Postado em 26/08/2014
Na França dos anos 1920 o cinema era mudo e as sessões de sábado à noite eram assistidas pela população acompanhadas da trilha musical tocada ao vivo. Eram conhecidos como os "encontros de sábado à noite". Com o passar dos anos, os filmes incoporaram, além das cores, o áudio, e a fórmula de uma banda tocando ao vivo só veio reaparecer nos anos 1990 com a chegada dos cine-concertos.
Nesta terça-feira, 26/ago, a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo trouxe a Trupe Chá de Boldo com seus estilos variados para interpretar um clássico do cinema e reviver o contagiante cine-concerto de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, de Mel Stuart (1971).
Em conversa com os músicos Gustavo Cabelo, Tomás Bastos, Felipe Botelho e Remi, que compõem parte da Trupe, pudemos saber mais detalhes deste trabalho executado no Anfiteatro da Bienal.
Os músicos contam que o filme é muito colorido e bastante artístico, o que pode ser um elo de ligação ao trabalho da banda. Porém, o clássico trabalha muito a moral de maneira diferente dos músicos, então, na verdade, a ideia foi dar outro sentido ao clássico. “A gente quis mudar um pouco o sentido do filme, toda vez que uma criança sai de cena tem sempre uma canção com uma moral, e aí a gente fez a nossa trilha com as nossas letras, a gente subverteu essas questões morais”, conta Gustavo Cabelo.
O áudio com as falas é mantido na apresentação interativa e o filme não é exibido totalmente mudo. Os diálogos foram aproveitados e algumas partes com música foram substituídas pela nova interpretação. Neste caso, o cine-concerto não é restrito aos cinéfilos, pois o grupo criou um novo diálogo com a plateia, atualizando a linguagem com a contemporaneidade de sua música. Alguns acontecimentos atuais, como os protestos ocorridos no ano passado, serviram de pauta para criarem um novo contexto, como a inserção dos black blocks e outras questões que estavam bastante em alta.
Outra característica é a participação da Trupe de forma marcante nesta programação. “No filme as músicas não são somente trilhas. Ele também é um filme musical, tem momentos em que se assemelha até a um show”, explica Tomás Bastos demostrando que a música torna-se, por muitas vezes, o foco principal, e isso envolve ainda mais o público.
Perguntados sobre a possibilidade de exercerem suas habilidades como escritores, os artistas relatam que escrever poesias, diários ou outros formatos deste tipo, não é uma realidade assim tão distante. “A palavra sempre foi uma coisa muito forte pra gente (...) de alguma forma já brincamos com as palavras”, diz Felipe Botelho, comprovando ainda mais as múltiplas habilidades da banda.
Para finalizar, mas ao mesmo tempo para inspirar novas ideias, que tal transformar a linguagem de uma música em livro? Felipe sugere “She's leaving home”, dos Beatles, curioso para entender porque na música “ela” está querendo ir embora. Cita ainda o músico e compositor Itamar Assumpção, imaginando um filme inspirado em um de seus primeiros LP's: Beleléu, Léu, Eu (1980) e propondo uma relação interessante. Boa ideia! Alguém tem mais alguma sugestão?
Histórias por trás das histórias conta um pouco da trajetória de alguns dos autores das Edições Sesc. Luiz Nadal, com suas pequenas epopeias, Cris Lisboa e Marília Pozzobom, com perfis jornalísticos, revelam os perfis dos escritores. Acompanhe!
Conheça também a série Protagonistas da Bienal, que apresenta o público, personagens essenciais para que esse grande evento aconteça.