporano, poeta, é autor de A Agonia dos Pássaros (Demônio Negro, 2014)